CURADORIA de ARTE e EDIÇÃO de LIVRO: quem conta nossa história #VocêPodeSer Ep. 6
Chegou o dia dos profissionais que conservam
e transmitem os conhecimentos que a humanidade acumula. Profundo, né? Isso é cultura. A entrevista aconteceu com um curador de arte e um editor de livros. Os seres humanos compartilham um hábito
curioso: Colecionar coisas. Muita gente gosta de selecionar, guardar, preservar e expor itens
divididos em categorias. Essas coleções contam a história da pessoa, seus grandes momentos, mas também contam a história da humanidade. Essa prática é muito antiga, talvez uma herança lá do paleolítico, da idade da pedra lascada, Mas dá para dizer que esse hábito deu origem aos museus, que é um espaço muito mais coletivo, de interesse social. E aí, o trabalho precisou ser feito profissionalmente e, assim, surgiu o curador. E com o desenvolvimento do comércio de pinturas, esculturas, o curador conseguiu furar a bolha dos museus E pode trabalhar em exposições, galerias, coleções particulares. E muito mais do que organizar só fisicamente as peças numa exposição, o curador precisa organizar conceitualmente as obras. É ele que cria uma relação entre elas. E, com isso, ele consegue provocar reflexões, promover o aprendizado e despertar o sentimento dos visitantes nesses lugares. E a mesma coisa com um texto. Mesmo que esteja incrivelmente bem escrito, ainda precisa de muito trabalho para virar um livro. Esse trabalho é feito pelos editores que estão nos bastidores da produção de livros, jornais, revistas e até mesmo sites. Precisa entender o público-alvo, os assuntos relevantes para esse público, aí achar autores, procurar tradutores. E aí, fazer um cronograma e só depois disso que vai começar a mexer no texto mesmo. Para decidir o que vai entrar ou não no livro, o tipo e tamanho da fonte, a paginação, se vai ter ilustração ou não… Ufa, e tudo isso é trabalho do editor que, resumindo, é responsável por transformar bons conteúdos em bons livros. Eu estou aqui no Paço das Artes, em São Paulo, e a gente vai conhecer o Diogo Barros, que é arte educador e curador de arte. E eu já cheguei aqui em Mairiporã eu vou conversar com o Marcelo sobre a profissão de editor de livro. Vamos lá! O que você está fazendo nessa semana? Essa semana, eu estou fazendo uma coisa que eu não faço muito, que são seis livros ao mesmo tempo. Normalmente, eu gosto de trabalhar dois a cada mês. Bom, eu estou escrevendo dois textos. Um sobre fotografia e outro sobre gravura. Esse mês eu já escrevi também sobre duas exposições, tô fazendo duas seleções de obras de arte para o site E tô preparando um curso sobre arte contemporânea que vai ser dado para profissionais da educação. E esse trabalho é sempre a mesma coisa ou sua rotina muda bastante? Muda bastante.
Muda sempre, porque cada livro é
uma história, né? E você acaba entrando nessas histórias. Sempre chega uma exposição nova nos museus que eu trabalho, a gente sempre tem que pensar novas metodologias de mediação. Estou sempre também escrevendo texto novo para o site, então muda o tempo todo. Conta um pouquinho qual é a
tua formação, onde você estudou? Bom, a graduação que eu fiz ela chama Arte: História, Crítica e Curadoria, ela é da PUC de São Paulo e é esse curso interdisciplinar Que te prepara para várias áreas dentro da arte, tanto a parte teórica como uma parte mais prática, Mas não relacionada à prática artística. A maioria dos editores de livros ou fizeram letras ou jornalismo. Eu fiz letras. Agora de uns anos para cá, a USP, em São Paulo, a Anhembi Morumbi, eles criaram um curso para edição. O curso ele prepara esse profissional para fazer tanto curadoria de exposições, essa parte de organizar os trabalhos, De pensar conceitualmente a exposição, como também te dá uma base de história da arte muito boa. E também tem a crítica que essa parte mais jornalística e pensa essa escrita teórica também sobre os trabalhos, Pensa como ler uma obra de arte de um modo mais aprofundado E isso te dá um repertório para trabalhar com muitas coisas dentro da área. Queria que você contasse um pouquinho
da sua carreira, quais foram os lugares que você já trabalhou? O primeiro trabalho depois da faculdade
