Ozempic: quem deve usar 'remédio da moda' contra obesidade?

Ozempic: quem deve usar ‘remédio da moda’ contra obesidade?

Nos últimos meses, uma “canetinha” com
agulha na ponta virou uma febre entre pessoas Que querem emagrecer. Nas redes sociais, influenciadores do Brasil
e do mundo vêm divulgando as supostas maravilhas Do remédio Ozempic. Mas será que qualquer um pode tomar? E quais são os riscos do uso inadequado? Sou André Biernath, da BBC News Brasil em
Londres, e neste vídeo vou explicar o caso Do Ozempic e quando remédios para emagrecer
são realmente indicados. Já adianto que o uso puramente estético
é totalmente contraindicado. Logo mais conto por quê. Mas bem, o Ozempic, da farmacêutica Novo
Nordisk, surgiu na verdade para tratar diabetes Tipo dois. O princípio ativo é chamado de semaglutida. Com o passar do tempo, os cientistas observaram
um “efeito colateral” muito interessante dele: A perda de peso. Daí nasceram versões específicas para tratar
pacientes acima do peso, que foram aprovadas No Brasil em janeiro e devem chegar às farmácias
do país a partir do segundo semestre. Em resumo, então, a semaglutida vai aparecer
em três versões. As primeiras, que são o Ozempic e o Rybelsus,
servem para tratar o diabetes. A terceira, Wegovy, serve para tratar obesidade,
as três são injeções semanais. Para evitar confusões, neste vídeo vamos
usar o nome semaglutida como padrão. A endocrinologista Simone Van de Sande Lee
me disse que a semaglutida produz três efeitos No organismo. Mas o principal mecanismo de ação é a ação
em centros, no cérebro e no sistema nervoso Central, responsáveis pelo controle da fome
e do gasto de energia do corpo. O segundo efeito é o de estimular a liberação
de insulina pelo pâncreas. Esse hormônio retira da circulação sanguínea
o açúcar obtido dos alimentos e o coloca Dentro das células, onde será usado como
fonte de energia. O remédio também retarda o esvaziamento
do estômago — e como a comida fica lá Por um tempo maior, a sensação de barriga
cheia se prolonga. Nos estudos que serviram de base para a aprovação,
a perda de peso média entre os voluntários Que usaram a semaglutida foi de 17%. A médica também me falou sobre os efeitos
colaterais. São medicamentos que dão como principal
efeito colateral a náusea e o enjoo, popularmente

Chamado de enjoo. Mas aí vem a grande questão: quem realmente
se beneficia das injeções de semaglutida? Segundo a bula, a indicação é para indivíduos
com obesidade, quando o Índice de Massa Corporal, O IMC, está acima de 30. O remédio também pode ser prescrito para
pacientes com IMC acima de 27 que possuem Alguma doença associada, como hipertensão,
diabetes ou apneia do sono. O IMC é um cálculo em que o peso de um indivíduo
é dividido pela altura elevada ao quadrado. Se o número obtido está entre 18 e 25, ele
está dentro do peso considerado normal. Entre 25 e 29,9, há um quadro de sobrepeso. E, acima de 30, ocorre o diagnóstico de obesidade. A aplicação do remédio deve estar sempre
associada a mudanças no estilo de vida, que Incluem restrições de dieta e atividade
física regular. Vale destacar que, mesmo antes, já havia
grandes avanços nos tratamentos medicamentosos Da obesidade, embora com um pouco menos de
perda de peso que com a semaglutida. E os especialistas esperam para os próximos
meses a chegada da tirzepatida, da farmacêutica Eli Lilly, que superou os 20% de perda de
peso nos estudos clínicos. Juntos, todos esses comprimidos e injeções
ampliaram o arsenal terapêutico para tratar A obesidade. Fora as cirurgias bariátricas, indicadas
para pacientes que não respondem à medicação Ou têm obesidade grave. Todos esses avanços mudaram a ordem de prioridade
dos tratamentos. O endocrinologista Walmir Coutinho me explicou
que, tradicionalmente, as sociedades médicas Costumavam prescrever mudanças na dieta e
prática de exercícios físicos como a primeira Linha para lidar com o excesso de peso. Só quando essas estratégias falhavam é
que remédios ou cirurgias entravam em cena. Mas isso começou a ser questionado com mais
força em meados de 2020, com a publicação Das Diretrizes de Tratamento de Obesidade
do Canadá. Coutinho destaca que, pela primeira vez, um
documento desse porte reconheceu que intervenções Psicológicas, medicações e cirurgia bariátrica
formam os três pilares terapêuticos básicos — e modificações na alimentação e estímulo
à atividade física atuam como forças complementares. Eles inverteram agora e botaram como pilares
no tratamento do tratamento psicológico o Remédio e cirurgia bariátrica. Porque se acha que o remédio ou a cirurgia
bariátrica sejam indispensáveis para que O paciente consiga mudar o hábito alimentar
dele.

