O Brasil do olhar estrangeiro: parte 4, Brasil chega a Hollywood

O Brasil do olhar estrangeiro: parte 4, Brasil chega a Hollywood

No episódio anterior, a gente falou sobre
o início do século 20, sobre o Brasil do Sanitarismo, do primeiro centenário da independência. Neste vídeo a gente segue na tempo da construção da imagem do país lá fora, Com Brasil em Hollywood, Bossa Nova, Brasília e futebol. Depois da Primeira Guerra Mundial, o planeta
vê emergir uma nova potência: os Estados Unidos. E com ela surge um novo momento para
o Brasil aos olhos do mundo, especialmente Dos americanos. Nos anos 1930, o presidente Franklin Roosevelt
coloca em cena a chamada Política da Boa Vizinhança, uma estratégia de aproximação
dos EUA com os países da América Latina Em várias frentes, entre elas a cultural. Mas o esforço dos Estados Unidos para trazer
a América Latina pra sua esfera de influência Não começa aí. O país foi um dos primeiros
a reconhecer o Brasil como nação independente, Em 1824, um ano depois de lançar a chamada
Doutrina Monroe – que encapsula a ideia da América para os americanos. Essa doutrina diz que os europeus não podem
mais interferir no hemisfério ocidental, No oeste. Inicialmente, isso parece uma coisa
boa, né? Acaba o colonialismo, acaba o imperialismo Europeu, que foi o problema na época. Mas
o que realmente significou é que são os Estados Unidos têm o direito de interferir
nos Assuntos dos outros países Mais de um século depois, nos anos 30 e 40
do século 20, os latino-americanos passar A ser cada vez mais representados na produção
cinematográfica de Hollywood. Imagens e personagens Que vão ajudar a construir o estereótipo
do que é ser brasileiro – e latino-americano – no imaginário dos americanos. O primeiro filme dos ícones americanos Fred
Astaire e Ginger Rogers, aliás, de 1933, Se chama Flying Down to Rio – ou “Voando
para o Rio”. A política de boa vizinhança queria desfazer um pouco da impressão
na América Latina dos Estados Unidos imperialista, De ser apenas esse poder militar e econômico
forte Os Estados Unidos buscavam aliados na região.
A despeito da atmosfera frívola das produções Hollywoodianas, esse é um período sombrio,
de avanço dos nacionalismos e do autoritarismo Que vai culminar na Segunda Guerra Mundial.
E o Brasil não destoava. Quem estava no poder Em 1930 era Getúlio Vargas, um líder nacionalista
e autoritário alçado ao poder por um golpe Civil-militar.

Eu tive oportunidade de uma época estudar
um jornal fascista português, chamado Revolução, Na época já que o Salazar tinha sumido em
Portugal e esse jornal, quando falava sobre O Brasil, via Vargas como o grande ditador
brasileiro. Achava que Vargas era fascista, Que implantar o fascismo no Brasil e eles
tinham grande esperança do Brasil se tornar Fascista Mas não era essa a fotografia que Vargas
queria mostrar pro mundo. Queria que o Brasil Fosse visto como país moderno. Nesse sentido,
uma de suas primeiras medidas é a criação Da Justiça eleitoral, que nasce com a missão
de combater as fraudes que marcaram a República Dos anos 20. Ele fez uma série de mudanças muito modernas,
vamos dizer assim, pro que estava acontecendo No restante do mundo dando um sinal: ‘Olha
sou autoritário como todos são né? Estou Introduzindo mudanças de ampliação da nossa
democracia, estou combatendo as oligarquias’. Então mostra uma outra face Essa outra face também incluía o estímulo
ao turismo. O jogo foi legalizado, os cassinos Se multiplicaram e ganhou fôlego a indústria
do entretenimento. Aqui no palco do Copacabana Palace, por exemplo, nessa época passaram
nomes como Edith Piaf, Josephine Baker e Ella Fitzgerald. Um nome em especial marcou o período:
Maria do Carmo Miranda Da Cunha, a Carmen Miranda. Ela tava num filme chamado de Banana da Terra, dos anos 30. E tava no Cassino da Urca cantando, usando o traje,
a roupa que ela usava naquele filme – que Foi uma roupa de baiana – e um produtor de
filmes norte-americano, Lee Shubert, apareceu Lá, gostou e contratou ela para começar
a fazer filmes de Hollywood. Isso foi o começo Da carreira norte-americana de Carmem Miranda Uma carreira endossada pelo governo Vargas,
que abraçou a ideia de apresentar aos americanos Uma mulher branca como embaixadora da cultura
brasileira que ele mesmo exaltava como mestiça. Em 1940, Carmen Miranda aparece no filme Serenata
Tropical, o primeiro das 14 produções americanas Das quais participaria. Ela cabia dentro do paradigma do que é que
Getúlio Vargas e o governo dele imaginavam Que representava o progresso e modernidade
no mundo exterior, especialmente nos Estados Unidos, né? Entendendo bem que os Estados
Unidos eram um país racista O governo de Vargas
sabia que tinha que enviar uma pessoa que Cabia dentro do modelo aceitável pelos poderes
brancos nos Estados Unidos Mas a Carmen Miranda apresentada aos Estados
Unidos era diferente da que tinha feito sucesso no Brasil. Uma mulher com um tom de voz mais
infantilizado, que é extravagante, que flerta,