foi um estágio em arte educação. Eu trabalhei no Sesc e lá tive contato com a arte educação pela primeira vez, fiz esse trabalho de mediação, Depois eu trabalhei em uma exposição ao ar livre no Largo da Batata e, finalmente, entrei no MIS. Então, eu já trabalho lá há quase três anos agora, mas eu também já produzi exposições. Tive a chance de montar uma exposição num festival que é o maior festival de cultura do Brasil, o FIG, Que é o Festival de Inverno de Garanhuns, depois eu também participei de uma residência Em um lugar aqui em São Paulo que chama Adelina Instituto. Adelina Instituto ele trabalha com arte contemporânea também, e eu participei desse programa de incentivo a jovens artistas e curadores. Eu queria fazer letras, mas eu nem sonhava com a ideia de ser
editor. Era mesmo pensando em ser professor e, aí, meu pai que é técnico gráfico falou "mas você vai fazer letras? Professor nesse país ganha tão pouco, né? Faz um curso técnico, você pode ter uma vida melhor, ganhar mais". E aí, eu fui fazer tecnologia eletrônica. O meu primeiro emprego como técnico eletrônico foi numa gráfica que fazia livros E, para mim, era uma coisa muito louca assim, muito legal, porque eu via um livro saindo de uma máquina E pensava "bom, tô pegando esse livro aqui, ninguém ainda leu, nem o autor viu o livro pronto, né? E eu tô aqui com um livro na mão". Aquilo me encantava e, aí depois, 20 anos depois, eu parei, comecei a trabalhar por conta, controlar meu tempo E falei agora eu vou fazer letras que eu tanto queria.
Na hora de escolher uma profissão, a gente sonha com
vários caminhos que levam para o nosso futuro. A gente imagina como a nossa vida pode ser, coisas que a gente vai aprender, o padrão de vida que a gente poderia ter. E nessa hora é fácil cair na
armadilha da idealização, Que é quando a gente cria caminhos que tão longe da realidade. Então, para diminuir as frustrações, a gente sempre tem que manter o pé no chão. Na hora da escolha, é importante
usar vários critérios. s Se você só pensar no lado financeiro, por exemplo, você pode escolher uma profissão que promete pagar muito bem, Mas que não tem nada a ver com você. Ou se você só considerar o
lado afetivo. Você pode escolher uma área que gosta muito e leva como hobby e que, na verdade, era só um hobby. Por isso, é importante equilibrar as coisas e pensar que, independente dos critérios, O que você vai escolher, vai virar uma responsabilidade com prazos, com cobranças. Projetar o futuro é difícil até porque você tem que analisar se as coisas vão dar certo ou não sem estar lá para saber. Por isso, é bom ir com calma na hora de criar esses multiversos. Será que os seus projetos
cabem na carreira que você tá pensando em escolher? Tem alguma característica pessoal que facilita o seu trabalho? Eu acho que para trabalhar com arte, o essencial é curiosidade. Ter paciência. É um trabalho de muita paciência. Muitas vezes, você lê um texto, você fica numa página, sei lá, um dia inteiro. Com paciência também para lidar com o autor. Você tem que ter bastante convicção do que você está falando para você convencer Um artista a mudar alguma coisa, a mudar tudo às vezes, né? Ou então a jogar aquilo fora e começar outro assim, é muito delicado. Às vezes o cara passou um ano, né, escrevendo um livro Para você chegar para ele e falar "cara, tá ruim. Não publica". O quanto conhecer o lado histórico, ter referências do passado é importante para o seu trabalho? É interessante essa pergunta porque hoje a gente vive um momento de revisões históricas, né? Os museus produzem exposições nessa onda de estudos decoloniais, são expressões que olham para nossa história Tanto da arte, como história social, como modo mais crítico. Se eu trabalho com literatura, eu preciso conhecer Machado de Assis, né, ler os clássicos. E aí, também é importante o seguinte ler e entender que ele escreveu aquilo no século retrasado. Então, ter uma noção de que a nossa história da arte ela foi
excludente durante muito tempo é essencial para a gente poder mudar e criar uma história nova agora. Dá para se espelhar naquilo, mas eu tenho que trazer as coisas para o dia de hoje, a linguagem para o dia de hoje. Então, a gente vê várias exposições sobre o protagonismo de artistas negros, artistas indígenas, de artistas trans também. E esses grupos, esse recortes que foram excluídos da história da arte durante muito tempo, agora tem essa chance
