A teoria conspiratória que atribui às antenas HAARP inundações no Rio Grande do Sul

A teoria conspiratória que atribui às antenas HAARP inundações no Rio Grande do Sul

A ciência sabe explicar com clareza os motivos
principais por trás das fortes chuvas no Rio Grande do Sul. Mesmo assim, teorias conspiratórias sobre
a causa das tempestades se juntam a uma grande Quantidade de fake news relacionadas à tragédia
gaúcha. Uma das teorias falsas que mais despontam
nas buscas de internet e em comentários das Redes sociais relaciona às chuvas no Sul
ao HAARP, um projeto científico norte-americano. Eu sou Giulia Granchi, da BBC News Brasil,
e neste vídeo vou explicar por que esta teoria é totalmente infundada – e também lembrar
como a desinformação tem um efeito mais Nocivo do que pode parecer à primeira vista. Antes de mais nada, vamos entender a explicação
científica por trás de tanta chuva no Rio Grande do Sul. Trata-se de uma combinação incomum de três
fatores: uma corrente intensa de ventos, que Deixa o clima instável, se juntou com uma
onda de umidade que ficou retida sobre o Rio Grande do Sul – ela foi impedida de avançar
por conta de uma massa de ar quente estacionada No centro do país. Esses três fatores estão sendo potencializados
pelo fenômeno El Niño e, acima de tudo, Pelo aquecimento global, que torna os eventos
climáticos mais frequentes e cada vez mais Potentes. Essa explicação é validada não só por
meteorologistas e pesquisadores brasileiros, Mas também por relatórios do Painel intergovernamental
de combate a mudanças climáticas da ONU, O IPCC. Já a teoria que tem circulado na internet
afirma que o projeto americano Haarp seria A causa das chuvas no Sul. Haarp é a sigla em inglês para Programa
de Pesquisa Ativa de Alta Frequência Auroral. Esse projeto científico foi criado para estudar
fenômenos físicos que ocorrem nas camadas Superiores da atmosfera terrestre e também
observar como eles interferem em sistemas De comunicação, como wi-fi, internet móvel
e aplicativos de localização. O projeto Haarp usa transmissores que emitem
sinais na ionosfera, uma camada da atmosfera Terrestre localizada entre 80 e 640 km acima
da superfície da Terra. Essa região serve como uma fronteira entre
a atmosfera inferior, onde nós vivemos, e O espaço exterior. A direção do Haarp afirma que os estudos
são essenciais para melhorar sistemas de Comunicação e vigilância para fins civis
e de defesa. Bom, a teoria conspiratória afirma que supostos,
entre aspas, “grupos de grande poder”

Estariam usando o projeto Haarp para provocar
fenômenos meteorológicos e geológicos. E, a partir disso, despertar medo, confusão
e indignação – deixando a população vulnerável. Conspiracionistas já alegaram também que
uma tempestade de neve no Estado americano De Iowa em janeiro de 2024 teria sido causada
para influenciar as eleições do país. Mas essa teoria não faz sentido, nem tem
base científica. Os cientistas com quem eu conversei me explicaram
que o impacto e o alcance das antenas usadas No projeto Haarp é limitado. Além disso, essas antenas agem em uma área
específica da camada terrestre e não têm Poder de causar nenhuma grande mudança – seja
de temperatura, nível de radiação ou de Incitar catástrofes ambientais. Nas palavras do professor de Física Thiago
Rangel "Não existe a chance de qualquer evento climático
ser desencadeado em uma camada atmosférica Tão elevada, já que nuvens e correntes de
ar são formadas na troposfera, ou no máximo Na estratosfera, que são as camadas mais
baixas, até cerca de 20 km de altitude. (…) As antenas Haarp não têm qualquer
influência nos fenômenos meteorológicos, Seja em micro ou macro escala” Antes gerenciado pela Força Aérea e a Marinha
dos Estados Unidos, o Haarp passou a ser coordenado Pela Universidade do Alasca em 2014. É lá que fica a base das pesquisas. E não é a primeira vez que esse projeto
é alvo de teorias infundadas. Boatos parecidos circularam na época do terremoto
do Haiti, em 2010, e do terremoto na Síria E Turquia em 2023. O motivo é que o Haarp também usa instrumentos
científicos sofisticados que podem observar E analisar os processos físicos que ocorrem
na ionosfera. Por conta desses instrumentos, teorias da
conspiração defendem – sem nenhuma evidência – que o Haarp seria capaz de controlar placas
tectônicas, temperatura atmosférica e até Mesmo o nível de radiação que passa pela
camada de ozônio. Com tamanho controle, o projeto seria capaz,
segundo essas teorias, de causar desastres Naturais, ser arma de destruição em massa
e até ser usado para controle mental pela Capacidade de emitir ondas de alta frequência. Mas absolutamente nada disso é plausível,
segundo os cientistas que eu consultei. O professor Rangel explica que essas antenas
apenas emitem ondas – e é impossível que Sejam capazes de interferir nas áreas citadas
pelos conspiracionistas. As informações oficiais do projeto explicam
que o Haarp é basicamente um grande transmissor

