O que explica desconfiança do mercado em relação a Lula?

O que explica desconfiança do mercado em relação a Lula?

O mercado financeiro é pessimista demais com Lula? Algumas pessoas começaram a fazer essa pergunta 
meio filosófica durante o governo de transição,   Quando a bolsa despencava e o dólar subia 
toda vez que o então presidente eleito   Fazia um comentário, mesmo 
que vago, sobre a economia A resposta, você deve imaginar, não 
se limita a um simples sim ou não,   Mas abre uma discussão interessante 
sobre as engrenagens que movimentam   O mercado financeiro e a maneira como são 
construídas as expectativas dos investidores Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC 
News Brasil, e conversei sobre esses   Temas com quatro economistas e 
trago a discussão nesse vídeo Nosso primeiro ponto: o que move os mercados 
– o sobe e desce da bolsa, do dólar De forma geral, a agenda do mercado financeiro   Costuma estar alinhada com a de 
políticos de centro e de direita:   Maior controle sobre o gasto público e 
menor participação do Estado na economia Pois é, mas não são essas ideologias que formam 
os preços, como diz o jargão – a cotação do   Dólar ou a taxa de juros futuros. Essa é 
a avaliação do economista Filipe Campante,   Professor na Universidade Johns 
Hopkins, nos Estados Unidos A ideia é que um mercado como o de títulos da 
dívida, por exemplo, ou de câmbio, são tão grandes   Que a decisão de um investidor só não é suficiente 
pra mexer os índices pra cima ou pra baixo Esses movimentos são agregados de milhares, 
milhões de decisões tomadas por pessoas que,   Sim, têm seus vieses, mas que operam com 
o objetivo principal de ganhar dinheiro Mas aí vem um porém, nosso segundo ponto: Muitas dessas decisões estão baseadas 
em expectativas, que se constroem,   Por sua vez, sobre previsões para o 
futuro (sobre o cenário internacional,   Preço de commodities, inflação, 
PIB…) que levam em consideração   Uma miríade de fatores — e que podem, no 
fim das contas, estar erradas ou certas E nesse sentido, olhando especificamente para 
o Brasil, Robin Brooks, economista-chefe do   Instituto de Finanças Internacionais, IIF na 
sigla em inglês, acredita que os brasileiros   São sistematicamente mais pessimistas 
do que a média dos agentes econômicos No caso específico de Lula, a ideia geral 
é de que o cenário em que o ex-presidente   Inicia o terceiro mandato é bastante 
diferente do que ele encontrou em 2003:   Em vez do boom de commodities que 
permitiu a expansão do gasto social,   Em 2023 o mundo caminha para uma recessão com 
inflação alta e preços elevados de combustíveis Nessa visão, se Lula tentar 
seguir o mesmo roteiro do passado,   A dívida pública pode sair do controle, com 
consequências desastrosas para a economia

Ele diz que consegue entender porque 
as pessoas se preocupam com isso,   Mas que para chegar nesse ponto é preciso 
que muitas situações hipotéticas envolvendo   Decisões equivocadas do governo se concretizem Sobre a dívida pública brasileira – que é 
um dos temas que mais movimenta os mercados   E que está na casa dos 75% do PIB – o 
economista diz que ela é maior do que   O observado entre mercados emergentes, mas 
ainda bastante inferior ao de economias do   G10 como o Reino Unido, por exemplo, 
que chegou a 100% do PIB em 2022 Essa questão do gasto público é um daqueles 
temas que divide profundamente os economistas.   Tem gente que acha que o Brasil tem espaço 
fiscal pra gastar mais, enquanto outros acham   Que o país já está no limite e que qualquer 
excesso vai fazer a dívida sair do controle Para vocês terem uma ideia, o IIF tem previsão de 
crescimento de 1,8% pro PIB do Brasil em 2023,   Enquanto outras casas preveem zero. Isso dá ideia   De como as expectativas que calibram 
as estimativas econômicas podem variar Como ninguém tem bola de cristal pra 
saber exatamente o que vai acontecer,   Os agentes vão tentando interpretar os sinais 
emitidos por declarações e decisões do governo   (isso para as projeções de mais longo prazo, 
as de curto prazo são calibradas por uma série   De indicadores antecedentes, mas 
isso é assunto pra outro vídeo) Alguns exemplos práticos: Parte dos analistas viu na nomeação de 
Fernando Haddad para o Ministério da   Fazenda e de Aloizio Mercadante para 
o Banco Nacional de Desenvolvimento   Econômico e Social, o BNDES — duas indicações 
políticas, e não técnicas — uma sinalização   De que o foco do governo não será diminuir 
ou melhorar a qualidade do gasto público Por outro lado, figuras menos 
ligadas à política e mais ao mercado   Começaram a aparecer em outras posições O número dois de Haddad, por 
exemplo, é Gabriel Galípolo,   Que presidia o banco Fator e agora assume a 
secretaria-executiva do Ministério da Fazenda Marcos Barbosa Pinto, por sua vez, que estará 
à frente da Secretaria de Reformas, foi sócio   De Armínio Fraga na Gávea Investimentos. Isso 
alimenta a expectativa de quem é mais otimista Outra notícia que pegou mal foi a mudança 
a toque de caixa da Lei das Estatais,   Que reduziu de três anos para 30 dias o período 
de quarentena para que políticos e dirigentes   Partidários possam ocupar cargos em estatais 
e agências reguladoras — algo que, na prática,   Abriu espaço para indicações 
políticas nessas organizações Por outro lado, tem economista que acha que o 
Congresso pode colocar um freio em uma eventual   Gastança maior do governo, como aconteceu 
recentemente com a PEC da Transição, em que o  

Governo propôs ampliar o teto de gastos em R$ 198 
bilhões e o Legislativo aprovou R$ 145 bilhões Agora que cobrimos esses dois pontos, vamos 
à última parte do vídeo. E Bolsonaro? Afinal,   O ex-presidente furou o teto de gastos em R$ 795   Bilhões no decorrer dos seus quatro anos 
de mandato. O mercado foi condescendente? Robin Brooks e William Jackson, da Capital 
Economics, disseram que não e citaram como   Evidência o mesmo episódio: a alta forte 
do dólar entre junho e julho de 2021 Para eles, é possível, sim, ver na 
trajetória dos preços a deterioração   Das expectativas do mercado em 
relação ao governo Bolsonaro Filipe Campante acrescenta que a reação 
talvez não tenha sido pior porque houve   Uma interpretação de que o aumento dos gastos 
sociais era uma medida "claramente eleitoreira" Ou seja, na hora em que fosse preciso 
cortar, a gestão Paulo Guedes "sairia   Cortando tudo radicalmente", como 
fez em outros momentos — o que,   Embora não seja algo sustentável do ponto 
de vista da gestão de políticas públicas,   Segura o aumento da dívida 
pública e agrada os investidores Ele acrescenta que, ainda que as movimentações 
do mercado se baseiem em premissas que não   Necessariamente estejam corretas, é importante 
prestar atenção às informações contidas no sobe   E desce de preços porque, no fim do dia, tudo 
isso acaba tendo desdobramentos na economia real A alta do dólar impacta na inflação, que 
impacta nos juros e assim por diante. Termina,   Entre várias outras coisas, 
nos preços no supermercado É isso, espero que a discussão tenha sido útil Obrigada e até a próxima!

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