Os tsimane: a comunidade indígena na Bolívia em que as pessoas envelhecem mais lentamente
Este é o rio boliviano Maniqui, na bacia
do rio Amazonas Nesta região vivem os tsimane, um povo nômade
relativamente isolado, no norte boliviano, Com uma característica bem particular
Os idosos desta comunidade envelhecem Lentamente e mantêm um vigor físico e mental
excepcional até uma idade bem avançada É algo que chamou a atenção dos cientistas
A BBC teve permissão de visitar o território tsimane. Para chegar até lá, foram necessárias
várias horas de viagem por estrada e canoa Esta é Martina Canchi Nate. É a primeira idosa tsimane que recebe a equipe Essa vitalidade sobre a qual fomos avisados antes
nos deixou sem fôlego bem rápido… E várias vezes tivemos que
pedir trégua ao ritmo de Martina Aqui idade parece ser algo irrelevante…
Já na sua casa, depois de beber um pouco da Bebida chicha e de um momento de silêncio, Martina
responde à pergunta que fizemos na floresta. Ela procurou seu documento para nos
mostrar que tem oficialmente 84 anos E quem a ajuda? Ela nos responde, na
língua chimané, que os filhos dão apoio, Mas é ela que faz as tarefas de casa Dois estudos publicados entre 2017 e 2023 Concluíram que as artérias desses idosos são
mais jovens do que de pessoas da mesma idade Em outros países. E os cérebros
também envelhecem mais lentamente No povoado de San Borja, o mais
próximo ao território tsimane, O antropólogo americano Hillard Kaplan
estuda há duas décadas a saúde dessa etnia Em seu centro de estudos trabalham vários
pesquisadores da própria comunidade Quando se compararam os dados com
os de outras populações do mundo, Percebeu-se que os tsimane eram
os campeões da saúde arterial Kaplan e seus colegas concluíram que 85% desses
idosos tinham risco zero para cardiopatias e Que a metade dos que têm mais de 80 anos nem
tinham sinais de calcificação em suas artérias, Um dos principais indicadores de doenças arteriais Também não foram encontrados problemas de
obesidade, hipertensão e glicose alta no sangue E qual é o segredo da boa saúde?
Um fator chave é a alimentação O casal Hilda e Pablo nos convidou ao
seu “chaco”, ou horta, para colher arroz É dessa forma que viveram ancestralmente os
tsimane, que baseiam sua dieta na pesca, caça e coleta Aqui não é impossível conseguir açúcar,
farinhas e outros alimentos processados, Mas o acesso é muito limitado. A mesma coisa acontece com cigarros e
bebidas alcoólicas. Eles nos disseram Que nem costumam mascar folhas de coca,
uma tradição em outras etnias bolivianas
Ainda que eles cacem e criem animais, três
quartos da dieta deles são carboidratos: Mandioca, banana, milho, arroz, frutas e sementes Muitos tsimanes não sabem com precisão
suas idades. Eles dizem que se baseiam Em registros de missões cristãs na
região ou no tempo que se conhecem Acompanhamos Juan Guitiérrez em um dia de caça A rotina física desses idosos
é outro fator determinante Idosos como Juan caminham, em média,
17 mil passos por dia. Na Europa, A média é cerca de 6.000 passos diários Juan é parte dos 705
voluntários da comunidade cuja saúde é estudada A alimentação e a atividade física fazem
com que os idosos tsimane tenham 70% Menos atrofia muscular que pessoas da mesma
idade no Reino Unido, Japão e Estados Unidos E, como o corpo, os cientistas concluíram que
o cérebro deles demora mais para envelhecer O dado que surpreendeu os pesquisadores é Que a perda da função cerebral é
40% mais lenta entre os tsimane A demência, particularmente o Alzheimer,
tem menos incidência entre eles Em outra aldeia, a BBC conheceu Fermín Ele tem 78 anos e conta que a dor nos
pés impede que ele saia para caçar Fermín diz que limpa suas flechas para Evitar que a umidade as estrague –
confiando que vai voltar a usá-las O cuidado médico moderno é um
privilégio que não existe na floresta, Ainda que algumas organizações atuem na região Apesar da ótima forma física, os idosos
tsimane padecem constantemente de inflamações Ou enfermidades parasitárias,
detectadas em 100% dos voluntários Quando precisam de assistência médica
especializada, é preciso ir até a cidade, Algo relativamente novo pra eles O médico Daniel Rodríguez integra
uma equipe que pesquisa os tsimane E seu papel não se limita a
analisar dados científicos Durante anos, a expectativa de
vida da etnia foi influenciada Pela alta mortalidade infantil e materna Quando os estudos se iniciaram, a
média rondava os 45 anos de vida Mas essa exposição a doenças
infecciosas e parasitárias Pode ser um fator-chave na longevidade dos tsimane Por isso os especialistas estão estudando
como o sistema imunológico, ao estar mais Equilibrado frente a bactérias e parasitas, fica
também mais protegido contra doenças arteriais
No percurso pela selva, todos os
tsimane encontrados pela BBC afirmam: Seu território e seus costumes estão mudando A proximidade ao mundo urbano está aliviando
muitos dos problemas, mas tem seu impacto Os médicos notaram mudanças como aumento
de peso e colesterol. E a diabetes, Que era algo desconhecido, está
começando a aparecer por lá Apesar de todas as mudanças, os tsimane se
sentem orgulhosos de saber que seu estilo de Vida ancestral é agora uma referência
de saúde que vai bem além da floresta