Que mostra mais o corpo. Um estereótipo que
acabaria acompanhando toda sua carreira dali Em diante – e que a faria sofrer rejeição
entre o público brasileiro. O que ela era nesse papel que ela fazia era
uma representação do que os Estados Unidos Já pensavam sobre a América Latina. Não mudou muito dessa imagem que a Carmem
Miranda criou para hoje. Tem certas coisas Que mudaram, mas a Carmen abriu e consolidou
a ideia que o que chamava ela na época da “brazilian bombshell”, da brasileira que
é de boa vida, que quer dançar, que quer Cantar, que quer festa, sempre festa, sempre
alegria, mas também que se veste de uma forma Diferente, que mostra mais pele. Houve outros eventos que aumentaram a sexualidade,
a sexualização da mulher brasileira no exterior, Mas a Carmem Miranda abriu esse caminho Dentro do escopo da Política da Boa Vizinhança,
em uma viagem pela América do Sul idealizada Pela diplomacia americana, o cineasta Walt Disney vem
parar no Brasil em agosto de 1941, em plena Segunda Guerra. Da visita, ele tira a inspiração
para criar o papagaio Zé Carioca – dizem Que os primeiros esboços ele fez ainda aqui,
na sua suíte no hotel Copacabana Palace, onde estava hospedado Ele precisava desse apoio financeiro na época
porque tinha greves no Walt Disney Produções, E também por causa da Guerra. Não tinha
mais um palco europeu, não tinha mais cinema Europeu na época, então precisava realmente
de um apoio financeiro. O Disney estava com Sérios problemas econômicos, então entrou
nesse nessa jogada para criar um filme que Que juntava o latino-americano e o norte-americano. O latino-americano é Zé Carioca, e o norte-americano,
Pato Donald. Os dois se encontram em Alô, Amigos, de 1942, um filme que fica bastante
conhecido por uma cena em que Zé Carioca, Que faz samba com uma caixa de fósforo e
sai dançando pelo cenário, apresenta a cachaça Ao Pato Donald. Aí a gente vê os estereótipos dentro disso,
do brasileiro que faz música, que pode fazer Música com qualquer coisa, que dança, que
bebe cachaça, que que é meio malandro, né? +
Essa cena é importante não só no sentido De criar o momento dentro do intercâmbio
de culturas, mas naquele momento: dentro de Dois anos o Nordeste do país estaria cheio
de soldados norte-americanos usando a mesma Roupa que Pato Donald, de 18 anos. Vamos olhar
para ele como inocentes, que precisam de um Guia, ou vamos pensar neles como imperialistas? Essa é uma imagem que é recorrente nesse
momento, de apoio mútuo, e que projeta também Algo que vai ser muito interessante, eu diria,
na política externa dos Estados Unidos – ao Contrário do que vai acontecer com outros
países – uma imagem muito próxima da população,

