O que Brasil pode ganhar e perder ao financiar obras no exterior

O que Brasil pode ganhar e perder ao financiar obras no exterior

O BNDES, banco estatal de desenvolvimento, 
vai voltar a financiar obras fora do Brasil? Segundo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,   Sim. E isso já desencadeou críticas, debates 
e também informações falsas nas redes sociais. Mas como funcionam esses empréstimos, e para 
que tipo de projetos eles seriam usados? Eu sou Julia Braun, da BBC News Brasil em Londres,   E neste vídeo explico como esse 
programa de financiamento para   Projetos no exterior funciona e quais são os 
ganhos, desvantagens e riscos para o Brasil. Para começar, vamos entender o programa. Lançado em 1998, no governo FHC, o 
chamado projeto de financiamento à   Exportação de bens e serviços de 
engenharia do BNDES é um subsídio   Para empresas brasileiras venderem bens 
ou executarem serviços no exterior. Olha só como funciona, usando o exemplo 
de de uma obra de infraestrutura. O BNDES empresta o dinheiro, em 
reais, a uma empresa brasileira,   Para que ela participe de uma obra no exterior. Ou seja, diferente do que dizem 
algumas postagens nas redes sociais,   Quem recebe o dinheiro é a empresa 
brasileira, e não o governo estrangeiro. Mas depois, quem paga o empréstimo 
são os países ou companhias de fora   Que contrataram o serviço da empresa brasileira. A dívida é paga com uma taxa 
de juros anual, definida num   Acordo entre o governo brasileiro e 
o país onde o serviço vai acontecer. O governo do Brasil também define quais 
os países onde isso pode acontecer e as   Principais condições contratuais do financiamento. O programa está paralisado há alguns anos,   Depois de casos de corrupção 
virem à tona. Eu falo deles já já. Mas durante visita à Argentina, Lula falou em   Retomar o programa e financiar a expansão 
do gasoduto Néstor Kirchner na Argentina. A obra foi criada para transportar gás 
natural produzido no campo de Vaca Muerta,   Na Província de Neuquén, até os principais 
mercados consumidores do país vizinho,   Mas está paralisada devido à falta 
de fundos e controvérsias ambientais. Se há interesse dos empresários, se há interesse do governo e nós temos um banco de desenvolvimento para isso, Eu quero dizer que nós vamos criar as condições para fazer o financiamento Que a gente puder fazer para ajudar o gasoduto argentino Se o projeto tiver continuidade, há 
planos para que, numa fase futura,   O gasoduto se conecte com o Rio Grande do Sul.

O que nos leva ao segundo ponto do vídeo. O que o Brasil e a população ganham 
financiando essas obras no exterior? Segundo o próprio BNDES, esse financiamento tem 
como objetivo aumentar a competitividade das   Empresas brasileiras, gerar emprego 
e renda no país e trazer divisas. As maiores polêmicas nesses 
empréstimos envolveram obras   De infraestrutura, mas o programa vai além disso. Exemplo disso é que um caso de 
sucesso do BNDES é o da Embraer,   Conseguiu cavar seu espaço no competitivo mercado 
da aviação internacional com a ajuda do banco. A ideia defendida pelos apoiadores é que, por 
meio do empréstimo, as companhias locais possam   Expandir seu mercado, exportar tecnologias e se 
desenvolver – seria como dar um ‘empurrãozinho’,   Especialmente para as empresas mais novas 
e que atuam em mercados competitivos. Ao mesmo tempo, defende-se que os 
novos empreendimentos no exterior   Possam beneficiar de alguma forma o Brasil. No caso específico do gasoduto 
argentino, a expectativa é que,   No futuro, ele possa representar 
uma nova fonte de gás para o Brasil. Mas um problema é que o gasoduto seria perfurado 
usando uma técnica conhecida como fracking,   Muito criticada e até proibida em alguns 
países por contaminar a água, a terra e o ar. Bom, de volta ao BNDES, ao todo, foram 
desembolsados cerca de 10,5 bilhões de   Dólares para empreendimentos 
de financiamento em 15 países   No período em que o programa 
funcionou, entre 1998 e 2017. Economistas apontam que existem desvantagens 
e riscos desse programa. Vamos a eles. Em primeiro lugar, existe 
sempre a possibilidade dos   Países envolvidos acumularem 
dívidas ou darem calotes. Para essas situações, existe o Fundo 
de Garantia à Exportação, ou FGE,   Que serve como um seguro para as empresas 
brasileiras envolvidas no programa. Caso   Haja uma dívida em aberto, o fundo paga pelas 
parcelas e busca recuperar o valor em atraso. Ou seja, empresas brasileiras não ficam no 
prejuízo. Mas o grande problema é que o fundo   é custeado pelo próprio Tesouro brasileiro, 
ou seja, por dinheiro do contribuinte. Alguns casos de calote ficaram bem famosos e 
ainda são lembrados por críticos do programa. É o caso de acordos fechados com 
Venezuela, Moçambique e Cuba,   Que tiveram obras com bens e serviços 
brasileiros financiados pelo BNDES. Ao todo, os três países ainda 
acumulam 1 bilhão de dólares   Em pagamentos atrasados. Outros 573 
milhões de dólares estão por vencer Eu conversei com o economista Sérgio 
Lazzarini. Para ele, o erro que levou  

