As dúvidas sobre o que Lula pretende fazer como presidente
Luiz Inácio Lula a Silva foi criticado ao longo da campanha pela falta de detalhamento de suas propostas em áreas relevantes como a política econômica que ele poderá adotar em um eventual novo mandato.
Passadas as eleições, o questionamento permanece: Lula está recebeu um “cheque em branco” dos eleitores?
É isso que nossa repórter Paula Adamo Idoeta aborda neste vídeo.
Assista e confira.
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Eleito para um terceiro mandato, Luiz Inácio
Lula da Silva foi cobrado ao longo da campanha Por mais detalhes nas suas propostas.
Eu sou Paula Adamo Idoeta, da BBC News Brasil em Londres, e neste vídeo vou discutir:
Lula foi eleito com um cheque em branco? No jargão popular, dar um cheque em
branco significa dar um grande voto De confiança em alguém, que em tese pode
escrever no cheque a quantia que quiser. Cientistas políticos, economistas
e políticos divergem sobre se esse é o caso na eleição de Lula.
A promessa inicial era um plano De governo detalhado de 50 páginas. Não foi
bem isso. O programa de governo do petista, "Diretrizes para o programa de reconstrução
e transformação do Brasil", tem 21 páginas. Nele, a coligação em torno de Lula se compromete,
por exemplo, a acelerar a atividade econômica Retomar a geração de empregos, potencializar
gastos sociais e promover o desenvolvimento Justo, mas sem se aprofundar. Um trecho diz:
Temos compromisso com o desenvolvimento econômico Sustentável com estabilidade, para superar a crise
e conter a inflação, assegurando o crescimento e A competitividade, o investimento produtivo, num
ambiente de justiça tributária e transparência na Definição e execução dos orçamentos públicos,
de forma a garantir a necessária ampliação de Políticas públicas e investimentos fundamentais
para a retomada do crescimento econômico". Pouco antes do segundo turno, em 27 de
agosto, o PT divulgou também uma carta De 13 pontos assinada por Lula.
Na carta, Lula faz uma série de Promessas como retomar obras paradas nas
27 unidades da federação , construir uma "Nova Legislação Trabalhista" e implantar
um programa de crédito a juros baixos para Micro, pequenas e médias empresas.
O problema, segundo alguns críticos, é que as propostas na área econômica
não estariam suficientemente detalhadas. Alguns economistas têm dito que não está
claro como a conta vai fechar, ou seja, Como atender uma demanda crescente por gastos
públicos e manter a responsabilidade fiscal. Alexandre Schwartzman, doutor em
economia e ex-diretor do Banco Central, Acha que o cheque dado a Lula está em branco
porque, entre aspas, “você não ouviu o Lula Fazendo nenhum grande compromisso na área
econômica. (…) A gente não sabe se o Lula E o PT aprenderam com os erros do passado ou
se vão continuar a fazer as mesmas coisas”. O economista opina que a política econômica
adotada pelos governos do PT a partir de 2006, Ou seja, a partir do segundo mandato de
Lula, marcado por um grande volume de gastos Em infraestrutura, foi equivocada. Na visão
de Schwartzman, essa política teria sido em Parte responsável pela crise econômica
que o país enfrentou a partir de 2015. Recentemente Lula admitiu que sua sucessora, Dilma
Rousseff, teria cometido erros na condução da Economia, como o programa de desonerações adotado
por ela para manter um nível baixo de desemprego
E compensar os efeitos da crise financeira global.
Esse programa de desonerações, ou seja, de redução De carga tributária para determinados setores
da economia, acabou tendo um custo estimado de Mais de 400 bilhões de reais, segundo cálculos da
Receita Federal para a Folha de S. Paulo na época. No segundo mandato de Dilma, quando a situação
econômica do país já era bem mais frágil do que No primeiro, a mandatária foi acusada por
alguns setores de estelionato eleitoral: De ter prometido em campanha que não haveria
cortes de benefícios sociais ou trabalhistas, Mas de descumprido isso ao assumir e
promover uma política fiscal mais rígida. De volta a Lula na campanha atual, a
equipe do petista tem rebatido a crítica De que as propostas econômicas sejam vagas.