Né? Mais acessível, por exemplo, do que
nós vamos ver nas políticas culturais de Países europeus pouco depois da guerra. Isso
já é mais frequente, que ainda tem uma imagem Muito elitista, muito baseada nos traços
intelectualidade… e nos Estados Unidos não, Já desde o período da guerra se projeta,
se constrói uma imagem voltada às massas Né? Então é um esforço que é completamente
diferente, e que por isso é tremendamente Bem sucedido O governo Getúlio Vargas, uma ditadura entre
37 a 45, é marcado pela tentativa de se criar Uma identidade nacional brasileira, um patriotismo.
E alguns dos elementos que fizeram parte da Estratégia da propaganda varguista no cenário
doméstico também foram usados no esforço Para projetar o Brasil para o mundo. Ele começou a projetar uma imagem do Brasil
com o nosso carnaval, com as nossas mulatas Sambando, né com a nossa música com as nossas
praias, com as nossas matas e uma ideia de Harmonia entre as raças Essa ideia de harmonia entre as raças não
é nova, mas começa a ganhar força a partir Dos anos 30. É nessa época que Gilberto
Freyre apresenta a ideia do luso-tropicalismo, Um elogio à colonização portuguesa no Brasil,
que serve de matéria-prima para a construção Do mito da democracia racial. A mestiçagem como valor servia aos propósitos
de Vargas como ferramenta para construção De um nacionalismo e como vitrine pro mundo.
Mas atrás das cortinas o governo encampava Um projeto de branqueamento da população,
chegando a barrar a imigração de negros, Judeus e japoneses. Pois é, uma baita contradição. Tem, por exemplo, um quadro de Portinari que
ganhou prêmios dentro do Brasil foi enviado Para uma recepção em Washington DC e que
o governo Vargas decidiu não exibir por quem Mostrava personagens negras trabalhando no
café Um parênteses. O racismo brasileiro é complexo
e talvez único no mundo. Ele não é institucionalizado Como foi nos EUA, que viveram um regime de
apartheid até 1964 ou na África do Sul, Que também tinha uma segregação oficial
até 1994 Aqui, a discriminação acontece às vezes
de forma explícita, mas também de maneira Sutil. Demorou pra que o Brasil entendesse essa manifestação
do seu racismo. E, de certa forma, isso também Aparece na maneira como o mundo enxerga o
país. Um exemplo particularmente interessante Vem da imprensa negra americana, de um jornal
chamado Chicago Defender. No começo do século 20, as páginas do jornal
vendiam o Brasil como uma espécie de paraíso Racial. Nessa carta enviada por um colaborador
em 1914, por exemplo, o autor fala sobre uma

Conversa com outro americano de Chicago que
tinha ficado admirado ao ver pessoas negras Em posições de poder no Brasil. Já esse
texto fala com animação sobre o primeiro Presidente negro do Brasil – Nilo Peçanha,
que esteve no poder entre 1908 e 1912. Poucos anos antes, em 1904 e 1905, um outro
homem negro, Manoel Monteiro Lopes, teve expressiva Votação para o Conselho Municipal do Rio
e pra Câmara Federal, mas não foi empossado. Foi vítima da chamada “degola eleitoral”,
uma prática bem comum na primeira república Que acabava permitindo uma série de fraudes.
Monteiro Lopes falaria abertamente sobre racismo Durante toda sua carreira, mas essas histórias,
pelo menos no início, não aparecem nas páginas Do jornal americano. E uma das razões é o próprio momento histórico
vivido pelos Estados Unidos. Nessa época – até os anos 60, aliás – os
Estados Unidos viviam um regime segregacionista Brutal. Negros não podiam frequentar os mesmo
espaços que brancos, ir às mesmas escolas. Quando americanos negros chegam ao Brasil,
se deparam com um país miscigenado em que, Pelo menos à primeira vista, existe uma mobilidade
social que não depende necessariamente da Cor da pele. Com o tempo, os relatos sobre o Brasil ficam
um pouco mais realistas nas páginas do Chicago Defender. Nesse texto aqui um americano que
havia passado três meses no país alerta Os leitores que “o Brasil não é uma utopia”.
E diz que o Rio é lindo quando o navio atraca No porto, mas que logo no desembarque o viajante
é confrontado com a miséria, cercado por Pedintes – e só consegue entrar num táxi
depois de se desfazer de algumas centenas De réis. O autor afirma que as condições
de vida nos bairros pobres são "horríveis Demais" pra se descrever – mas o faz mesmo
assim: “Famílias de 8, 10 ou 12 pessoas Vivendo em casas pequenas de um ou dois quartos
com o chão imundo. Crianças às centenas, Sim, às milhares brincando no meio da rua
só meio vestidas, sujas e maltrapilhas.” O próprio fundador do jornal, Robert Abbott,
vem ao Brasil em 1923 e relata em seus textos Alguns episódios de discriminação. Ele
teve dificuldade para tirar o visto por causa Da cor de sua pele e, quando finalmente conseguiu
desembarcar aqui, não lhe deixaram se hospedar No recém-inaugurado Hotel Glória, para onde
foram todos os outros americanos brancos que Viajaram com ele. Aqui um trechinho do episódio, na biografia
dele: Quando chegou à porta do hotel, os Porteiros se recusaram a desembarcar sua bagagem
do táxi, e o recepcionista “me disse educadamente Que não havia quartos disponíveis”. Mas
seus colegas brancos, claro, conseguiram quartos. Ele terminou em um local frequentado por brasileiros,
o Hotel Vitória, “onde as acomodações Foram sem hesitação e até de forma graciosa
oferecidas a nós”.

