Qual o futuro do bolsonarismo após derrota na eleição?
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Qual o futuro do bolsonarismo após derrota na eleição?

Jair Bolsonaro saiu derrotado 
em sua tentativa de reeleição. Mas os mais de 58 milhões de votos 
recebidos pelo presidente, e a eleição   De 15 governadores aliados e de mais de uma 
centena de parlamentares do PL mostram que   O bolsonarismo deve seguir vivo nos próximos anos 
como uma das principais forças políticas do país. Eu sou Thais Carrança, repórter da BBC 
News Brasil em São Paulo, e conversei com   Estudiosos do bolsonarismo e com bolsonaristas 
para entender o que pode vir pela frente. Mas primeiro, o que é o bolsonarismo? O bolsonarismo é uma coisa complexa. Não é 
simplesmente um discurso em torno do núcleo   De valores conservadores. Tem esse núcleo, 
que é um deles, mas tem outros núcleos. Tem o discurso dos valores da família,   Que congrega muito evangélicos e católicos 
conservadores também. Tem esse discurso da   Segurança, das armas, que congrega 
bastante gente que é “milicófila”,   Que tem “filia” pelo militarismo. Tem uma turma que é a questão da 
corrupção, obviamente, isso está   Mais ligado a um antipetismo muito radicalizado né
O professor João Feres me falou também que outra   Característica fundamental do bolsonarismo é sua 
estrutura de comunicação, formada por um tripé: Redes sociais; canais de TV aberta 
e a cabo como Rede TV, Record,   SBT e Jovem Pan; e as igrejas evangélicas e 
movimentos conservadores da Igreja Católica,   Que dão capilaridade às mensagens bolsonaristas. Para a antropóloga Isabela Kalil, o traço mais   Marcante do bolsonarismo é 
seu viés antidemocrático. De 1988 para cá, nós tínhamos um 
processo, digamos, de ampliação   Da democracia. Com desafios, claro
E o que que a gente tem agora? Um novo   Paradigma na política em que, pela primeira vez 
abertamente um político faz apologia à tortura,   à ditadura militar e se coloca de maneira 
contrária àquelas conquistas democráticas   Que foram, enfim, consolidadas nas últimas décadas Diante da expectativa de parte da esquerda de 
que Lula pudesse ser eleito já no primeiro turno,   O país se deparou com uma 
realidade muito diferente: Bolsonaro com uma votação bastante superior ao 
que sugeriam as pesquisas eleitorais e um forte   Resultado de candidatos a governador, 
deputado e senador apoiados por ele. Desde então, também acompanhamos 
a onda de protestos em todo o   País questionando o resultado da 
eleição e em apoio ao presidente. Tem uma coisa que essa eleição revelou 
que é o fato que a gente precisa talvez   Pensar o que a gente está nomeando 
como bolsonarismo como um fenômeno  

Que transcende a própria figura de Jair Bolsonaro A professora Isabela Kalil falou que um exemplo 
disso é o número recorde de eleitos para o   Congresso e assembleias com passagem pelas 
Forças Armadas e pelas polícias. Serão 103   Representantes desse grupo conhecido como 
“bancada da bala” na próxima legislatura. Eu perguntei sobre o resultado das 
eleições também ao Antônio Flávio Testa,   Um cientista político próximo ao bolsonarismo. O perfil do eleitorado brasileiro e da 
população brasileira é de fato conservador.   Sempre foi assim. Mas nos últimos 25 anos houve 
um predomínio dos partidos chamados de “esquerda”,   O PT e o PSDB. E houve, evidentemente, um 
encolhimento na própria população de colocar   Suas ideias. As pessoas ficavam às vezes até sem 
vontade de colocar suas ideias. Mas com a ascensão   Do mundo evangélico na política, com a ascensão 
de alguns partidos que ocuparam esse espaço que   A gente chama de “conservador”, é possível que 
a partir de agora, a partir do ano que vem,   Você tenha no Brasil já uma configuração mais 
delineada de perfis políticos conservadores. Diante da força revelada pelo 
bolsonarismo nas urnas esse ano,   A dúvida agora é se a coesão desse grupo se mantém 
sem Bolsonaro à frente do Executivo federal. Perguntei sobre isso ao Luiz Philippe de 
Orleans e Bragança, herdeiro da família   Imperial brasileira e deputado federal 
bolsonarista, reeleito pelo PL de São Paulo Certamente que uma parte da direita é 
corrupta. Certamente vai se corromper   E vai fazer alianças com o governo do Lula. 
Isso aí não tenha dúvida. Até alguns partidos,   Líderes de partidos que fazem parte da coligação 
hoje que está ajudando a eleição do presidente   Jair Bolsonaro têm tradição de acompanhar 
o poder. Eles não têm tradição ideológica.   E o que a gente precisa é de uma direita 
ideológica. Ia fazer bem até para a esquerda Ou seja, no Congresso a expectativa é de que   Parte da força bolsonarista se 
dissipe em meio ao fisiologismo. Mas, na sociedade em geral,   Qual o potencial de mobilização da direita 
mais radical, após a saída de Bolsonaro?  Aqui, vamos ouvir de novo o cientista 
político conservador Flávio Testa O Brasil tem uma capacidade instantânea de se 
mobilizar, mas tem uma doença política terrível   Que é a dificuldade de se manter mobilizado.
Vai ter que ter algum catalisador para fazer   Com que haja alguma mobilização, 
a favor ou contra o governo.  A professora Isabela Kalil também 
vê outros pontos de dúvida para o   Futuro da mobilização bolsonarista.
Ela cita, por exemplo, que parte das   Lideranças evangélicas já fizeram parte da 
base do PT. E não teriam por que se colocar   Como oposição a Lula, caso ele faça um governo 
mais conservador, como parece que vai ser o caso,  

