Como grupo Wagner conquistou dinheiro e poder além das fronteiras russas
O grupo de mercenários Wagner ganhou visibilidade
mundial por causa do seu papel-chave na guerra Da Ucrânia e, nos últimos dias, por causa de um
motim que causou fortes dores de cabeça à Rússia Mas os tentáculos do Wagner vão muito
além da Ucrânia e das fronteiras russas: Se estendem por diversos países na África, no
Oriente Médio e talvez até na América Latina Eu sou Camilla Veras Mota da BBC News
Brasil e neste vídeo explico onde esse Grupo paramilitar opera hoje – e o que
pode acontecer com ele a partir de agora Antes, uma breve recapitulação sobre o que é o
grupo Wagner e por que ele entrou no noticiário É um exército privado que até 60 mil homens
que foi começou a atuar na Ucrânia em 2014, Apoiando separatistas pró-Rússia Embora formalmente o grupo não tenha uma relação
com o governo russo, seu líder Yevgeny Prigozhin Era, pelo menos até os últimos dias, uma das
pessoas mais ricas e influentes da Rússia Após passar dez anos preso, ele começou
vendendo cachorro-quente na Rússia, Virou dono de restaurantes e se
aproximou do presidente Putin A partir daí, passou a fornecer comida para
escolas, miltares e até para o Kremlin, Enquanto ampliava seus negócios para
outros ramos – entre eles, o Wagner A partir da invasão na Ucrânia, em 2022,
os mercenários passaram a protagonizar Algumas das batalhas mais sangrentas da
guerra, sempre em defesa da Rússia – eles Inclusive reivindicaram a tomada de
Bakhmut, uma cidade duramente disputada Mas ao mesmo tempo em que seu grupo
ganhou relevância, Prigozhin passou A rivalizar em poder e influência com a
cúpula das Forças Armadas oficiais russas Prigozhin acusava o Exército de ineficiência, De erros na guerra da Ucrânia e
falta de apoio adequado ao Wagner E, no estourar da crise, acusou os
militares russos de atacarem o grupo A insurreição da última semana foi
justamente o auge dessa rivalidade Os mercenários tomaram temporariamente uma
cidade russa e começaram uma marcha rumo a Moscou Mas, em menos de 24 horas,
Prigozhin acabou recuando, Em uma negociação cujos
detalhes não vieram a público Agora, ele está exilado em Belarus, e as
consequências do motim – inclusive o aparente Enfraquecimento do governo russo de Vladimir
Putin – ainda estão sendo sentidas e analisadas Mas o fato é que, pelo menos até a insurreição, o
grupo Wagner tinha sido muito útil para o Kremlin Isso porque operava às sombras, fazendo uma
espécie de trabalho sujo em regiões do mundo Onde o governo russo tem interesses políticos e
comerciais, sem envolver o Kremlin diretamente Mas como – e onde – isso se dava na prática? A Síria foi um dos primeiros lugares
para onde o Wagner se expandiu
Na guerra civil síria, rebeldes
apoiados pelo Ocidente passaram A combater o governo do presidente Bashar al-Assad Vladimir Putin saiu em socorro de Assad,
seu aliado, mandando tropas oficiais E o Wagner também entrou em cena a
partir de 2015, não só combatendo Ao lado do Exército sírio, como protegendo os
campos petrolíferos controlados pelo governo, Em troca de parte do dinheiro
arrecadado com a exploração Esse mesmo modo de atuação avançou para países da África, se retroalimentando das
rivalidades políticas na região Na Líbia, o grupo passou a combater ao
lado do general rebelde Jalifa Haftar, Tentando derrubar um governo
respaldado pela ONU Lá, os mercenários chegaram a controlar a
operação de campos de petróleo do governo E também passaram a operar em países como Mali, Sudão e República Centro-Africana –
não só oferecendo homens para combate, Como fazendo treinamento de tropas, serviços de
segurança privada e participação em operações Rentáveis como minas de ouro e diamantes, poços
de petróleo e extração de madeira, por exemplo Mas o grupo também é acusado
de agir criminalmente, Cometendo por exemplo cometendo execuções
sumárias, sequestros e tortura Acredita-se que a África seja
especialmente importante para o Wagner, Porque controla operações rentáveis que se alinham
à estratégia de expansão da influência da Rússia O Mali é um caso curioso: até recentemente,
o país tinha a França, sua ex-colonizadora, Como aliado impopular mas estratégico, para
combater a insurgência islâmica no norte do país. Mas, a partir de 2022, as tropas francesas
foram substituídas por mercenários do Wagner O ministro de Relações Exteriores do Mali,
Abdulaye Diop, chegou a declarar, entre aspas: “A Rússia está aqui a pedido do Mali e responde de Maneira efetiva às nossas
necessidades estratégicas” Cenário parecido se deu na República
Centro-Africana, onde o Wagner ocupou O espaço deixado pelas tropas francesas e
ajudou o governo a frear o avanço de rebeldes Nas palavras de Paul Stronski, pesquisador Do centro de estudos Fundo Carnegie
para a Paz Internacional, o Wagner… “… é o representante mais importante
da Rússia na República Centro-Africana, Dando segurança ao governo, facilitando
a influência política e diplomática russa Ganhando acesso a lucrativos recursos minerais” E existem indícios de que o Wagner
tenha alguma presença na Venezuela Em 2019, a agência de notícias Reuters
reportou que mercenários do grupo voaram a
Caracas para reforçar a segurança do presidente
Nicolás Maduro em meio a uma onda de protestos O Wagner também é acusado de elos
com o garimpo ilegal na Venezuela Por fim, o Yevgeny Prigozhin é acusado inclusive
de ter participado do financiamento de campanhas De desinformação e fake news na internet, como
a que ocorrida nas eleições americanas de 2016 Mas será que a rebelião dos últimos dias
vai significar o fim do grupo Wagner? A resposta é provavelmente não, apesar de
a Rússia ter dito que pretende incorporar Os mercenários ao seu Exército formal
e pedido que eles entreguem suas armas Acontece que vai continuar
a existir a demanda pelos Serviços prestados pelo Wagner a países instáveis Além disso, como o grupo se desmembrou em vários Empreendimentos comerciais que
vão além da atividade paramilitar, Ele também ganhou influência política
e acesso a lucrativos recursos naturais O professor Rasmus Nilsson, da Universidade
College London, acha que uma possibilidade é que O Wagner acabe se subdividindo em vários grupos,
a depender de qual seja a fonte de financiamento Por fim, os laços estabelecidos com a ajuda do
grupo Wagner na África também são importantes Para a própria Rússia, que enxerga o continente
africano como um espaço onde pode ampliar seu Poder, buscar apoio internacional e
vender armas e equipamentos militares Agora, uma dúvida ainda maior é: qual
será o destino de Yevgeny Prigozhin? Por enquanto ele está em Belarus, em
exílio, em condições das quais pouco se sabe Mas o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko,
disse à imprensa local que Vladimir Putin, De quem é forte aliado, cogitou, entre
aspas, “varrer Prigozhin do mapa” Lukashenko disse ter convencido
Putin a repensar seu plano, Argumentando que matar Prigozhin poderia causar
um novo levante entre os mercenários do Wagner O Kremlin não tinha comentado isso até
o momento em que eu gravo este vídeo É um tema que a gente vai seguir
acompanhando por aqui Veja mais notícias no nosso canal no YouTube,
nas redes sociais e em bbcbrasil.com Obrigado e até a próxima