O que explica as violentas manifestações no Peru?
O Brasil não é o único país sul-americano
que enfrenta um período de turbulência. O Peru passa por uma onda de manifestações
desde 7 de dezembro, quando o Congresso Destituiu o então presidente Pedro Castillo.
O clima está tão violento que, em um só dia, 18 manifestantes morreram em confrontos
com a polícia na cidade de Juliaca. As mortes levaram o Ministério
Público a abrir uma investigação Contra a presidente Dina Boluarte e membros
do seu gabinete sob suspeitas de “genocídio, Homicídio qualificado e lesões graves”.
Eu sou Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil, e Neste vídeo explico em 3 pontos
a crise política peruana. Começo pela origem. Em 7 de dezembro, Pedro
Castillo anunciou que pretendia dissolver o Parlamento para instaurar um governo
de emergência e governar por decreto. Isso foi visto como uma tentativa de golpe
de Estado e rejeitado pela maioria das forças Políticas, incluindo alguns aliados.
Castillo foi detido pouco depois e Segue preso no momento em que eu gravo
este vídeo, acusado de instigar rebelião. Desde então, o Peru tem sido
tomado por fortes protestos, Que só deram trégua nas festas de fim de ano. Lembrando aqui que a crise não vem de agora. O
Peru teve cinco presidentes nos últimos cinco Anos, em mandatos interrompidos por
renúncias, destituições e acusações De corrupção. A atual onda de violência
é mais um teste pra democracia peruana. Apoiadores de Castillo exigem que ele seja
solto e querem o fechamento do Congresso, Novas eleições e a renúncia de Dina Boluarte,
além de algumas mudanças na Constituição. Com os protestos, vieram também os confrontos
com a polícia. O resultado são mais de 40 Pessoas mortas no país até agora – a mais letal
onda de violência desde o fim dos anos 1990, época dos conflitos entre o Estado peruano
e o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso. Grupos de direitos humanos acusam as
forças de segurança de usar armas de Fogo para conter os manifestantes, além
de lançar bombas de efeito moral do alto. Já o Exército acusa os manifestantes
de usar armas e explosivos caseiros. Embora os protestos tenham diminuído
em intensidade em grande parte do país, Regiões ao sul do Peru, incluindo
a cidade histórica de Cusco, Ainda enfrentam bloqueio de rodovias e confrontos. E por que o sul do país virou
o epicentro da violência? Estou falando dos departamentos – ou Estados –
de Arequipa, Apurímac, Ayacucho, Cusco e Puno, Que concentram muitos habitantes que falam o
idioma quéchua e trabalham no setor agrícola. Foi nessa região que Pedro Castillo, um
ex-professor e alinhado à esquerda, teve a maior Concentração de votos na eleição de 2021. Ele
venceu e tentou levar adiante uma ambiciosa agenda
Para reformar o modelo econômico peruano, mas não
conseguiu costurar alianças políticas pra isso. Embora tenha origem em Cajamarca, no norte do
Peru, é com o sul que as raízes camponesas de Castillo acabaram criando mais identificação.
É por isso que essa região passou a concentrar Tantos protestos quando o então
presidente foi destituído e preso. Veja o que explica Guillermo Olmo, o
correspondente no Peru da BBC Mundo, Serviço em espanhol da BBC. Existem também outras razões de fundo. O sul concentra também regiões historicamente
relegadas, com taxas de pobreza muito acima Da média peruana e que se enxergam como
alvo constante de racismo e exclusão. Em Cuzco, por exemplo, há cidades com mais de
80% da população em situação de pobreza extrema. A pobreza no sul contrasta com a
riqueza em matérias-primas. É dessa Região que vem grande parte da produção de
minérios como cobre, ouro e prata, que são Importantes produtos de exportação do Peru.
Esse contraste ajuda a explicar o fato de que, Durante a campanha eleitoral de 2021, o lema
defendido por Castillo, de “chega de pobres em Um país rico”, teve forte ressonância nessa
região do país, hoje em tanta turbulência. Com isso eu fico por aqui, espero
que esse vídeo tenha ajudado você a Entender um pouco mais do Peru.
Obrigada e até a próxima.