De rádio. Abre aspas: "As ondas de rádio nas faixas de frequência
que o Haarp transmite não são absorvidas Nem na troposfera nem na estratosfera – os
dois níveis da atmosfera que produzem o clima Da Terra. Como não há interação, não há como controlar
o clima.” A teoria sobre o Haarp também menciona um
suposto padrão geométrico anormal que teria Sido observado nas nuvens do Rio Grande do
Sul, que seria impossível de ocorrer naturalmente. Mas na verdade esse padrão pode ocorrer,
sim. E na verdade é até bem comum. Talvez você até já tenha visto nuvens assim
em outros momentos. O professor de ciências atmosféricas Enio
Pereira de Souza diz que essas nuvens se chamam Estratocúmulos. Esse nome difícil quer dizer que são nuvens
de estrato – baixas, horizontais e uniformes… E cúmulo, que são nuvens brancas, fofas
e comumente associadas a tempo ameno. Essas formas são comuns e podem indicar diferentes
condições meteorológicas, desde tempo cinzento Até tempestades, dependendo da altitude e
da temperatura. Ou seja, a presença delas nada indica de
especial, nem nenhuma interferência anormal. Bom, essa é uma entre muitas teorias conspiratórias
e notícias falsas sendo propagadas pelas Redes sociais enquanto centenas de milhares
de gaúchos tentam sobreviver às fortes tempestades No Estado. E a propagação desse tipo de desinformação
não tem nada de inofensivo. Pelo contrário, ela muitas vezes atrapalha
a alocação de esforços de resgate, amplifica Divisões e polarização política e alimenta
um ecossistema nocivo na internet. Então, o impacto dessas notícias falsas
não é meramente cosmético, não é uma Questão de opinião. Ela é, de fato, uma questão grave, que está
tendo impacto e tem tido impactos graves dentro Da sociedade brasileira há anos, mas que
nesse momento de crise aqui, que é o momento Que a gente precisa que as pessoas confiem
nas informações corretas, a gente vem impactando Diretamente na prestação de um serviço
que é um serviço literalmente de sobrevivência. A jornalista Fernanda da Escóssia, da plataforma
Aos Fatos, de combate à desinformação, Diz que notícias falsas em tempos de tragédia
desviam a atenção das autoridades para problemas Inexistentes. Ela afirma, entre aspas:

“Nesse ecossistema, a desinformação zomba
da vida alheia, tripudia sobre os mortos e Não se constrange em produzir conteúdos
falsos com o objetivo de conseguir cliques, Engajamento e monetização por adesão a
um posicionamento político” Bom, com isso eu fico por aqui. Mas a nossa cobertura da tragédia no Rio
Grande do Sul continua em bbcbrasil.com, nas Redes sociais, no YouTube e no nosso grupo
de whatsapp. Acompanhe. Obrigada e até a próxima.

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