Por dentro da 'machosfera', onde homens debatem reação ao feminismo

Por dentro da ‘machosfera’, onde homens debatem reação ao feminismo

Eu mergulhei na machosfera – o universo virtual
onde homens falam abertamente dos seus receios Com as transformações nos papéis de homens
e mulheres na sociedade Eu conversei com homens que diminuíram suas
interações com mulheres por medo de serem Cancelados ou acusados injustamente de assédio Esse medo levou alguns até a instalar câmeras
dentro de casa Eu como professor para várias disciplinas,
João, eu te confesso, eu não dou aula mais Para mulher sozinha Neste vídeo vou falar de homens que dizem
se sentir oprimidos por serem homens Muitos deles inclusive acreditam que existe
um grande complô feminino pra dominar o mundo Eu investiguei essa história para um episódio
do nosso podcast Brasil Partido Vou deixar o link do podcast aqui na descrição Nas últimas décadas, as mulheres conquistaram
direitos e avançaram no mercado de trabalho Isso é bem visto por boa parte da sociedade Mas, para um grupo de homens, as mudanças
os prejudicaram e criaram distorções Esse mal-estar masculino gerou uma contra-ofensiva Homens que se sentiam deslocados ou injustiçados
recorreram a fóruns na internet pra compartilhar Dicas sobre como reagir a essas mudanças
e se portar em relacionamentos com mulheres Pra batizar essa corrente, o grupo recorreu
à metáfora da pílula vermelha do filme Matrix A ideia é que, tomando essa pílula – o que
eles fariam simbolicamente frequentando esses Fóruns e absorvendo essas ideias – os homens
conseguiriam sair do mundo das ilusões e Veriam a realidade como ela é: Uma realidade que eles acreditam ser hostil
aos homens Foi assim que surgiu a Red Pill – que no Brasil
ficou mais conhecida como red pill Eu conversei sobre a Red Pill com Téo – o
codinome virtual de um homem carioca que frequenta Fóruns masculinos há bastante tempo Ele me pediu que não revelasse o nome verdadeiro dele Téo diz que espaços como os da Red Pill
servem para que homens alertem uns aos outros Sobre perigos que eles correm em relacionamentos
com mulheres Nós passamos para o outro, para o incauto,
para aquele que não tem experiência, como é que essa situação se desenvolve e qual
a consequência que essa situação em que Aquele indivíduo vai se envolver, o quanto
ele pode estar se colocando em perigo Téo me disse que também é adepto de outra
filosofia que ele conheceu nos grupos virtuais O MGTOW Essa é a sigla pra expressão em inglês
Men Going their Own Way – ou, traduzindo,

Homens seguindo seu próprio caminho Tanto o MGTOW quanto a Red Pill ganharam projeção
depois da vitória de Donald Trump na eleição Presidencial americana, em 2016 Os dois grupos são frequentemente associados
à alt-right – a direita alternativa que ajudou A impulsionar a candidatura de Trump Mas os grupos se expandiram e hoje estão
presentes em vários países, inclusive no Brasil O Southern Poverty Law Center – uma organização
americana que é referência no monitoramento De movimentos extremistas, define o MGTOW
e a Red Pill como grupos de supremacia masculina Que querem subjugar as mulheres Mas Téo contesta essas definições Essa história de que o MGTOW, ele marginaliza
a mulher… Não, não, não é bem assim Ele não aceita Se condicionar a determinadas entre aspas
validações que a mulher quer Ele não se submete ao shaming Shaming é o ato de criticar ou EXPOR alguém
em público, principalmente na internet Téo diz que evitar se expor é uma das principais
diretrizes do MGTOW De certa forma, essa posição é uma resposta
a movimentos feministas como o MeToo – que Estimulam mulheres a usar a internet pra denunciar
violências que elas sofreram e a expor seus abusaderes Já já a gente mostra o que uma cientista
social feminista acha das posições do Téo Mas voltado a ele Téo diz que, por causa de algumas leis que
foram aprovadas, ele reduziu seu contato com mulheres Hoje com a lei do assédio, existem muitas
mulheres fazendo mau uso das leis por vingança, Seja porque você a contrariou de alguma forma A violência contra mulheres está em alta
no Brasil Um levantamento do portal G1 em março revelou
que os crimes de feminicídio bateram um recorde Em 2022 – isso embora os números gerais de
homicídio tenham diminuído no ano passado Também em 2022, cerca de 30 milhões de mulheres
sofreram algum tipo de assédio no Brasil, Segundo um estudo do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública Téo diz que reduziu suas interações com
mulheres, mas que não rompeu completamente Os contatos com elas – ele disse que inclusive
tem uma namorada Até tempos atrás eu tinha seis câmeras
na minha casa, entendeu? E eu falava que tem áudio Eu conversava com a pessoa dizendo “eu passei
por essa situação, foi extremamente desagradável

