De Lula a Bolsonaro: quem gastou mais no cartão corporativo?

De Lula a Bolsonaro: quem gastou mais no cartão corporativo?

Lula, Dilma, Temer ou Bolsonaro? Quem 
gastou mais no cartão corporativo? Eu sou Mariana Schreiber, repórter 
da BBC News Brasil em Brasília,   E fiz um amplo levantamento 
para responder essa pergunta. Neste vídeo, eu mostro os 
números e explico o debate   Que está rolando sobre os gastos com cartões. Os números indicam que quem mais gastou, na 
média, foi Lula, em seus dois primeiros mandatos. Isso vale tanto para o total gasto 
pelo governo com esses cartões,   Como para as despesas específicas da Presidência. 
Já Michel Temer registra as menores despesas. Mas antes de destrinchar isso, vamos primeiro 
entender o que é o cartão corporativo. Esse meio de pagamento foi adotado 
no governo Fernando Henrique Cardoso,   Com objetivo de dar mais agilidade para 
compras emergenciais e de baixo valor. Esses cartões são usados não só 
para despesas diretas do presidente,   Mas também de diferentes órgãos, 
como os ministérios ou o Gabinete   De Segurança Institucional, o GSI, 
que cuida da segurança presidencial. Um uso comum, por exemplo, ocorre em viagens 
oficiais de autoridades e servidores. Os gastos são disponibilizados a cada mês 
no Portal da Transparência, uma ferramenta   Da Controladoria Geral da União, a CGU, que 
permite acompanhar as despesas do governo. Um porém é que parte disso fica em sigilo. Ou 
seja, embora o Portal mostre os valores totais,   Não é possível saber detalhes como local da 
compra, o que foi adquirido e por qual servidor. A justificativa costuma ser a segurança 
de autoridades ou garantir o sucesso de   Ações sigilosas, como operações da Polícia Federal É nessa questão da falta de 
transparência que está a novidade   Em uma planilha disponibilizada pelo 
novo governo, poucos dias após a posse. Ela trouxe detalhes de gastos com 
cartão corporativo pelos últimos   Quatro presidentes, retirando o sigilo 
dos detalhes de milhares de operações. A divulgação atendeu a um pedido 
da Fiquem Sabendo, uma organização   Especializada em transparência. Eles tinham 
solicitado isso ainda no governo Bolsonaro,   Mas o pedido foi recusado com base 
na Lei de Acesso à Informação. Um trecho da lei diz que informações 
que possam colocar em risco a segurança   Do presidente e dos seus familiares 
ficarão em sigilo até ele deixar o cargo. Com o fim do mandato de Bolsonaro, a 
justificativa caiu, e as informações   Foram disponibilizadas pelo novo governo, junto 
a despesas de outros presidentes desde 2003. Essa divulgação levou a uma disputa nas redes 
sociais sobre qual presidente teria gastado mais. Os números da planilha criaram muita confusão,  

Porque o governo inicialmente não explicou 
que gastos afinal estavam incluídos. Apoiadores de Lula, por exemplo, argumentavam que 
as despesas dele estavam infladas com gastos de   Ministérios, enquanto a de outros presidentes só 
incluiriam despesas com o gabinete presidencial. Mas essa informação não procede. A Secretaria de 
Comunicação da Presidência da República, Secom,   Demorou a explicar, mas finalmente me respondeu 
no dia 20 de janeiro dizendo que as despesas a   Planilha são restritas a gastos da Secretaria 
Especial de Administração da Presidência. Ou seja, são gastos ligados diretamente ao 
presidente, e não despesas de ministérios. E ao responder meus questionamentos, a Secom 
reconheceu que a planilha está incompleta   E que parte dos gastos da presidência ainda estão   Em sigilo, seguindo recomendação do 
Gabinete de Segurança Institucional. A Secom disse que está preparando 
uma nova planilha com mais dados   E explicação melhor sobre o conteúdo. Bom, como as informações da planilha ainda 
estão confusas, eu analisei os dados do Portal   Da Transparência e da CGU para comparar 
os gastos com cartões pelos presidentes. Os dados disponíveis vão de 2004, segundo ano do 
primeiro governo Lula, até outubro de 2022. Ou   Seja, os dois meses finais do mandato de 
Bolsonaro ainda não entraram no sistema. A partir desses números, eu fiz duas análises 
dos gastos dos últimos quatro presidentes. Comparei a despesa total de cada governo 
e as despesas específicas da Secretaria   Especial de Administração da Presidência, 
que ficam registradas pelo código 110001. E para comparar diferentes 
governos, eu fiz o seguinte:   Peguei o resultado de cada ano, 
atualizei o valor pela inflação   Até 2022. Foi assim que tirei a média 
anual de cada um dos quatro presidentes. No caso de Lula, eu fiz a média de 2004 a 
2010. Ficou de fora o primeiro ano do governo, Para o qual não existem os dados disponíveis na CGU. Já para Dilma, analisei o intervalo 
de 2011 a 2015. Desconsiderei 2016,   Porque ela foi afastada do 
cargo em abril daquele ano. E para Temer, usei apenas 2017 e 2018, 
os únicos anos completos de governo. No caso de Bolsonaro, foi feita a 
média dos gastos entre 2019 e 2022. Somando tudo, inclusive 2016, os quatro 
governos gastaram cerca de R$ 1,78   Bilhão com cartões corporativos, em 
valores atualizados pela inflação. Considerando só os gastos específicos da 
presidência, são R$ 210 milhões em gastos desde 2004. Agora, vamos à média de cada 
presidente. Vou apresentar os   Números arredondados para facilitar a compreensão. Analisando o uso dos cartões por todo o governo,  