Ainda assim, Abbott se mostrou impressionado
ao ver pessoas negras ocupando posições De destaque no Rio e em São Paulo. E saiu
com a impressão de ter testemunhado uma sociedade Em harmonia, em contraposição à tensão
social muito tangível e palpável dos EUA. Com a fundação do Movimento Negro Unificado
no Brasil, em 1978, intelectuais como Abdias Do Nascimento, Lélia Gonzales, Osvaldo de
Camargo, Beatriz do Nascimento passam a descrever O racismo no país, com suas particularidades.
A ideia de que mesmo que a população preta E parda tenha acesso a alguns espaços de
prestígio, a maioria não tinha garantidos Seus direitos a saúde, educação e moradia
e estavam restritas a espaços de vulnerabilidade, Como manicômios, favelas e prisões. Esse descompasso, inclusive, era explicado
via mito da democracia racial não como a Expressão de um jogo desigual, mas como uma
incapacidade da população que teria saído Completamente da escravidão em 1888 sem habilidades
pra pra existir na sociedade do trabalho livre, Né? Essa ideia de responsabilizar a exclusão
da população negra a a responsabilizar Essa Ideia de responsabilizar a população negra
pela exclusão de que ela era vítima é uma Marca muito grande desse mito da democracia
racial Nos Estados Unidos dos anos 40, o contraste
com o Brasil do mito da democracia racial Vai ser explorado pelo movimento negro americano
durante a Segunda Guerra na luta pela conquista De direitos. Apesar dos esforços da diplomacia brasileira
para vender a imagem de um país mestiço Idílico, a própria produção artística
dos países a quem o Brasil queria impressionar Mostravam o país diferente, com pobreza,
desigualdade e racismo. Um exemplo foi a passagem do renomado cineasta
americano Orson Welles pelo Brasil. Welles Veio na onda da Política da Boa Vizinhança,
com um orçamento robusto e um filme encomendado Sobre o Carnaval do Rio de Janeiro com o objetivo
de incentivar o turismo. Imagine mandar o Cara por trás de Cidadão Kane pra fazer
quase uma propaganda. Não ia dar certo… Chegando aqui, Welles encontrou um Brasil
diferente do que deveria retratar, com pobreza, Miséria e desigualdade social. E se encantou
pela história de quatro jangadeiros cearenses Que em 1941 navegaram por 61 dias até o Rio
para pedir ao presidente Getúlio Vargas que A categoria fosse incluída na nova legislação
trabalhista. Welles reencenou parte da viagem com os jangadeiros,
mas brigou com a produtora, desagradou o governo Vargas e nunca concluiu o filme. Na parte de filme sobre carnaval ele contratou
cariocas afrobrasileiras, cariocas negras, Mulatas… A DIP, o departamento de imprensa e propaganda
da época isso não gostou disso, esse não

Foi a imagem do Brasil que queria mostrar
lá fora, né? Orson Welles filmou favelas, Ele capturou uma pobreza, uma miséria no
Brasil Então começou a criar problemas dentro do
Brasil, mas também a RKO, a empresa de produção Do filme nos Estados Unidos, a RKO queria
filmes mais leves, tipo Carmen Miranda, comédias, De mostrar a vida, mas da forma mais leve,
mais alegre. Eles não queriam um documental. As cenas do filme sobre os jangadeiros foram
redescobertas na década de 80 e usadas em Um documentário lançado em 93. Nos anos 50 e 60, a imagem que o mundo tem
do Brasil ganha novos elementos, da música, Da arquitetura e do futebol. O ano de 58 sozinho, aliás, dá um bom resumo
dessa fase. João Gilberto lança Chega deSaudade, o marco zero da Bossa Nova. As obras
de Brasília decolam e o Brasil conquista Sua primeira Copa do Mundo, com o futebol
de Pelé e Garrincha. E aqui Gilberto Freyre aparece de novo, desta
vez misturando mestiçagem com futebol. É Quando nasce a ideia do futebol-arte, digamos
assim. Em 1978 Gilberto Freyre escreveu um artigo
para Os Diários Associados chamado Futebol Mulato, e nesse artigo ele explicou que a
seleção brasileira, o time brasileiro vai Ser melhor porque finalmente incorporou afrobrasileiros
no time. E ele e faz uma comparação entre O futebol do europeu e o futebol mulato – o
que ele chama de futebol mulato, que é aquele Futebol do jogo de cintura, de futebol samba,
de futebol-arte A Bossa Nova também se encaixava perfeitamente nos interesses da diplomacia brasileira. E foi com a ajuda dela que o gênero foi apresentado
ao mundo, em 21 de novembro de 1962, em um Show no Carnegie Hall, em Nova York. A gravadora
americana envolvida no evento, a Audio Fidelity, Pediu – e conseguiu – apoio do Itamaraty (que,
em troca, chegou a distribuir cafezinho brasileiro Para o público do Carnegie Hall). O show não foi exatamente um sucesso – pelo
contrário, foi marcado por uma sucessão De erros e atropelos e teve uma péssima repercussão
na imprensa. Trecho da matéria do NYTimes: “O sistema de amplificadores reduziu os
grupos instrumentais brasileiros a uma gororoba Monótona. Cantores e guitarristas que estavam
diante dos microfones tiveram melhor desempenho – porque conseguiam ser ouvidos. Os vocalistas,
entretanto, tinham muito pouco a oferecer. Eram quase todos uniformemente o que seria
considerado neste país como artistas pop Convencionais”. Pois é, foi um fiasco, mas acabou abrindo
caminho pra carreira internacional da Bossa Nova. Àquela altura, Brasília já tinha sido inaugurada,
chamando atenção do mundo pra capital erguida

