Em 4 pontos, por que economia chinesa está em apuros
Depois de avançar de forma acelerada nos últimos
40 anos, a economia chinesa vem perdendo fôlego. As projeções apontam que o Produto Interno Bruto
chinês deve avançar em torno de 5% neste ano. Um percentual razoável se comparado com o de
diversos outros países – inclusive o Brasil, Cujo PIB deve crescer 2,8% -, mas muito aquém
da realidade chinesa das últimas décadas. Nos 20 anos entre 1991 e 2010, o país
registrou um crescimento médio de 10% Ao ano, maior do que qualquer
outra nação no mesmo período. Com exceção de 2020, um ano atípico, de pandemia,
em que a economia chinesa avançou apenas 2,2%, O PIB chinês de 2022 deve ser o menor desde 1990.
Dezenas de milhares de jovens perderam o emprego Enquanto a China tenta se adaptar a uma
estratégia restritiva de "zero covid" e vê Enfraquecer a demanda global por seus produtos.
E isso tudo acontece em um momento em que tem Muita coisa em jogo para o presidente
Xi Jinping e seu terceiro mandato. Mas o que exatamente deu errado? Eu sou Camilla
Veras Mota, da BBC News Brasil, e neste vídeo Explico as razões em quatro pontos e, no fim,
explico como o cenário pode afetar o Brasil. Vamos direto à primeira.
1. Política de "zero covid" Diferentemente do restante
do Mundo, a China continua Imersa em uma política rigorosa de “zero covid".
O país segue submetendo os cidadãos a quarentenas Severas e testes em massa. O objetivo
é erradicar o vírus por completo. E isso tem tido um impacto
visível na economia do país. Em grandes cidades como Zangai, Shenzen e
Pequim as restrições têm se mostrado uma grande Barreira à atividade empresarial e ao consumo.
O governo chegou a anunciar a liberação do Equivalente a cerca de US$ 200 milhões de dólares
para impulsionar pequenas empresas e a área de Infraestrutura e o setor imobiliário
– mas muitos acreditam que as medidas Tomadas pelas autoridades chinesas não estão
sendo suficientes para estimular a economia. Segundo Louis Kuijis, economista-chefe para Ásia
da agência de classificação de risco Standard and Poor's, isso se deve ao fato de que não faz
muito sentido injetar dinheiro na economia Em meio a uma política de "zero covid", em um
cenário em que as pessoas não podem consumir, Gastar dinheiro, e as empresas muitas
vezes não conseguem ampliar a produção. Segundo ponto: crise imobiliária
À política de "zero covid" se soma Rise do setor imobiliário, uma indústria que
foi motor importante do crescimento chinês No passado e que recentemente quase
assistiu à quebra de uma das maiores Incorporadoras do país, a empresa Evergrande.
Há alguns anos o setor imobiliário chinês vem Dando sinais de esgotamento.
Alguns deles bastante claros, Como as “cidades-fantasma” que se espalharam pelo
país: grandes empreendimentos que, devido à baixa Demanda, permanecem vazios ou inacabados.
De um lado, o processo de urbanização que
Levou a construção a reboque desacelerou,
de outro, as taxas de natalidade vêm caindo, Reduzindo a expectativa de demanda
no mercado imobiliário no futuro. Isso tem impacto direto na saúde financeira
das empresas do setor, que cresceram de Forma agressiva com um modelo baseado no
endividamento – o caso da Evergrande, por exemplo. Em meio à crise, algumas pessoas têm se
recusado a pagar as prestações das hipotecas De empreendimentos em construção porque dizem não
ter certeza de que vão de fato receber o imóvel. Tudo isso tem afetado duramente a economia,
já que a cadeia do imobiliário representa até Um terço do PIB da China.
3. Mudanças climáticas Outro fator que está piorando as
coisas são as mudanças climáticas, Terceiro ponto. Ondas de seca e calor fazem
parte dos ciclos climáticos no planeta, Mas as mudanças climáticas vêm tornando esses
e outros eventos extremos mais recorrentes. Em agosto a China passou por uma de suas
piores ondas de calor das últimas décadas, Seguida por uma seca severa.
Um dos locais mais afetados Foi a província de Sichuan, no sudoeste, e a
cidade de Chongqing, que fica no centro do país. As altas temperaturas fizeram a demanda por
ar-condicionado disparar, pressionando o sistema Elétrico em uma região que depende quase que por
completo da energia que vem de hidrelétricas. Um dos efeitos disso foi que as fábricas,
incluindo aqui as de grandes empresas como Apple e Tesla, se viram obrigadas a reduzir
o horário de operação ou fechar por completo. Tudo isso teve impacto direto na economia.
4. Gigantes da tecnologia vêm perdendo Investidores
Para fechar, um Outro fator que explica o baque na
produtividade e no crescimento chinês é a repressão regulatória às empresas
privadas mais bem-sucedidas da China. Sob a gestão Xi Jinping, a China implementou uma
série de controles que têm afetado especialmente O setor de tecnologia. São medidas que vão
desde a área de cibersegurança à legislação Anti-monopólios, e que impactaram
diretamente algumas das companhias Privadas chinesas que se transformaram
em verdadeiros impérios nos últimos anos. Entre elas estão multinacionais
como Tencent e Alibaba, que têm Registrado crescimento menor e até queda no
faturamento nos trimestres mais recentes. O cenário também tem feito essas empresas perderem
investimento. A gestora de fundos Softbank, Por exemplo, reduziu sua participação
na Alibaba. A Tencent, por sua vez, Perdeu o equivalente a US$ 7 bilhões de dólares
em investimentos só na segunda metade deste ano. Esses movimentos sinalizam que o mundo pode
estar começando a se adaptar a ideia de que A China não estará tão aberta pro
mercado internacional como antes. O que leva algumas pessoas a acharem
que Xi Jinping está colocando em
Risco o sucesso econômico que vinha
impulsionando o país nas últimas décadas. Para terminar, o que essa
desaceleração significa para o Brasil? Bom, a China é hoje o principal parceiro
comercial do Brasil, destino de cerca de Um terço das exportações brasileiras.
A pauta é dominada pelas commodities, Especialmente soja, petróleo e minério
de ferro – um item que seria diretamente Impactado pela crise na construção e
no mercado imobiliário, por exemplo. Mas, para além dos possíveis
impactos de mais curto prazo, A concentração da pauta de exportações
brasileira é um risco em si. Se esse for um Momento de inflexão e o modelo de crescimento
chinês mudar, o perfil da demanda global por Produtos básicos também pode se transformar, com
consequência direta pra países como o Brasil. Eu fico por aqui.
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