Diante da grande coalizão que elegeu o petista.
A base conservadora, só ela em si, não é   Suficiente para dar coesão para o bolsonarismo. 
Agora, existem outros setores que sim. Porque eles não só contrários à atuação 
específica do Partido dos Trabalhadores,   Ou da esquerda ou de um governo de centro. Eles 
são contrários às instituições. A gente   Está falando de fechamento da Suprema Corte, 
fechamento do Congresso. Ou seja, eles são   Contra o sistema em si, a democracia em si.
Se tem uma coisa que os estudiosos do   Bolsonarismo e os bolsonaristas concordam 
é que, com Bolsonaro fora da Presidência,   A disputa pela liderança da direita 
no campo político é inevitável.  Mas o professor João Feres acha que outras 
figuras vão ter dificuldade para conseguir   Agregar os diferentes grupos da 
direita como conseguiu Bolsonaro  O Bolsonaro mostrou que há a possibilidade 
fazer esse tipo de síntese, por mais que   Seja uma síntese altamente tóxica para a democracia e para a República brasileira, ele mostrou que há viabilidade no Brasil para fazer essa síntese Só que eu acho que funciona com ele muito 
bem porque ele é um cara que, a despeito dos   Seus shortcomings, como se diz em inglês, dos 
seus múltiplos defeitos, é um cara carismático  Já o deputado Luiz Philippe e o cientista político 
Flávio Testa citam nomes como Tarcísio de Freitas   E Romeu Zema, governadores eleitos por São Paulo 
e Minas, como possíveis sucessores de Bolsonaro.  Talvez o Jair esteja construindo 
o Tarcísio para isso,   Já tenha a visão dele. E enfim… Também 
a minha crítica é que eu nunca vi direita   Que é tudo funcionário público, né? São 
todos ex-políticos, ex-militares, ex-policiais,   Ex-burocratas. Tudo isso é a direita? Pera aí!
Depois do Bolsonaro, vão surgir novos líderes. É   Natural isso. Se você ver as pessoas que estão 
surgindo, elas virão a ocupar o espaço. Quem   Tem dificuldade de formar lideranças é o PT, é o 
Lula. Tem 50 anos que o Lula influencia a política   Brasileira e ele não deixa surgir nenhum sucessor.
Para terminar, eu perguntei à professora Isabela   Kalil sobre qual será o papel do antibolsonarismo.
Uma pesquisa Atlas realizada pouco antes do   Segundo turno mostrou que o antibolsonarismo é 
atualmente uma força maior que o antipetismo. Acho que a questão desse “freio”, digamos assim, 
vai ter que passar por uma reconstrução da   Democracia. E isso não tem a ver só com 
a sociedade civil. Então, por exemplo,   Uma das coisas que eu acho que são fundamentais 
para a reconstrução da democracia no Brasil é   O Brasil, como sociedade, rever a questão 
da atuação dos militares na política. Então eu acho que o projeto de reconstrução ele 
passa por uma quantidade de fatores que têm a ver   Com políticas e com questões institucionais. Ou 
seja, não basta só a atuação da sociedade civil   Para conter essa atuação do bolsonarismo.
Então é isso. Qual você acha que vai ser o futuro do bolsonarismo? Escreve pra gente aqui nos 
comentários! Obrigada e até a próxima

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