O sistema de tutelagem masculina sobre mulheres no Catar
|

O sistema de tutelagem masculina sobre mulheres no Catar

No Catar, as mulheres não têm direito a
tomar, por conta própria, algumas das decisões Mais importantes da vida, como se matricular
na universidade, se casar, se divorciar ou Viajar. Precisam da permissão de um guardião masculino. Esse sistema de tutela de homens sobre mulheres
tem sido classificado por organizações de Direitos humanos como discriminatório e limitante. Sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil,
neste vídeo conto como é ser mulher no Catar, O país-sede da Copa. O Catar é um país muçulmano em que vigora
a sharia, um sistema legal baseado em textos Sagrados do Islã. A interpretação desses textos pode variar
dependendo da escola de pensamento jurídico, O que faz com que a sharia possa ser mais
rígida ou mais liberal ou reformista entre Os países que a adotam. É nesse universo que entra sistema de tutela
masculino existente no Catar. Num longo relatório de 2021, com depoimentos
de dezenas de mulheres, a ONG Human Rights Watch descreve essa tutela como uma mescla
de leis, políticas e práticas que forçam As mulheres a necessitar de permissão para
atividades específicas. Esse tutor pode ser pai, irmão, tio, padrinho
ou marido, por exemplo. Algumas mulheres catarianas dizem que, sob
esse sistema, não se sentem independentes. José Carlos Cueto, repórter da BBC Mundo,
o serviço em espanhol da BBC, está cobrindo A Copa lá no Catar. Ele conversou com mulheres e com especialistas. No Reino Unido, a BBC conversou com uma mulher Catariana que, sob condição de anonimato,
contou ter ficado deprimida e pensado em suicídio Por causa dessas restrições à liberdade. Já os homens não precisam de permissão
para se casar com até quatro mulheres. A poligamia é legalizada lá. Quando uma mulher se casa, a tutela dela é
transferida da família para o marido. A chamada Lei da Família catariana estabelece
que a mulher pode ser considerada desobediente Se não obtiver permissão do marido antes
de trabalhar, viajar, se abandonar a casa Ou se se recusar a ter relações sexuais
com ele sem uma razão, entre aspas, “legítima”. Além disso, segundo a investigação da Human
Rights Watch, as mulheres não conseguem ser As tutoras principais de seus filhos. Com isso, não podem tomar por conta própria
decisões sobre as finanças das crianças,

Educação ou tratamentos médicos, mesmo
que estejam divorciadas – e com a guarda Dos filhos – ou que sejam viúvas. Os filhos sempre dependerão de um parente
homem como tutor. Na ausência dele, quem assume esse papel
é o governo, mas não a mãe. O governo refuta essa constatação dizendo
que as mulheres podem, sim, ter a tutela dos Filhos no caso de obtenção de passaportes
ou documentos de identidade para os filhos. As autoridades do Catar dizem ainda que o
país lidera, no Oriente Médio, quase todos Os indicadores de igualdade de gênero e que
tem a mais alta taxa de participação feminina Na força de trabalho, paridade salarial no
setor público e a mais alta porcentagem de Mulheres matriculadas em universidades. Esta empreendedora catariana entrevistada
pela BBC em Doha confirma isso – embora Peça para não ter sua identidade revelada. Ela acha que o Catar está se esforçando
pra reduzir disparidades de gênero e apoiar Mais as mulheres. Outras entrevistadas concordam, dizendo
que o país mudou bastante nos últimos cinco Anos no que diz respeito ao espaço ocupado
pela mulher. A própria ONU cita leis que foram modificadas
recentemente para combater a discriminação Contra mulheres em questões profissionais
e salariais. Mas e o sistema de tutela, como ele funciona
na prática? Não existe um conjunto claro de leis. Pra começar, a Constituição catariana diz,
em seu artigo 35, que todas as pessoas são Iguais perante a lei e que é proibido discriminar
por sexo, raça, língua ou religião. Mas isso entra em contradição com o Código
da Família e com as leis de educação, que Estipulam a necessidade de que mulheres sejam
tuteladas por homens. E existem também as normas sociais não escritas. O mais recente relatório da ONU do Comitê
para o Fim da Descriminação contra a Mulher, Que data de 2019, recomenda ao Catar que elimine,
por exemplo, a obrigação de que mulheres Apresentem uma carta de consentimento de um
tutor para conseguir emprego. O curioso é que essa prática não está
definida por lei, mas muitos empregadores Exigem esse consentimento mesmo assim. O que muitos especialistas explicam é que
o grau de aplicação do sistema de tutela Acaba ficando a cargo de cada família. A professora de direito Eleni Polymenopoulou
disse à BBC que muitas mulheres de famílias Mais liberais acabam tendo uma vida relativamente
independente, enquanto mulheres de origem

Conservadora precisam de permissão do tutor
até para sair de casa. Apesar de avanços recentes, a ONU afirma
que, assim como em grande parte do mundo, O Catar ainda tem muito a avançar na igualdade
de gêneros. Por hoje é só, mas você pode conferir mais
reportagens sobre a vida no Catar no nosso Canal no YouTube, nas redes sociais e no nosso
site, o bbcbrasil.com. Obrigada e até a próxima!

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *