Juche, a ideologia por trás do isolamento da Coreia do Norte
O que explica o isolamento da Coreia do Norte? O país, que costuma ganhar as
manchetes por seus testes nucleares, é uma das sociedades mais fechadas do mundo. Por trás disso está uma doutrina
posta em prática pela família Kim, Que comanda o país desde a fundação. Eu sou Laís Alegretti, da BBC News,
e neste vídeo conto em três pontos O que levou a Coreia do Norte a
virar uma pária internacional. Antes, vou dar uma dimensão desse isolamento. Menos de 30 países têm embaixadas
ou escritórios comerciais na Capital norte-coreana, Pyongyang.
Alvo de sanções internacionais, é um dos países com o menor fluxo de
importações e exportações do planeta. O auge do isolamento internacional foi
durante a pandemia, quando a Coreia do Norte fechou totalmente, por dois anos, as
fronteiras marítimas e também as terrestres Com a China – e que quem tentasse
sair ou entrar era parado a tiros. O país também recusou ofertas de vacinas contra
a covid feitas pela Organização Mundial da Saúde, a OMS. E nenhum dos líderes da dinastia Kim recua
da ambição de virar uma potência nuclear, Nem do estilo obsessivo de culto à personalidade. E como isso começou? Vamos à história. A República Popular Democrática
da Coreia foi fundada em 1948, Em meio ao caos instalado na região após a
derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. Até então, a península coreana tinha passado 40
anos sob o controle dos japoneses. Mas, com o fim Da guerra, Estados Unidos e União Soviética,
vencedores do conflito, ocuparam militarmente a Península e começaram a exercer sua influência
– o primeiro no Sul e o segundo, no Norte. A península da Coreia acabou dividida. Os soviéticos reconheceram a República
Popular Democrática da Coreia como um Governo comunista liderado por Kim Il-sung,
o primeiro "grande líder" norte-coreano. Em 1950, com a crescente tensão entre
Estados Unidos e União Soviética, Sul e Norte travaram três anos de guerra,
que aprofundaram as divisões regionais. A Guerra da Coreia é considerada por
muitos historiadores como o primeiro Confronto armado da Guerra Fria, como é Chamada a disputa pelo controle global
travada entre americanos e soviéticos. James Hoare, ex-diplomata britânico,
explicou à BBC que os mortais ataques Dos Estados Unidos durante a guerra são
até hoje lembrados – e seguem sendo usados Pelo governo norte-coreano como propaganda
pra alimentar o sentimento antiamericano.
Tecnicamente, Coreia do Sul e do Norte ainda
estão em guerra. Isso porque houve um armistício Em 1953, mas nunca um acordo de paz. Até hoje, o
clima entre os vizinhos é de tensão permanente. E o isolamento, como surgiu? Bom, é uma combinação de fatores,
a começar pelo governo totalitário. A família Kim, começando pelo avô
Kim Il-sung e indo até o atual líder, Kim Jong-un, tem status semelhante ao
de deuses e controla com mão de ferro A vida da população – exigindo obediência e
lealdade ao regime, reprimindo duramente os Dissidentes, impedindo a livre saída do país e
restringindo fortemente o acesso a informações. Essa dinastia pôs em marcha uma ideologia
chamada de Juche, baseada em três pilares: Independência política, autossuficiência
econômica e autonomia militar. Nas palavras atribuídas ao próprio Kim
Il-sung, o Juche se trata de, entre aspas: A acadêmica Grace Lee explicou que essa ideologia
vê com maus olhos a cooperação com outras nações. Assim, nas palavras dela, o Juche fez da
Coreia do Norte um verdadeiro reino ermitão. Essa ideologia serviu, ao longo da
história, para a Coreia do Norte Se vangloriar do distanciamento até mesmo
dos aliados comunistas: a União Soviética, Que colapsou no final dos anos 80, e a China,
que se moveu para uma economia capitalista, Apesar de ser até hoje o maior parceiro
comercial e político de Pyongyang. A partir do Juche, a Coreia do
Norte se enxerga como a única Coreia. É o que explica a repórter do
Serviço Coreano da BBC Hyung Eun Kim: O governo usa o Juche também para justificar
o programa nuclear. Segundo Kim Jong-un, a Posse de armas nucleares é um
caminho para a prosperidade, O progresso e para reforçar a independência
do país. O que nos leva ao próximo ponto. A ambição nuclear norte-coreana começou a
se manifestar publicamente nos anos 1990, Quando Pyongyang abandonou o tratado
de Não Proliferação de Armas Nucleares, Assinado em 1968, e revelou ter esses armamentos. A resposta internacional veio na forma de dezenas
de sanções: restrições ao comércio internacional De energia, armas e outros equipamentos,
por exemplo. Mas nada tem sido suficiente. Pyongyang já testou armas nucleares de
potência maior que a bomba de Hiroshima E construiu um amplo arsenal de
mísseis de médio e longo alcance. Em novembro de 2022, disparou vários deles em Ameaça à Coreia do Sul. Alguns chegaram
perto da costa sul-coreana e do Japão. Já houve tentativas de aproximação com
o regime dos Kim, em particular em 2018, Durante o governo americano de Donald Trump. Kim Jong-un se encontrou com o presidente
americano e suspendeu temporariamente os
Testes de armas nucleares e mísseis balísticos
intercontinentais. Mas retomou essa prática Pouco depois, alegando que não teve seu pedido
atendido pelo fim das sanções contra seu país. Para alguns analistas, o isolamento
norte-coreano é autoimposto, mas também Influenciado pela busca por autoproteção
– por não ter aliados internacionais que Considere confiáveis e por temer uma invasão ou
interferência americana que extinga o regime. Mas é claro que décadas de uma economia
centralizada tiveram seu impacto. Veja só: até o fim dos anos 1970, o PIB
per capita – divisão de riquezas pelo Total da população – era igual na
Coreia do Norte e na Coreia do Sul. Mas daí vieram sucessivas crises locais e
globais, e o resto da história é conhecido: O Sul é hoje uma potência econômica, e o
Norte é um dos países mais pobres do mundo. Por hoje é só, mas tem mais vídeo de
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