‘Fui acusado de defecar no STF e nem em Brasília eu estava’
Entre as muitas imagens de invasão e
depredação em Brasília no dia 8 de janeiro, Uma virou símbolo do desrespeito aos Três Poderes. Circulou nas redes sociais este
vídeo em que um homem abaixa a Bermuda e simula defecar em uma
sala do Supremo Tribunal Federal. No dia seguinte, postagens que viralizaram
divulgaram foto e dados de um funcionário Do Banco do Brasil, alegando que ele seria o
homem no vídeo. Só que, depois de uma apuração, O Banco do Brasil declarou que a imagem "não é de
funcionário citado em fake news em redes sociais". Em poucas horas, a vida de
Thiago Albuquerque, de 41 anos, Virou de cabeça para baixo. Eu conversei
com ele por telefone e ele disse que tinha Ido viajar e nem estava em Brasília no dia das
invasões. Mas segue recebendo ameaças. Por isso, Ele e a família decidiram deixar temporariamente
a casa onde vivem, no Distrito Federal. A velocidade que uma notícia falsa
se espalha não é a mesma velocidade Que uma notícia que vem para corrigir
esse erro não vai na mesma velocidade Ele autorizou a BBC News Brasil a usar trechos de
áudio da entrevista aqui e também a reproduzir a Imagem dele que circulou nas redes sociais.
Mas diante das ameaças, a gente não vai Mostrar vídeos ou outras fotos aqui
para preservar a imagem atual dele. Eu perguntei como ele soube o que
estava acontecendo. O Thiago disse Que na segunda-feira estava de licença
médica, por causa de sintomas de covid, E ficou sabendo por um colega de trabalho
que sua imagem estava se espalhando. Depois disso, começou a ver a
informação circular mais e mais E a receber ameaças. O Thiago comparou
a sensação como a de cair num abismo. A gente fica sem chão. Dá
uma fraqueza na gente, assim, Uma sensação de vazio fica. Você não
tem o que fazer, não tem nada na sua Mão ou no seu alcance que você possa
fazer para desmentir uma situação dessa. O gerente da agência onde ele
trabalha entrou em contato pra Pedir informações sobre o caso. E Thiago
informou à área de segurança do Banco Do Brasil que estava em uma cidade
próxima a Goiânia no fim de semana. Ele apresentou extrato de pagamento no pedágio
de Alexânia, entre Brasília e Goiânia, no sábado, Quando conta ter partido do Distrito Federal, e na
noite de domingo, quando conta que retornou ao DF. Também compartilhou informações da sua linha
do tempo do Google Maps – que, com base no Histórico de localização, mostra os lugares que
a pessoa esteve e possíveis trajetos usados. O Thiago disse que ficou incomodado de se
ver numa posição de ter que provar que uma Acusação sem provas não era verdadeira. E diz
que, em uma hipótese de uma apuração policial, Teria como álibis as pessoas que estavam
com ele fora do Distrito Federal,
Além de imagens de câmeras de segurança em Goiás. Eu tenho ocasiões na minha vida que eu tiro folga,
férias, e eu gosto muito de ir para natureza, De ficar em sítio, sem contato com nada. Imagina
se eu tivesse uma situação dessa? Vamos supor Que demorasse uma semana até eu ter conhecimento
dessa situação. Como é que estaria a minha vida Agora? I Às vezes eu estou saindo lá de onde
eu estou. Pega uma rodovia para num comércio, Quer dizer, eu estou sendo xingado, agredido,
não tô nem sabendo o que está acontecendo. Como o homem do vídeo aparece de
costas e de chapéu, é difícil ver O rosto dele. Mas Thiago diz
não ver semelhanças físicas. Analisando o vídeo, é difícil identificar a
pessoa, mas você olhando o biotipo da pessoa Não tem nada a ver comigo, já começa
daí. Omeu tipo físico é bem diferente, Eu sou bem mais gordinho, o cara é magra
e tudo. E eu parto do princípio que se Você não tem certeza em identificar
uma pessoa, você não deve fazer isso Mesmo assim, ele diz que percebeu desconfiança
inclusive de alguns familiares mais distantes. Eu não sei como que vai ser daqui pra frente
o convívio meu com minha família. Algumas Pessoas estão em minha defesa, outras
não. Nunca tive esse tipo de problema. E eu perguntei pra ele se ele
participou sde outras manifestações Ou do acampanhamento no setor militar em Brasília. Não, não, não. Nunca participei
desse tipo de ato. Não. Agora, ele diz que reúne informações sobre As acusações e ameaças e que vai
buscar orientação de um advogado. O dano à imagem você consegue amenizar.
Você não repara 100% nunca mais. E o que disse o Banco do Brasil? Cobrado nas redes sociais para agir contra o
funcionário, o Banco do Brasil inicialmente Divulgou na segunda uma nota dizendo
apenas que repudiava a violência e que Auxiliaria nas investigações. Ou seja, ainda
não negava que se tratava de um funcionário. Eu conversei com um funcionário do banco que
participou da apuração do caso e ele argumentou Que o fato de o rosto do homem ser pouco visível
no vídeo dificultou a confirmação imediata de que Não era Thiago. E disse também que houve uma
checagem de nomes com autoridades policiais. Só depois disso o Banco do Brasil divulgou a nota Em que disse que não era o
funcionário naquele vídeo. Eu questionei a assessoria de imprensa sobre a
reclamação de que o Banco teria demorado para Desmentir a informação. A assessoria disse que
"assim que teve condições técnicas e evidências Suficientes, comunicou prontamente à
imprensa que se tratava de fake news." E a imagem com a foto e os dados de Thiago
que foi veiculada nas redes sociais é a
Captura de tela de uma plataforma interna
do Banco do Brasil, chamada humanograma. A gente apurou que o banco consegue identificar
os dados do funcionário que acessou o perfil de Thiago. Então eu perguntei para a assessoria
se essa identificação já foi feita. E a resposta foi qu e "foram tomadas todas
as medidas administrativas para apuração Sobre envolvimento de funcionários que possam ter
descumprido normativos internos no referido caso". E a nota do Banco do Brasil não descartou
a participação de outros funcionários do Banco nas invasões, ao dizer que
"auxiliará nas investigações das Autoridades competentes no que for
necessário para identificar qualquer Funcionário que possa ter participado
de atos de vandalismo em Brasília". É isso. Continue acompanhando a gente no
Youtube, nas redes sociais e em bbcbrasil.com. Obrigada pela audiência e até a próxima