As fotos de natimortos que ajudam mães no luto: ‘É tudo que tenho dela’

As fotos de natimortos que ajudam mães no luto: ‘É tudo que tenho dela’

Sara Tonkin e o marido passaram dez anos tentando 
engravidar até que decidiram fazer fertilização in   Vitro. Um embrião foi implantado e a expectativa 
era grande para saber se tinha dado certo.  Quando o teste de farmácia deu 
positivo, a alegria foi enorme.  Eu ia no banheiro a toda hora fazer exame, mesmo 
sabendo que estava que eu já estava grávida, que   Deu certo. Assim você fica besta, né? Acho que a coisa mais linda do mundo é você estar esperando seu primeiro filho. Sara é brasileira e mora em Londres com o marido inglês. Ela conta que a 
gravidez foi tranquila, sem complicações.  Quando estava com 41 semanas e meia de 
gestação, foi ao hospital fazer a indução   Ao parto que já estava agendada.
Eu fui para o hospital no sábado.   E a médica disse que se eu fosse eu estava 
com medo. Se eu não estava preparada,   Eu não precisava fazer a indução e que eu 
podia ir pra casa e esperar até segunda feira.  As contrações começaram e ela voltou 
ao hospital. Uma enfermeira trouxe   Uma máquina para monitorar os batimentos do bebê
Eles vieram pra checar com aquele monitor zinho,   Só pra ver o batimento ali. Eles já não 
conseguia mais achar o batimento da minha filha.  Aí ela começou a olhar, começou a olhar 
e foi chamar uma outra pessoa que acabou   Trazendo um monitor para fazer o ultrassom
Foi então que Sara ouviu a notícia mais temida   Por quem está prestes a dar a luz.
E aí ela disse, mãe, me desculpa,   Mas o batimento não está aqui. Eu falei assim: é impossível, eu vim ao médico hoje de tarde, E a médica disse que estava tudo normal e que eu não precisava me preocupar Ela já estava com dez centímetros de dilatação   E foi encaminhada para concluir o parto normal.
Ali eu já comecei a gritar porque eu já estava   Com bastante dor e ao mesmo tempo a dor de 
dizerem que eu tinha perdido a minha filha,   Minha filha que eu tanto quis, então foi bem 
difícil mesmo, mas eu já entrei em choque.  Quando a bebê nasceu, perguntaram se ela 
queria ver e segurar o corpinho. Mas,   No momento de choque e dor, Sara disse que não.  Eu disse: não quero ver, vai me traumatizar.
Eu não sabia… eu não sabia que eu queria ver Eu não sei como foi na hora Foi muito… A emoção era demais. Na minha cabeça, eu só queria sair daquele hospital.  Também perguntaram se ela queria fotos 
profissionais da bebê e uma caixinha para   Levar para casa com recordações, como fios 
de cabelo e impressão digital do pezinho.  Eu recusei tudo.
E quando eu segurei a minha filha,   Eu tive. E eu desmoronei. Eu não. Eu que 
agarrei. Eu queria. Eu chorei. Mas aí eu  

Já estava indo embora e meu marido tentou me 
levar. Então eu não passei muito tempo com ela.   Que eu me arrependo muito, me arrependo 
muito, mas eu estava em choque.  Alguns dias depois de chegar em casa, Sara foi 
visitada por uma enfermeira especializada em luto,   Um serviço oferecido pelo NHS, o 
serviço público de saúde britânico.  Foi aí que ela perguntou se eu 
queria fotos e eu disse que não.  Eu falei que achava que ia me traumatizar olhar foto da minha filha morta E ela até falou assim: Sara, eu 
garanto que eu vou estar lá no dia,   Eu vou vestir a TT com a roupinha que 
você escolher e eu vou ter certeza que   Eles vão cuidar bem dela. Então foi 
muito lindo do jeito que ela falou,  No Reino Unido, a prática de tirar fotos de bebês 
que nascem mortos para oferecer às mães virou   Orientação oficial em vários hospitais públicos.
Enfermeiras são treinadas para fazer o registro   Ou trabalham em contato com ONGs que 
oferecem fotografias profissionais.  Sara acabou decidindo que 
tirassem as fotos da filha.  A bebê permanecia no hospital porque faria 
uma autópsia. O exame revelaria que havia   Mecônio no corpo da bebê – as fezes do feto 
que, se eliminadas no líquido amniótico   Antes do nascimento, podem ser perigosas 
tanto para a mãe quanto para a criança.  A filha de Sara possivelmente havia morrido por 
asfixia, pelo contato com o fluído com mecônio.  Nesse dia eu decidi ir, tomei coragem, eu falei 
eu quero vê la. E nós fomos a uma sessão. Já   Tinha acabado a sessão de fotos, mas eu 
ainda consegui segurar ela mais uma vez.  TT é o apelido que Sara e o marido haviam 
dado para a bebê. Significa Tiny Tonkin,   Ou pequena Tonkin- o sobrenome do casal.
Dias depois, as fotos da bebê chegaram   à casa de Sara. Ela conta que 
foi um momento de muita emoção.  E hoje em dia é tudo o que eu tenho 
dela. São poucas fotos, não são muitas,   É, mas são umas fotos muito bonitas, porque pelo 
menos são as fotos dela. Então são. É o meu bem,   é tudo que eu tenho hoje. A vida dela 
todinha está dentro de uma caixinha, né?  Sara conta que montou um cantinho na casa com as 
fotos da bebê. Um ano depois ela teve outra filha,   Luna, que hoje está com três anos, e em 2022, 
teve outra bebê, hoje com sete meses. As duas   Sabem que tiveram uma irmã mais velha. Um 
dia Sara estava triste, com saudades da TT,   E se surpreendeu com a atitude de Luna.
Ela falou: Por que você está triste? Eu falei:   Eu estou com saudade da Titi. Aí ela falou assim: 
Mas não tem problema, mamãe, ela está aqui.   Ela foi pegar meu celular para mostrar a foto.   A psicóloga Daniela Bittar, especializada 
em luto materno, explica que o contato da   Mãe com o bebê e o acesso a fotos dele, 
são importantes para processar a perda.  No choque, muitas mulheres não querem ver o 
corpo do neném ou seguem o conselho dos médicos,  