Sob linhas futuristas No meio do deserto. O Brasil constrói rapidamente uma imagem
que tremendamente positiva, porque a ambição Da construção de Brasília é desmesurada,
ela realmente encanta as opiniões. Por exemplo, Nós vamos ver isso nos editoriais, nas reportagens
especiais que os principais veículos europeus Americanos realizam durante a construção
de Brasília, traduzem um tanto dessa perplexidade – que é construir uma cidade com esses traços
arrebatadores, moderna, de uma arquitetura Exuberante no meio do nada, no meio do sertão,
né? – Uma manifestação do impacto da revolução
estética da arquitetura na imagem do país é a Casa do Brasil, uma dos pavilhões que
servem de residência estudantil na Universidade De Paris. Data de 1959 e é fruto de um projeto
entre Lúcio Costa, autor do projeto do plano Piloto de Brasília, e do arquiteto francês
Le Corbusier. Acho que essa é a síntese que nós vamos
ter nesse momento: a cultura brasileira se Renova, a estética brasileira se renova,
a arte brasileira se renova – desde o futebol Até arquitetura, passando pela música, você
vai ser um momento importante pelo menos até 1964. Um processo bem importante Essa imagem edulcorada tinha um contraponto.
O Brasil dos anos 50 e início dos 60, apesar Da industrialização, era marcado por problemas
que lhe seriam crônicos – inflação elevada, Desigualdade, pobreza. A favela aparece para o mundo pela primeira
vez com Orfeu Negro, uma produção franco-italiana Baseada em uma peça escrita por Vinícius
de Moraes e filmada no Morro da Babilônia, No Rio. O filme é de 1959 e traz uma visão
bastante romantizada da vida nos morros cariocas – e está aqui um exemplo prático do poder
da imagem sobre qual comentei no início dessa Série. Em sua auto-biografia, o ex-presidente
americano Barack Obama especula que aquela Representação dos jovens negros que aparece
no filme teria ficado marcada no imaginário De sua mãe, uma jovem branca de classe média
do Kansas, que, ainda solteira, viaja para O Havaí, conhece um estudante de economia
queniano – seu pai. Um encontro que lhe remetia àquela promessa de uma vida, abre aspas “quente,
sensual, exótica, diferente”. Uma imagem mais realista da vida nas favelas
brasileiras vem já no ano seguinte, em 1960. A escritora mineira Carolina Maria de Jesus
publica o autobiográfico Quarto de Despejo, Que narra sua vida na periferia de São Paulo.
Um best-seller que seria traduzido para 13 Idiomas. Aqui um trechinho: “Percebi que no frigorífico
jogam creolina no lixo, para o favelado não Catar a carne para comer. Não tomei café,
ia andando meio tonta. A tontura da fome é

Pior do que a do álcool. A tontura do álcool
nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz Tremer. Percebi que é horrível ter só ar
dentro do estômago. Comecei a sentir a boca Amarga. Pensei: já não basta as amarguras
da vida?” Dos anos 30 aos 60, de Carmen Miranda a Carolina
Maria de Jesus, os estereótipos e as contradições De certa forma se combinam pra formar a imagem
do país. Mas um evento ia mudar tudo. Entrando na década de 60, o mundo vê recrudescer
a Guerra Fria e o Brasil entra em mais um Período turbulento, com um golpe militar
que vai instalar uma ditadura que vai se arrastar Por três décadas. Um pouco do que a gente
vai tratar no próximo episódio.

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