Porque a gente tem observado o seguinte a
ciência médica já comprovou que dieta e Exercício físico funcionam bem no curto
e médio prazo, mas no longo prazo eles não Conseguem manter uma perda de peso suficiente. Que fique claro: as mudanças na alimentação
e na prática de exercícios continuam fundamentais. Só que a ciência percebeu que, na maioria
das vezes, não são suficientes para resolver O problema de forma satisfatória. Mas o tratamento com medicamentos ainda enfrenta
pelo menos três grandes desafios. Primeiro, o preconceito, como me explicou
o cirurgião Ricardo Cohen. Isso é uma coisa muito importante, porque
a doença, obesidade e seus tratamentos são Estigmatizados porque se acreditava. E tem gente que acredita ainda, infelizmente, é um individuo que nao sabe ter escolhas adequadas, é um sedentário, é um perdedor e etc. Que não é verdade. E ele joga a culpa com o indivíduo que ele
não tem. Como eu culpar alguém que tem um câncer
de…um melanoma… A culpa é da pele dele. Ou seja: pelo que se sabe hoje em dia, a obesidade
não é apenas uma questão de comer demais Ou gastar poucas calorias. Trata-se de uma disfunção metabólica complexa,
sobre a qual há uma influência de fatores Genéticos e de estilo de vida. E olha que falamos aqui de um dos problemas
de saúde mais comuns em todo o mundo. Todos os anos são registradas 4 milhões
de mortes associadas ao sobrepeso e à obesidade. No Brasil, 55% da população está acima
do peso, e esse número deve subir para 88% Até 2060 se nada mudar. A segunda barreira é justamente a banalização
dos remédios, como a semaglutida. Muita gente passou a tomar o Ozempic, que
é pra diabetes, por conta própria. A endocrinologista Simone Van de Sande lembra
que esse remédio é tarja vermelha, ou seja, Só deve ser vendido sob prescrição médica. Mas muita gente compra sem a receita, ou usando
a mesma receita mais de uma vez. O Walmir Coutinho alerta que a semaglutida
não é um cosmético e nunca deve ser usada Com fins estéticos, para perder poucos quilos. É preocupante, por um lado, porque muita
gente o usa por razões estéticas, só, né? E aí você começa a ter problemas com a
relação risco benefício, porque o benefício Para uma pessoa que tem obesidade ele é tão
grande.

E mesmo que exista um risco inerente no uso
do medicamento. Nessa linha, o endocrinologista Bruno Halpern
reforçou uma coisa importante: a semaglutida Não é um remédio para emagrecer. Ela é um tratamento contra uma doença, que
se chama obesidade. E esse uso estético prejudica justamente
os pacientes obesos. Por exemplo: nos Estados Unidos e no Brasil,
foram registrados episódios de faltas de Doses em farmácias por causa da alta procura. Bom, pra fechar, o terceiro desafio é o acesso
a esses remédios antiobesidade. Até o momento, nenhum está disponível no
Sistema Único de Saúde, o SUS. Isso significa que os pacientes precisam pagar
por conta própria pelo tratamento — ou Acionar seu plano de saúde, se tiverem um. Ainda não se sabe qual será o preço cobrado
pela semaglutida contra a obesidade no Brasil. Nas farmácias, a versão injetável específica
para o diabetes sai caro: de 800 reais 1.100 Reais por mês. Com um detalhe importante: o tratamento contra
a obesidade é contínuo, sem data para terminar. Com isso eu fico por aqui e espero que você
tenha achado este vídeo útil. Um abraço, se cuida, e até a próxima.

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