As informações da CGU indicam que a gestão 
Lula gastou em média R$ 111,6 milhões por ano. Já o governo Dilma aparece com o segundo 
maior gasto médio: R$ 105,3 milhões. A administração Bolsonaro, por sua vez, 
gastou em média R$ 66,8 milhões ao ano. Por último, a gestão Temer teve 
despesa média anual de R$ 66 milhões. Ou seja, os números indicam uma diferença grande   Entre os governos petistas e 
dos outros dois presidentes. Uma possível razão é que Lula e Dilma tinham 
mais ministérios do que Bolsonaro e Temer. Os   Petistas consideram que um maior número 
de pastas é importante para implementar   Políticas públicas, enquanto os outros 
dois adotaram uma estrutura mais enxuta,   Com o argumento de que o 
Estado deve ser mais eficiente. Mas uma conclusão mais fundamentada depende 
de uma análise mais aprofundada das despesas. Vale notar que o total do governo Bolsonaro 
ainda deve subir, já que faltam entrar no   Portal da Transparência despesas dos últimos dois 
meses do seu mandato. Mas parece improvável que   Esse período eleve o gasto médio anual 
acima do registrado por Lula e Dilma. Agora vamos analisar os gastos específicos   Da Secretaria Especial de 
Administração da Presidência. Ou seja, os gastos diretos da Presidência, sem 
considerar ministérios e outras secretarias. Segundo esse critério, Lula gastou em média R$ 
13,6 milhões por ano nos cartões da Presidência. Bolsonaro aparece em segundo, com R$ 11,3 
milhões. Valor próximo ao gasto por Lula.   Esse valor tende a subir quando os dados de 
novembro e dezembro entrarem no sistema da CGU. Já Dilma fica em terceiro, com 
cerca de R$ 10,2 milhões anuais. Por fim, Temer aparece novamente como o que menos 
gastou, com R$ 6,3 milhões de despesa média na Presidência. As despesas com cartão têm sido 
alvo de polêmicas há muitos anos,   Principalmente por causa de compras específicas. Em 2008, no segundo mandato de Lula,   O Senado chegou a instalar uma 
CPI para apurar o uso dos cartões. Um dos investigados foi o então 
ministro dos Esportes, Orlando Silva,   Que virou alvo após pagar R$ 8,30 em uma 
tapioca em Brasília com o cartão corporativo. Ele argumentou que se enganou no momento 
do pagamento e que ressarciu o valor,   Já que o cartão só poderia ser usado em viagens. Outra despesa dele foi questionada: R$ 20 mil 
gastos com diárias em hotel e alimentação numa   Viagem ao Rio de Janeiro, em que o ministro 
levou a esposa, sua filha bebê e uma babá. Ele argumentou que estava em agenda oficial e   Que a presença da mulher fazia 
parte do protocolo da viagem.

Ainda assim, Silva decidiu devolver 
do próprio bolso mais de R$ 30 mil na época Gastos com o cartão em dois anos como ministro. No caso de Bolsonaro, algumas despesas 
reveladas pela planilha divulgada pelo   Novo governo também chamam atenção, 
como gastos elevados com alimentação e   Abastecimento de combustível em dias que 
ele realizou motociatas com apoiadores. As despesas levantaram suspeitas 
sobre a possibilidade de o cartão   Da presidência ter sido usado não só 
para os gastos da equipe presidencial,   Mas para fornecer lanches e combustível 
para os participantes da motociata. Segundo o professor da USP Gustavo 
Badaró, se isso tiver ocorrido,   O ex-presidente poderia ser enquadrado no crime 
de peculato por desvio de dinheiro público,   Que tem pena de 2 a 12 anos 
de prisão, além de multa. Além disso, poderia ser cobrado a ressarcir 
os cofres públicos na esfera civil. Outras despesas também levantaram esse 
tipo de suspeita. Segundo a planilha,   Bolsonaro gastou R$ 55 mil em uma padaria 
no Rio de Janeiro um dia após a festa de   Casamento do filho Eduardo Bolsonaro, 
que ocorreu em 25 de maio de 2019. O ex-presidente ainda não comentou publicamente   Essas despesas específicas 
reveladas pela planilha. Ao responder sobre o tema em agosto, em entrevista 
a Jovem Pan, Bolsonaro afirmou nunca ter gastado   Um centavo do cartão corporativo para si. 
Disse também que os gastos eram da equipe   De segurança que, segundo ele, teria 80 
integrantes que o acompanhavam em viagens. Mais informações ainda devem ser reveladas. Além 
da nova divulgação prometida pelo governo Lula,   A organização Fiquem Sabendo 
teve acesso às notas fiscais   Das despesas de cartão corporativo de Bolsonaro. Isso permite saber os itens exatos 
consumidos no cartão. A primeira leva,   Escaneada e divulgada no dia 23 de 
janeiro, somava cerca de 2,3 mil páginas   Detalhando despesas do último presidente com 
itens como picanha, caviar, filé mignon e camarão. A organização também está tentando acesso às notas 
fiscais das despesas dos governos anteriores. Espero que esse vídeo tenha ajudado 
a entender melhor esses gastos. Eu vou ficar de olho nesse assunto. Obrigada pela audiência e até a próxima.

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