A esses calotes esteve na avaliação de 
risco dos empreendimentos nesses países. Ele acha que o Brasil deveria ter cobrado 
taxas de juros mais altas desses países,   Justamente para compensar o risco de calote. Ele afirma que a situação econômica delicada da   Argentina também traz riscos parecidos 
no caso do gasoduto de Vaca Muerta. O próprio BNDES reconhece que pode precisar 
adotar novas formas de se proteger de calotes. Mesmo assim, economistas como Nelson 
Marconi acham que isso não seria   Suficiente para trazer benefícios ao 
Brasil no caso do gasoduto argentino. Ele me explicou que ainda não existe uma 
infraestrutura pronta no país para que o   Gasoduto se conecte com o Rio Grande do Sul. E não   Se sabe a que custo a Argentina 
venderia este gás para o Brasil. Mas um terceiro ponto crucial por 
trás das críticas ao programa é a   Falta de transparência e os casos de corrupção. As suspeitas sobre obras no exterior que 
usaram serviços de empresas financiadas   Pelo BNDES surgiram com as 
investigações da Lava Jato. Os principais alvos da operação foram algumas das 
maiores empreiteiras do Brasil como Odebrecht,   Camargo Correa, OAS, Andrade 
Gutierrez e Queiroz Galvão. No caso da Odebrecht, por exemplo, 
executivos admitiram ao Departamento   De Justiça dos Estados Unidos que pagaram 
439 milhões de dólares em propina para   Obter obras em países como Angola, 
Argentina, Venezuela e Moçambique. Em 2017, a Procuradoria-Geral da República 
brasileira denunciou petistas como o próprio   Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff por um 
suposto esquema conhecido como “quadrilhão do PT”,   Que incluiria ajudar a Odebrecht a obter 
financiamento do BNDES em troca de propina. Mas em dezembro de 2019, a Justiça 
Federal do Distrito Federal absolveu   Lula e os demais petistas, dizendo não 
haver nenhum indício de uma quadrilha. O BNDES também recebe muitas críticas em relação à   Falta de transparência com que 
os empréstimos são concedidos. Em 2012, contratos de financiamento 
à exportação de bens e serviços de   Engenharia para Cuba e Angola foram 
classificados como "secretos". O   Argumento era de que os documentos 
continham informações estratégicas. Mas em 2015 a classificação foi cancelada 
e hoje os extratos dos contratos, com as   Condições financeiras, estão no site do BNDES. Essa discussão foi bastante explorada 
durante a campanha eleitoral de 2018,   Quando Jair Bolsonaro e aliados diziam 
haver uma suposta "caixa-preta" do BNDES.

Durante o governo Bolsonaro, foi 
feita uma investigação atrás de   Supostas irregularidades nos empréstimos do banco 
a países "comunistas", nas palavras de Bolsonaro. Em 2020, após um ano e 10 meses de investigação 
e 48 milhões de reais gastos com auditoria,   Um relatório não apontou nenhuma 
evidência direta de corrupção. Mas e aí, depois de ouvir 
todos os pontos desse vídeo,   Você acha que há mais vantagens 
ou desvantagens nesse programa? Deixa a sua opinião aqui nos comentários. 
Eu fico por aqui. Muito obrigada e até a próxima!

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