Por que Rússia tem cada vez menos russos e preocupa Putin
Faz muitos anos que Vladimir Putin expressa
preocupação com o tamanho da população russ Nos três anos que se passaram desde esse
discurso de Putin, um conjunto de fatores Fez o país perder entre 1 e 2 milhões de
pessoas. E o número de nascimentos é menor do que
o número de mortes, o que significa que não Tem havido crescimento natural da população. Com a baixa natalidade, a ONU projeta que, em 2050 a Rússia pode ter, num cenário conservador, 10 milhões de pessoas a menos do que tem
hoje. Eu sou Paula Adamo Idoeta, da BBC News Brasil,
e neste vídeo explico: Por que a Rússia tem cada vez menos russos? Adianto que alguns desafios são parecidos
com os de muitos outros países. Mas outros problemas são bem específicos
da Rússia. Começando pela história recente, repleta
de eventos que tiveram impacto direto na natalidade por lá. Na Segunda Guerra Mundial, nenhum país do
mundo perdeu tantas vidas quanto a antiga União Soviética, que incluía a Rússia:
foram entre 24 milhões e 27 milhões de mortes De civis e militares soviéticos. Foi também um período em que poucas crianças
nasceram no país. Segundo dados citados pelo próprio Putin,
a taxa de natalidade em 1943 era de apenas 1,3 filhos por mulher. O período do pós-guerra trouxe um aumento
nas taxas de natalidade, assim como no resto do mundo. Mas essas taxas não se sustentaram por muito
tempo: estagnaram nos anos 60 e despencaram No final da década de 1990, depois do colapso
do regime soviético e da grave crise econômica Que afetou a Rússia. Esses eventos acabaram tendo impacto nas gerações
seguintes, segundo explicou o demógrafo Alexei Raksha ao Serviço Russo da BBC. Veja só um exemplo que diz respeito ao grupo
populacional das mulheres em idade fértil: Se não tivesse ocorrido a queda drástica
na natalidade no fim dos anos 90, estima-se Que o país teria, até 2030, 40% a mais dessas
mulheres. E, além de haver atualmente menos pessoas
em idade reprodutiva, essas pessoas também Estão tendo menos filhos. O resultado é que a última vez em que a
taxa de natalidade teve um crescimento sustentado De vários anos foi no início da década de 2000. Desde 2015, ela tem caído sem parar. E se o problema preocupa Putin, como eu comentei
no início deste vídeo, o que ele propõe Fazer a respeito?
Desde que foi eleito, na década de 2000,
ele implementa medidas econômicas para estimular Os russos a terem mais filhos. A mais importante delas foi batizada de matkapital,
que prevê subsídios para famílias com duas Ou mais crianças. O demógrafo Alexei Raksha diz que no início
a medida teve o efeito desejado: mais crianças nasceram. Isso, junto com um boom na imigração de
ex-repúblicas soviéticas, fez a população aumentar. Mas com o passar do tempo a iniciativa foi
perdendo eficácia, mesmo tendo sido estendida Também a pais que tiveram um primeiro filho
ou adotaram. Mais recentemente, Putin anunciou transferências
de renda mensais para famílias carentes com Crianças até 17 anos. E, em janeiro deste ano, ele encomendou mais
propostas focadas no aumento das taxas de natalidade. Mas ele constantemente ressalta sua visão
de que a população não tem crescido o bastante Para criar uma Rússia forte: Como disse Putin, é um problema comum entre
muitos vizinhos. E mesmo países longe da Rússia, como o Brasil,
também já têm taxas de natalidade inferiores A 2,1 filhos por mulher, que é o nível mínimo
para repor a população que morre. É um cenário que tem despertado debates
globais a respeito de como os sistemas de Saúde e previdência social vão sustentar
um número crescente de idosos, com uma população Em idade produtiva que não para de encolher. E talvez você esteja se perguntando: como
a guerra com a Ucrânia entra nessa história? Isso é algo que está sendo analisado pelos
demógrafos. Por enquanto, o conflito, com seus desdobramentos
sociais e econômicos, tem tido um impacto Pequeno na taxa de natalidade russa. Mas existe, sim, a preocupação de que a
guerra agrave a crise demográfica, ao menos No curto prazo. E não só porque a estagnação econômica
causada pelo conflito pode desestimular russos A terem filhos, mas porque as mortes nas frentes
de batalha diminuem a quantidade de homens Em idade reprodutiva. A Rússia não divulga quantos soldados perdeu
na guerra. O serviço russo da BBC já identificou 22
mil e 600 homens que foram mortos em combate. Dados levantados pela revista britânica The
Economist estimam que o total de mortos pode Ser de até 250 mil soldados russos até agora,
embora não haja confirmação oficial disso. Fora que a guerra provocou o maior êxodo
de russos na história recente do país: algumas Estimativas apontam que mais de 1 milhão
de pessoas deixaram a Rússia.
São principalmente homens jovens, que foram
embora para não serem convocados para combater Na guerra. Em contrapartida, a guerra fez a Rússia receber
um influxo de quase 3 milhões de refugiados Vindos da própria Ucrânia. Eles talvez acabem sendo incorporados à população
e tenham filhos, mas até o momento só algumas Centenas de milhares deles viraram cidadãos
russos. Outro acontecimento recente que agravou a
crise demográfica foi a pandemia. Oficialmente, foram 388 mil mortes por covid
por lá, mas muitos especialistas e estatísticos Acham que o número real deve ser muitas vezes
maior, já que a Rússia foi um dos países Mais duramente afetados pela doença. E por quê? Bom, especialistas apontam uma combinação
de problemas, principalmente dois: uma condução Errática de políticas públicas e uma vacinação
lenta, já que muitos russos viam com ceticismo A vacina local, a Sputnik. A The Economist estima que o excesso de mortes
na Rússia entre 2020 e 2023 – ou seja, mortes Que não teriam acontecido se não fosse a
pandemia – chegou a 1,6 milhão de pessoas. É um número comparável ao dos Estados Unidos
– que têm uma população mais de duas vezes Maior do que a russa. Juntando isso com as mortes da guerra e o
êxodo recente de russos, chegamos àquela Cifra que eu mencionei no começo do vídeo:
a Rússia pode ter ficado, nos últimos anos, Com até 2 milhões de pessoas a menos. Todo esse quadro criou o que a Economist chama
de “pesadelo populacional”, que tende A continuar a assombrar Vladimir Putin nos
próximos anos. E não se trata apenas de menos nascimentos,
mas também de vidas encurtadas. Dados oficiais mostram que a expectativa de
vida de homens caiu de 68,2 anos em 2019 para 65,5 em 2021 – em parte por causa da covid,
mas também por doenças relacionadas ao álcool. Na média, os homens russos têm vivido seis
anos a menos que os de Bangladesh e 19 anos A menos que os japoneses. Por hoje eu fico por aqui, mas espero que
você tenha achado este vídeo interessante. Obrigada pela audiência e até a próxima.