De não segurarem o bebê. Mas, depois, 
essa ausência de despedida dificulta o   Processo de elaboração do luto.   Ela vai entrar numa dor muito aguda, e de uma culpabilização, que é na verdade o que geralmente vira O luto traumático, é muito complicado. E é sabido Que a grande maioria das mulheres que não viu que 
não, que não teve um contato sequer com esse bebê   Quando ele nasce, tem mais predisposição 
a entrar num conflito interno depois.  Essa mulher que não viu e falou "então tá" para o médico, "então eu não vou ver" Eu vou te falar que de cada dez mulheres que eu 
atendi e que não viu, queria voltar lá e   Desenterrar essa criança depois. Tinham 
sonhos desesperadores de não ter visto.  Enquanto no Reino Unido a prática de tirar 
fotos de bebês natimortos é bem difundida,   No Brasil o tema é pouco discutido. O 
único projeto que existe foi iniciado   Pela fotógrafa Paula Beltrão, em Minas Gerais.
Juntamente com a psicóloga Daniela Bittar e a   Obstetra Mônica Nardy, ela fundou o Grupo 
Colcha, para oferecer fotografias e apoio   Psicológico a mulheres que perderam seus bebês.
Quando a gente está em uma perda gestacional,   Quando a mãe perde um filho ainda na barriga 
ou logo após nascer o bebê que nasce,   Ela não criou memórias afetivas aqui do mundo 
de fora. As memórias dela são do bebê dentro   Da barriga. E essas memórias, elas precisam 
primeiro ser respeitadas e elas precisam ser   Materializadas de certa forma.
Então a fotografia vem   Justamente para tampar essa lacuna, que já são muitas quando a gente tem uma perda gestacional  Segundo Beltrão a fotografia também tem a função   De garantir às mães um registro que “comprove” 
ou torne “mais real” a parentes e amigos a   Existência do filho que morreu antes de nascer.
Essas mães que perdem os bebês ainda muito   Novinhos ou ainda na barriga, elas já são mães 
e elas querem e tem o mesmo orgulho de mostrar   O filho delas como qualquer outra mãe.
A psicóloga Daniela Bittar explica que   é comum parentes de mulheres que tiveram filhos 
natimortos não entenderem a dimensão da dor delas.  Isso porque esses familiares e amigos não 
tiveram a oportunidade de conhecer a criança   E criar memórias afetivas com ela.
Mas a mãe do bebê já desenvolveu,   Ao longo da gestação, uma conexão 
emocional e biológica com ele.  A perda dessa criança também pode provocar dor intensa no parceiro, que acompanhou a gestação da mulher Mas ainda sim, a conexão física torna a experiência da mãe única, segundo Bittar O trauma não acontece no advento em si, porque 
ele só produz a causa da dor. Mas o trauma   Acontece no não reconhecimento desse vínculo. 
Então, por que as fotos são tão importantes?   Porque quem faz? Quem é essa criança?
 Segurar o filho e ter fotos dele ajudam   No processo de luto, porque o luto 
passa primeiro pelo reconhecimento  

Daquela pessoa que partiu, explica a psicóloga.
Segundo Bittar, muitas mulheres que, no momento   De choque, não seguraram seus filhos e que não 
tiveram a oportunidade de ter fotos deles, acabam   Presas num loop de culpa por não terem estado 
com seus bebês, olhado para eles e se despedido.  É por isso que o processo in loco, de quem está conduzindo o parto, Da midwive que vai ali receber essa criança com sua mulher, Que vai dizer para ela assim:
"Não, vamos ver sim, pega no colo, se despede" Isso vai ser de extrema importância, porque depois ela sente inclusive culpa De não ter visto esse filho  Sara Tonkin conta que, pouco após a filha 
nascer sem vida, ela viajou ao Brasil. Lá,   Percebeu que amigos e parentes tentavam evitar 
o assunto, por considerarem que falar sobre a   Morte da TT iria deixá-la mais deprimida.
“Ninguém sabia como lidar comigo, porque   Eles não queriam falar do assunto. Eles achavam 
que se falassem iriam me magoar. Mas eu achei aquilo Ruim, porque para mim eles tinham esquecido. Ninguém queria falar sobre ela. E eu   Gosto quando as pessoas falam dela.”
Foi em grupos de apoio, compartilhando   Sua experiência e ouvindo outras 
mães, que Sara primeiro encontrou   Acolhida e espaço para falar da filha.
E as fotos ajudaram Sara a comunicar   Para os outros a dor e a saudade que sentia, 
mas também todo o amor que tem pela filha.  Ela nasceu – ela foi até 41 semanas e meia e nasceu morta, mas nasceu Então assim: ela estava ali, ela estava… em carne né Então eu não gosto quando a pessoa simplesmente esquece dela Para mim, é muito importante falar

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