Matemática foi descoberta ou inventada? Um debate milenar
Imagine uma outra civilização, numa galáxia
distante, num mundo completamente diferente. Como seria a matemática lá? Será que
usaria os mesmos conceitos que os nossos? Será que a matemática existiria sem os humanos?
São questões que ocupam matemáticos E filósofos há milhares de anos.
Sou Laís Alegretti, da BBC News Brasil, E neste vídeo a gente discute: a matemática
é parte da natureza ou uma criação humana? Não se surpreenda se você mudar de
opinião mais de uma vez enquanto assiste. Antes, é preciso definir a matemática.
Vou começar de modo simples: Contando as pétalas desta flor.
Um, dois, três, quatro, cinco. Duas pétalas caem: um, dois.
Essas duas pétalas já não são Mais parte da flor, mas nem o número cinco, nem
o número dois deixam de existir como conceito. Os números são um conceito universal.
O que muda é a linguagem ou signo usado Para se referir a eles – five, cinq, wu ou
outras formas de escrever o cinco, por exemplo. É porque os números representam
a ideia abstrata de quantificar. Seja as pétalas de uma flor,
dedos na mão ou dinheiro. Eles nos ajudam a abstrair pedacinhos do
mundo de forma que possamos manipulá-lo, Entendê-lo e interpretá-lo.
Então as matemáticas são duas coisas: Os conceitos matemáticos e a linguagem específica
de cada cultura para falar de matemática. Mas será que esses conceitos matemáticos já
estavam aí e nós humanos apenas os descobrimos, Ou será que nós inventamos isso
como forma de descrever o mundo? Para os gregos da Antiguidade, a
matemática era um presente dos deuses. Platão acreditava que os conceitos matemáticos
eram concretos e existiam mesmo antes que nós Soubéssemos deles. Assim como os planetas
existiam antes que nós os descobríssemos. Para Euclides, o pai da geometria, a natureza era
a manifestação física das leis matemáticas. Algo Intrínseco nas formas e simetrias do nosso mundo.
O astrônomo e filósofo italiano Galileu Galilei Acreditava que a matemática era o alfabeto
com que Deus tinha escrito o Universo. Para eles, os conceitos matemáticos e as
relações matemáticas já estavam aí. Com Muita observação, pudemos usar os números como
um instrumento para medir as simetrias dentro Do caos e encontrar padrões.
Um exemplo famoso disso: O matemático italiano Leonardo de Pisa
expressou em números o crescimento de Uma população perfeita e imaginária de coelhos no
que ficaria famosa como a sequência de Fibonacci. Com o passar do tempo, descobriu-se que
essa relação matemática se replica em muitas Outras formas – dentro e fora da natureza.
A teoria geométrica dos nós desenvolvida a Partir do século 18 foi crucial para
explicar, vários séculos depois, Como o DNA se desenvolve ao se replicar.
E o algoritmo que ordena o resultado das buscas
Do Google que talvez tenha te trazido a este vídeo
usa matemática de álgebra linear e de teorias das Cadeias de Markov que surgiram muitos anos antes.
E até mesmo Albert Einstein desenvolveu a Matemática das ondas gravitacionais cem anos
antes que conseguíssemos confirmar sua existência. Bom, se a esta altura você se convenceu de
que a matemática sempre esteve aí e bastava Ser descoberta, como defendia Platão,
eu vou complicar as coisas com dois Conceitos quase opostos: o zero e o infinito.
A invenção do zero, no século sete, foi um Salto na evolução tecnológica da nossa espécie.
Ele representa a ausência de algo. Mas essa não é sua única função na matemática.
Podemos usá-lo graficamente Também para mudar o valor de outros números.
Basta pensar na diferença entre 11 e 101. Os antigos maias também usavam o zero da mesma
maneira, mas escreviam de modo diferente. O zero nos permite escrever mais números
e manipulá-los de forma muito mais rápida. Será que o zero é só um produto do
nosso intelecto, da nossa imaginação? Vamos ao outro extremo: o infinito.
Tudo o que você pode imaginar cabe aí. Mas podemos medir isso?
Podemos chegar ao infinito? Quanto mais me aproximo do infinito, sigo
igualmente longe porque é, bem… infinito. Mas esse conceito nos ajuda a resolver problemas Que não podemos abordar de outros
modos – por exemplo, medir curvas. Para medir uma esfera, não adianta
usar linhas retas, como réguas. Mas se usamos um infinito de linhas
que se envolvem ao redor da esfera E somamos essas medidas, podemos então nos
aproximar muito mais à medida de uma curva. O movimento dos satélites e o mercado financeiro
estão baseados em conceitos que usam o infinito. O infinito, o zero e muitos outros conceitos são
matemáticas que inventamos dentro de um sistema Com regras definidas. E servem particularmente
para o estudo das coisas que não podemos analisar Facilmente, como o mundo quântico ou o espaço. Mas e agora: a matemática é algo intrínseco Do mundo, que estamos descobrindo pouco a pouco?
Ou é o resultado de milênios de observações e Produto da genialidade e da criatividade humanas? E assim o debate continua. Lembrando que a
matemática do código binário tornou possível Que você assistisse a este vídeo, enquanto outras
equações descrevem o átomo que forma a sua tela. E você, o que acha de tudo isso?
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