Por que tantos evangélicos brasileiros apoiam Israel
Líderes evangélicos brasileiros já deram
diversas demonstrações de apoio a Israel No atual conflito com o Hamas O pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, por exemplo, contou que
tinha amigos e familiares fazendo turismo em Israel e escreveu uma prece no Instagram
pedindo para Deus “esmagar o inimigo” Já o bispo Samuel Ferreira,
da Assembleia de Deus do Brás, Em São Paulo, pediu orações e disse
que o país “sobreviverá a isso também” O apoio não é uma surpresa. A presença
de bandeiras de Israel e de símbolos Como a estrela de David se tornou uma cena
comum em eventos de diferentes denominações Meu nome é Letícia Mori, sou repórter da
BBC News em São Paulo, e neste vídeo eu Vou explicar quais as origens da defesa de
Israel por tantos evangélicos brasileiros Eu conversei com pastores, teólogos e
pesquisadores que explicaram de onde Vem essa proximidade e qual o significado dela
O pastor e teólogo Guilherme de Carvalho diz que, Na visão de evangélicos como ele, as origens
judaicas do cristianismo dão um lugar especial Ao povo judaico nos planos divinos
“A questão existencial de Israel é Importante para o cristianismo. Porque
o cristianismo saiu da nação judaica, Porque o cristianismo perseguiu a nação
judaica (e depois se emendou) e porque Existem razões teológicas para acreditar que
a nação judaica tem ainda um destino cristão.” Pastores e teólogos me explicaram que a
ideia de assegurar a existência de Israel Faz com que muitos evangélicos apoiem não só o
judaísmo histórico como também o Estado moderno. Isso valida o comportamento nacional de Israel?
Não, isso é outra história. Mas se existe uma Ameaça existencial ao povo judeu encarnado nesse
Estado, então isso importa para os cristãos.” Um fator que reforça essa identificação
é que diversas correntes evangélicas dão Bastante importância a valores e símbolos
do Antigo Testamento – que tem uma visão De Israel como a terra prometida e do
povo judaico como escolhido de Deus. Isso está muito presente entre os
neopentecostais, mas também acompanhou Missionários de outras denominações desde o século
19, segundo a antropóloga Jacqueline Teixeira. Muitos desses missionários vieram dos EUA, onde
essa identificação com Israel é forte até hoje. "É nesse período que surge uma inspiração
protestante de construir uma relação com o Antigo Testamento, com trechos específicos do Antigo
Testamento, então as batalhas do povo de Israel, O período de Escravização, a passagem dos judeus.
Tentando trazer sempre essa interpretação de que O processo de libertação instauraria um
Estado Literal e seria o cumprimento de Uma promessa de Deus do Antigo Testamento.”
Foi também no século 19 que surgiu um outro Tipo de pensamento que influencia até hoje
a visão de muitos evangélicos sobre o tema É uma corrente teológica que enxerga Israel
como uma espécie de relógio do fim do mundo.
Teólogos evangélicos me explicaram que essa
corrente é chamada de “dispensacionalismo” O dispensacionalismo surgiu nos EUA quando
períodos de escassez e crises econômicas fizeram Religiosos se concentrarem na interpretação
de profecias e previsões sobre o apocalipse E uma dessas profecias dizia
que, antes do fim do mundo, Deus faria com que seu povo
voltasse para a terra prometida A criação de Israel em 1948 foi lida
como o cumprimento dessa profecia É como se o relógio do apocalipse
tivesse sido disparado quando Israel Foi criado. E um religioso apoiar o Estado
indicaria que ele é fiel ao povo de Deus Essa corrente é bastante popular entre cristãos no
Brasil, me disse o pastor e teólogo Kenner Terra Isso vale tanto para evangélicos neopentecostais
quanto para religiosos do protestantismo histórico Kenner Terra diz que muitas vezes as
pessoas não sabem o nome ou a origem do “dispensacionalismo”, mas aderem a essa visão “Quando esse projeto para Israel é tratado de Maneira especial, como o dispensacionalismo faz,
logo, todas as leituras em relação a Israel são Sempre muito acríticas. Você percebe as pessoas
reproduzindo sempre uma tendência de olhar.” Essa identificação com Israel não
é exclusiva ao Brasil tem sido a Base de posicionamentos de políticos com
forte ligações com correntes evangélicas, Como é o caso da família Bolsonaro e seus aliados.
Essa visão, no entanto, não é unânime entre os Evangélicos. Muitos pastores fazem críticas
ao apoio às políticas do Estado de Israel. “Há uma confusão entre a ideia do povo de Deus
do velho testamento, dos descendentes de Abrahão E do atual e moderno Estado de Israel. Essa é uma
das grandes confusões da igreja evangélica hoje. São coisas que devem ser separadas, mas que
no meio evangélicos estão muito misturadas. Dentro da comunidade judaica, as visões sobre o Apoio de evangélicos a Israel variam.
Em geral, ele é considerado bem-vindo. “E obviamente todo apoio para Israel é importante, Ainda mais em um momento tão difícil como este,
de guerra, da forma como estamos sendo tratados E o crescimento do antissemitismo que cresce
no mundo todo e no Brasil não é diferente.” “Nesse momento estamos muito unidos
politicamente com os evangélicos no Que diz respeito ao Estado de Israel. A
comunidade judaica é uma comunidade com Todas as linhas políticas, não somos um
bloco único que vota igual. (…) A gente Não discute política nacional com eles,
não é nosso papel, mas o apoio a Israel, Que eles dão de forma irrestrita, é muito
importante para a gente nesse momento.” Por outro lado, há pesquisadores judeus e membros
da comunidade que, embora não rejeitem o apoio, Se incomodam com o que consideram uma visão
mística de alguns religiosos evangélicos Sobre um “judeu imaginário” e de uma
Israel “mítica”, longe da realidade.
Eu não vejo problema da pessoa gostar
de Israel, querer ir pra Israel, Israel é um belo país (…) Agora, na cabeça de
uma parte desse pessoal existe uma Israel mítica, Que acha que é aquela coisa do grupo predestinado. Quem que é o judeu? Judeus são muitos povos com
muitas cabeças, com muitas coisas diferentes. Tem judeu mais religioso, o judeu mais ateu, tem o
mais de esquerda, o mais de direita. Mas na cabeça Duma parte desses religiosos e da parte uma parte
da comunidade judaica fica parecendo que quem não Concorda com eles não é judeu. Eu me sinto muito
judeu, tenho muito orgulho de ser judeu.