Você quer vir, você quer me conhecer?” Quando eu comecei a pesquisa pra esse episódio,
eu imaginei que os adeptos de grupos como A Red Pill atuassem apenas em fóruns obscuros
da internet Mas não Hoje há várias páginas e perfis que difundem
abertamente esses conteúdos em redes sociais Como o Instagram e o TikTok E aqui eu passo a falar de um outro lado da
machosfera O desconforto masculino com as transformações
na sociedade criou um grande mercado virtual Muitos homens oferecem cursos a outros homens
sobre como seduzir mulheres Outros fazem discursos mais amplos sobre a
identidade masculina e sobre como os homens Devem se portar no mundo São comuns nesse universo discursos com um
suposto viés biológico e que valorizam características Masculinas associadas a um passado remoto,
quando os homens caçavam, guerreavam e protegiam a prole Eu passei várias horas navegando nesse universo
em que homens ensinam a outros homens o significado De ser homem Até que, no meio daquela testosterona toda,
surgiu uma mulher A bióloga Mariana Vabo se define como uma
mentora de homens Eu queria entender por que uma mulher tinha
decidido entrar nesse universo, então eu Fui atrás dela com algumas perguntas Tem um vídeo seu que o título dele é: “O segredos dos cafajestes para nunca levar
um fora” E aí nele você diz que um cara dominante Ele não chega numa mulher para receber o
sim ou não, porque quem dá o sim não é ele Mas como que fica o consentimento nessa história Você não acha que essa fala não pode estimular
uma abordagem violenta a uma mulher? Não estimula uma abordagem violenta Porque sobre o que é essa fala? É sobre o homem ter o direito de escolha
também Porque tem uma ideia péssima, que é travada
na cabeça de vocês, de que se uma mulher Te quer, você tem que atender essa mulher,
o desejo de uma mulher que te quer, porque Se você não atende, você é menos homem
Você não acha que um homem que escuta que é ele quem vai dizer sim ou não, não é
a mulher, que ele não pode se sentir legitimado A chegar agarrando, considerando que esse
tipo de comportamento existe, que existem Abordagens muito violentas?

Isso acontece em qualquer tipo de ambiente A pessoa está vendo o que a gente chama de
viés de confirmação Ele está pegando uma informação que eu
estou falando ou, que você esteja falando Qualquer outra pessoa Ele vai interpretar à sua forma E, infelizmente, o controle total sobre o
que as pessoas interpretam com o seu modelo de mundo Eu não consigo ter total controle disso Para Mariana, não é preciso ser machista
pra ganhar dinheiro na machosfera Mas o que uma acadêmica feminista acha desse
mercado de coaches de masculinidade? Pra Bruna Camilo, doutora em Ciências Sociais
pela PUC de Minas, esse mercado promove uma “monetização da misoginia” – misoginia
é o desprezo por mulheres Bruna pesquisa o masculinismo – que são ideologias
que defendem os direitos dos homens É o caso de várias correntes da machosfera,
incluindo o MGTOW e a RedPill Ela me disse que essas ideologias têm uma
visão bastante equivocada sobre o feminismo, Pois defendem que as feministas buscam privilégios Segundo Bruna, no entanto, o feminismo busca
apenas a igualdade entre homens e mulheres Mas ela concorda com um tipo de queixa que
alguns homens compartilham nesses espaços: A queixa de que, na nossa sociedade, os homens
são cobrados a serem másculos, viris, racionais, Provedores, assertivos, bem sucedidos… Quem não cresceu ouvindo frases como Homem
não chora, ou homem que é homem não nega fogo? Além disso, muitos homens – incluindo os
de esquerda – se sentem confusos quanto a Comportamentos que, até outro dia, eram vistos
como positivos por boa parte das mulheres, Mas que hoje podem ser muito mal recebidos Por exemplo: é OK dar flores e abrir a porta do carro
no primeiro encontro? E falar parabéns no Dia Internacional da
Mulher? Bruna reconhece que muitos homens estão perdidos,
e ela diz que eles de fato sofrem cobranças Injustas e excessivas- mas ela também diz
que os masculinistas erram o alvo ao atribuir Essas cobranças ao feminismo O feminismo, ele não é responsável por
esse discurso sobre como homens devem ser, Como eles devem se comportar Isso é o machismo, é a misoginia, é o patriarcado O patriarcado há séculos nos mostra que
o homem tem que ser o grande provedor da família E que a mulher, ela é a propriedade junto
com os filhos

Enquanto feminista, eu te digo que o feminismo,
ele luta inclusive para a gente desconstruir Essa masculinidade hegemônica Bruna diz que as redes sociais estão ajudando
as correntes masculinistas a se expandir Mas produzindo esta reportagem eu também
percebi um movimento contrário em curso Nos últimos anos, surgiram várias páginas
e perfis de homens que questionam os padrões De masculinidade e rejeitam os discursos de
grupos como a Red Pill Uma delas é o Movimento Homem, fundada pelo
programador Dimas Oliveira, de 38 anos Dimas me disse que ouviu de diferentes mulheres
com quem se relacionou que não era disponível emocionalmente Então ele começou refletir sobre isso foi
parar num retiro de homens no interior de São Paulo Dimas passou três dias num hotel participando
de conversas e exercícios sobre a busca por Outro tipo de masculinidade Eu participei do retiro e ali eu entrei em
contato com dores próximas e também dores, Assim, que eu não imaginava, que pelo menos
não nunca tinha ouvido um homem falar assim, De homens que tinham sofrido abuso, de homens
que tinham sido, foram abusadores de pessoas E ali você tem a oportunidade realmente de
ser vulnerável Você pode tirar aquele peso das costas que
você carregou uma vida toda A experiência de Dimas no retiro foi tão
transformadora que ele resolveu virar um facilitador Desses encontros Dimas espera que, um dia, movimentos como
o dele consigam fazer frente às vertentes masculinistas Por enquanto, porém, ele reconhece que ideologias
como a dele estão longe de ter a mesma projeção Que a Red Pill ou que o MGTOW Eu fico por aqui Se você gostou do vídeo, eu peço que por
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