De ter um protagonismo. O que que alguém que trabalha na sua profissão enxerga no dia a dia que outra pessoa não enxerga? Detalhes da vida, assim, as coisas pequenas, né? Acho que se você olha de modo crítico a arte, você consegue olhar de modo crítico outras coisas que não são da arte também. E o que é difícil para está começando? O mundo dos livros é muito específico, né? Você tem toda essa beleza de se fazer livro, a importância cultural de se fazer livro, mas, no final, o livro é um produto a ser vendido. E é um produto que as pessoas não precisam dele para viver. Você precisa comer, você precisa tomar banho, mas você não precisa necessariamente ler um livro, né? Então, essa parte, aprender o comercial, para mim, acho que foi a mais difícil. O difícil no começo é você realmente conseguir uma estabilidade. Então, até você conseguir uma estabilidade como CLT e ter um trabalho fixo, ele é um pouco difícil. Como é que tá o mercado? É fácil de arrumar emprego para quem se formou nisso? Se a gente compara com outras profissões mais corporativas, ele é um trabalho, ele é um setor, na verdade, Um pouco mais difícil de entrar. Em específico, o que eu trabalho na editora, é muito difícil, que é a literatura brasileira contemporânea, Literatura feita por autor brasileiro vivo, né? Aquele cara que não é famoso, então é um mercado muito difícil. A gente tem que lembrar que a arte também é um meio ainda muito elitista, né? Então, para pessoas que não tiveram contato com o universo das artes, como foi o meu caso desde criança, Fica um pouco mais difícil de você se localizar e entender ali
as possibilidades que você tem de trabalho. A gente cria essas fichas de mediação que podem
ser usadas por qualquer pessoa, E ela envolve tanto um trabalho de leitura de obras, parte estética,
como conceitual também. Então, são perguntas que vão tentando mediar essa experiência. A gente vai no lugar e fica meio perdido, né? Você fica, você não sabe o que se perguntar, o que prestar atenção… Guia um pouco o olhar. Muitas vezes a arte contemporânea tem essa coisa de parecer algo que é difícil de ser lida, difícil de ser compreendida E aqui a gente faz esse trabalho de tentar quebrar um pouco
essa distância que muitas vezes existe. Esses livros são seus aqui? São os meus livros publicados. Esse é o primeiro, O espúrio. Esse é o único que foi publicado pela minha editora, mas não fui eu que editei. Você não editou nenhum desses aqui?
Não, nenhum desses. Eu confio no trabalho do editor, eu valorizo esse trabalho. E esse título aqui? O que quer dizer desse livro? Então, esse livro aqui, na verdade, é esse mesmo, ele foi publicado na Alemanha em 2018, A história se passa em Koln, na Alemanha, e em São Paulo, aqui no Brasil. E aí, eles deram o título lá de São Paulo – Koln para facilitar. Você vê que no alemão as palavras são tão grandes que é o mesmo livro, mas esse aqui é o dobro da grossura. Agora vou fazer as perguntas
que o público, né, vocês mandaram para gente. A gente parte do princípio que não existe pergunta boba. O que faz exatamente um curador? Ele pensa os conceitos por trás das obras de arte, organiza elas no espaço e apresenta esse conjunto para o público. Editor de jornal e de revista é a mesma coisa que
o de livros? É basicamente o mesmo trabalho, muito parecido, o que vai mudar são os textos. O curador é quem escolhe o que é bonito e o que não é? Cada um escolhe o que é bonito e o que não é individualmente, né? Mas o curador ele pensa como que isso é bonito e por que ele não é bonito, por exemplo. Quanto tempo demora para editar um livro? Tem livros que vêm muito pronto, mas eu já passei mais de um ano editando o mesmo livro. Acho que o mínimo para se editar um livro, você precisa de aí pelo menos um mêszinho. Quando você tá na faculdade, você estuda matérias como acessibilidade para criar exposições mais acessíveis? Sinceramente, não. A gente não tem muitas matérias, mas é uma necessidade. O editor de vídeo corta os trechos mais chatos e muda coisa de lugar. O de livro também? Também. É uma profissão democrática
ou é uma profissão elitizada? Elitizada. A luta é que cada vez mais pessoas diferentes consigam entrar no setor e mudar um pouco esse cenário. É possível editar mais de um livro de uma vez ou as histórias se misturam na cabeça? Prefiro fazer um, terminar e pegar outro, mas tem vezes que o compromisso, o prazo te obriga E, sim, você fica tão envolvido que pode acontecer. Você tem que tomar muito cuidado. O curador pode trabalhar num museu que não seja de arte, museu de ciências, por exemplo? Com certeza, a gente tem museu de todo tipo no Brasil e sempre é interessante que tenha a figura do curador Para pegar esse acervo e pensar como ele pode ser construído, aumentado, conservado e apresentado. Depois de lidar com tantos livros assim, o vocabulário fica mais rico mesmo, né? E qual é a sua palavra
estranha preferida? Sim, fica. Uma das vantagens de se ler é essa, inclusive. É ampliar o vocabulário.
