A vida das jovens sequestradas pelo Boko Haram, dez anos depois

A vida das jovens sequestradas pelo Boko Haram, dez anos depois

A BBC foi ao nordeste da Nigéria, o bastião de
uma brutal insurgência islâmica. Logo no primeiro dia de gravação, um ataque
foi registrado ali. Faz dez anos que o grupo islâmico Boko Haram
sequestrou 276 meninas de uma escola em Chibok. E o sequestro de crianças estudantes continua
a ser uma prática comum dessa insurgência. A BBC entrou em contato com uma das meninas
que conseguiu escapar recentemente. Vamos chamá-la de Lisu, um nome fictício. Ela pediu para encontrar a reportagem em segredo. O governo estadual tem tentado impedir que
as meninas conversem com jornalistas. Lisu conseguiu escapar com seus seus filhos. O governo deu a ela uma moradia compartilhada,
com outras jovens que também escaparam. Sob o Boko Haram, Lisu e outras garotas foram
submetidas à prisão e a casamentos forçados. Mas a vida sob a tutela do Estado também
não tem sido fácil pra ela. Todas as meninas que conversaram com a BBC
descreveram sentimentos semelhantes. Nos dias seguintes, algumas meninas dali foram
questionadas pelos guardas e advertidas a Não darem entrevistas. Questionado pela BBC, o governo estadual disse
que oferece às meninas comida o suficiente Para alimentar uma família de seis pessoas. E negou que elas sofram abusos verbais pelos
guardas. O governo também afirmou que, embora haja
um toque de recolher no local à noite, as Meninas não ficam trancadas para fora da
acomodação. Mas como a situação delas chegou a esse ponto? O trauma vivido pelas meninas foi uma das
maiores notícias internacionais de 2014. Houve uma mobilização mundial em torno do caso. Dentro da Nigéria, o sequestro de Chibok
desencadeou protestos. Mas se passaram dois anos até que a primeira
das meninas conseguisse escapar. O nome dela é Amina. Ela passou um mês fugindo, carregando nas
costas a filha,que na época tinha dois meses de idade. Amina quer proteger sua filha de tudo o que
aconteceu. Por isso, elas se mudaram para longe de Chibok. Amina recebeu o equivalente a 70 reais por
mês para viver. Mas recentemente essa pequena quantia deixou
de ser paga pelo governo. No dia seguinte à entrevista, Amina e a filha
pegam um ônibus rumo a Chibok. A reportagem da BBC vai encontrar com elas lá. Para enfrentar a instabilidade, o governo
decidiu anistiar milhares de combatentes do Boko Haram.

A BBC fez contato com um ex-comandante do
grupo que está passando por um programa de reabilitação. Mohamed foi um dos homens que sequestraram
as meninas de Chibok. Mohamed hoje trabalha para o Exército. Ele ajudou a resgatar duas das garotas de
Chibok que havia sequestrado A estrada para Chibok está em péssimo estado,
e é longa. As várias blitz realizadas pelo Exército
são um lembrete da instabilidade da região. A equipe da BBC reencontra Amina. E ela nos leva para conhecer os pais de uma
amiga, chamada Helen. Helen é uma das mais de 90 garotas de Chibok
cujo paradeiro é desconhecido até hoje, Dez anos depois de elas terem sido sequestradas O sequestro já completou uma década, mas a dor não acaba. Amina quis visitar sua antiga escola. É a primeira vez em dez anos que ela vai
até o local onde foi sequestrada. Amina tinha apenas 17 anos quando foi sequestrada. Sua chance de estudar foi intencionalmente
roubada dela. A única opção dada para Amina e para as
outras meninas de Chibok foi concluir seus Estudos na Universidade Americana da Nigéria. É uma instituição privada e de elite. Todas as meninas com quem a BBC conversou
tiveram dificuldade em permanecer ali, e algumas Acabaram abandonando os estudos. A reportagem foi até a capital da Nigéria,
para saber como o novo governo do país enxerga a situação. Só uma garota de Chibok conseguiu se formar nessa
universidade até agora A BBC tentou fazer contato com a universidade
diversas vezes, mas nenhum representante estava disponível. A 800 quilômetros dali, Amina e sua filha
arrumam a casa depois do jantar. Todos os dias, Amina guarda o almoço que
recebe na universidade para dividir a comida com filha. Amina sempre coloca a menina em primeiro lugar.

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