Eleito vice-presidente na chapa de Lula, Geraldo Alckmin afirmou no Twitter que a
política econômica do futuro governo terá Como tripé “credibilidade, estabilidade,
previsibilidade” Lula já falou: responsabilidade fiscal é inegociável Alckmin lidera a equipe De transição. Até agora, foi anunciada
uma proposta de emenda à Constituição Para bancar despesas que não constam do
Orçamento enviado pelo governo Bolsonaro, Mas que o novo governo diz serem inadiáveis.
O orçamento com que nós estamos trabalhando Foi aprovado legitimamente pelo atual governo
e legitimamente o governo eleito está fazendo Gestões para emendá-lo, para que ele
possa se adequar à maneira de governar Do novo governante eleito legitimamente
pelo povo brasileiro Essa é uma preocupação, não interromper,
garantir um orçamento para garantir o Funcionamento de serviços públicos ou
paralisação de obras públicas. Isso não Está adequado no orçamento enviado para o
Congresso nacional. Então há necessidade De ter uma suplementação para garantir
os serviços, as obras, e ao mesmo tempo Garantir o Bolsa Família de 600 reais.
Paulo Teixeira, deputado federal e um Dos formuladores do programa de governo da
candidatura de Lula, também nega que o futuro Presidente tenha recebido um cheque em branco.
Questionado pela BBC News Brasil sobre a falta De detalhamento das propostas de governo,
ele argumenta que as metas específicas vão Ter que ser negociadas com a sociedade e com
o novo Congresso Nacional. Este, por sinal, é de maioria conservadora, o que pode ser um
empecilho para Lula aprovar suas propostas. Elena Landau, economista de orientação liberal que
apoiou a candidatura de Simone Tebet, acha que uma Grande dificuldade de Lula vai ser justamente
cumprir suas promessas nesse cenário. Ela diz: "Talvez, o cheque que deram ao Lula não esteja em
branco. Talvez, o problema seja que o cheque que Ele deu ao eleitorado esteja sem fundo porque
ele não vai ter como entregar o que prometeu". Entre as promessas de Lula está o reajuste do
salário-mínimo em índice acima da inflação,
Ou seja, com ganho real para os trabalhadores.
Algo que Jair Bolsonaro não fez em seu governo, Alegando justamente a necessidade
de manter a responsabilidade fiscal. Apesar de ter feito duras críticas ao petista,
Elena Landau passou a apoiar o voto em Lula no Segundo turno. Isso porque ela também criticou
a política econômica de Bolsonaro, citando por Exemplo interferências na política de preços da
Petrobras e dribles ao teto de gastos – política Que vincula o crescimento das despesas do
governo federal à inflação do ano anterior. Uma estimativa recente da Instituição Fiscal
Independente, ligada ao Senado, prevê um rombo De até 103 bilhões de reais nas contas do governo,
a depender dos gastos com o Auxílio Brasil. Mas há também acadêmicos que não necessariamente
acham que os eleitores votaram em Lula sem Saber o que esperar do futuro governo.
Viviane Gonçalves, doutora em ciência Política, sustenta que, depois de
dois mandatos de Lula, o eleitorado é capaz de vislumbrar como será o novo governo.
Além disso, a ausência de propostas aprofundadas, Na visão dela, se deu por outro fenômeno:
o grande personalismo em torno das Figuras de Lula e Bolsonaro nestas eleições.
Ela disse, abre aspas: "Não é que ele não precisou Apresentar propostas. Ao longo da campanha, ele
falou de algumas, mas o que existiu nessa campanha Foi uma aposta muito grande nas figuras pessoais
dos candidatos. Isso já era uma característica Forte no Brasil no passado e se manteve agora".
Denilde Holzhacker, professora de ciência Política, acha que Lula foi ambíguo ao não
detalhar algumas de suas propostas por causa da Necessidade de atrair o voto do eleitor moderado
e indeciso e ao mesmo tempo manter o apoio da Sua base tradicional, mais à esquerda.
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