E a minha palavra preferida é espúrio, que é um título de um livro meu, inclusive. Quer dizer uma coisa que você abandonou, é um espúrio seu, algo que você fez, mas que você tem vergonha, Você quer esconder. De onde vem essa palavra curador? Tipo, um remédio que cura dor? Esse termo está muito ligado a ideia de cuidar, né? Então, a partir do momento que você tem as obras de arte, O que você faz com elas? Como você cuida? E, justamente, como que você apresenta elas? Quais são os programas que se usa para editar uma obra? É só no Word mesmo? Normalmente, a gente recebe os originais em Word. Eu gosto do Word, porque no Word eu já posso ir, inclusive, fazendo modificações com facilidade, né? Agora, depois, aí sim para diagramar o livro aí, tem o Indesign, tem uns programas específicos para você criar mesmo o arquivo do livro Para mandar para a gráfica. É o curador que pensa a parte mais
educativa das exposições? O ideal é que a curadoria já pense o educativo, mas a gente tem profissionais específicos de arte educação também nos museus. Mas é o curador que escreve todas as legendas, aquela introdução que fica num painel e tudo mais? É. Qual é que é o topo da profissão? Acho que a gente pode considerar os curadores de Bienais, né? São exposições gigantescas, históricas e que tem visibilidade internacional. Então, você consegue mostrar seu trabalho para pessoas de
diversos lugares do mundo. Para mim, o auge é, assim, é isso que eu tô vivendo hoje. Tenho minha pequena editora, uma editora que tem um reconhecimento, que conquistou prêmios importantes. Não vou ter aquele salário nunca, mas é o suficiente para manter a editora e a minha vida, esse para mim é o auge. Mas pode ser esse, né? Sabe se de repente se eu tivesse, sei lá, ainda 30 anos, talvez eu quisesse ser CEO de um grupo editorial gigantesco. Como que a sua profissão pode mudar o mundo para melhor? Eu acho que a cultura num todo ela muda o mundo para melhor. Quando você se enriquece culturalmente ouvindo música, Indo ao teatro, se envolve com essas coisas que são emocionais, né? Lendo uma boa história, Você se torna uma pessoa melhor, mais sensível. Acho que pensamento crítico. Se você se debruça para ver as obras de arte de modo crítico, Você consegue olhar o mundo também de um modo crítico e é
essencial hoje em dia. Só vale responder sim ou não agora, hein? Você julga secretamente os quadros nas
casas dos amigos? Sim.
Fazer orelha em livro deveria ser proibido? Sim. Algum amigo já te mostrou um desenho
dos filhos para você avaliar? Já. Você já leu todos os livros que tem aqui na sua casa? Não. Você lê todas as plaquinhas das exposições que você vai? Não. Você sente falta da revista impressa? Sim. Qualquer peça pode ser arte contemporânea? Sim. Já pensou em desistir e mudar de profissão? Não. Você já fingiu que entendeu uma
obra de arte? Sim. Já quis pedir para o autor mudar o final do livro? Sim. Tem algum artista que todo mundo
gosta e que você não? Sim. Você já estragou alguma formatação colocando uma imagem ali no meio do
texto? Não. Quando você viaja, você só fica em exposição em museu? Não. Quando você está numa livraria, você
abre um livro para ver o seu nome nele? Sim. De noite as peças ganham vida? Sim. O e-book nunca vai
substituir o cheiro do livro? Na verdade, eu acho que não, mas o e-book vai substituir o livro. O que eu respondo? Oi, pessoal do Manual do Mundo. Meu nome é João Henrique, tenho 23 anos E meu primeiro contato com vocês foi no vídeo do ferro fluido,
Eu tinha 14 anos e eu ia participar
de uma feira de ciências. E, depois disso, foi um vídeo atrás do outro. Eu me interessei bastante depois pelo tema de física a ponto de me formar hoje em engenharia física E estar participando do projeto Sirius, que é o projeto de construção de uma acelerador de partículas brasileiro. Beijão.