A ideologia e a estratégia por trás dos laços entre China e Rússia

A ideologia e a estratégia por trás dos laços entre China e Rússia

A proximidade entre China e Rússia foi reafirmada
com uma visita de Xi Jinping a Vladimir Putin Em Moscou. 
 Os dois líderes se referiram mutuamente Como “amigos queridos” e voltaram a exaltar
uma parceria que definem como ilimitada.   Mas o que une esses dois países? 
 Eu sou Julia Braun, da BBC News Brasil, E neste vídeo explico em cinco pontos as estratégias
e visões de mundo que aproximam Moscou e Pequim neste momento.  
 Começo pelos interesses econômicos.   
Segundo os especialistas com quem eu conversei, Essa é uma parceria totalmente pragmática. 
  Desde a invasão da Ucrânia, os Estados
Unidos, a União Europeia, o Reino Unido e Outras nações aliadas impuseram rígidas
sanções econômicas à Rússia.   
Com isso, o comércio desses países com os Russos caiu exponencialmente ao longo de 2022
e a China se solidificou, de longe, como o Parceiro comercial mais importante da Rússia. 
  O comércio bilateral entre os dois parceiros
atingiu um nível recorde em 2022, um aumento De 30% em relação ao ano anterior. 
  E, para compensar a queda brutal da venda
de petróleo e gás para a Europa, os russos Aumentaram a venda de combustível para a
Ásia – e para a China.    
Para se ter uma ideia, a Rússia exportou Duas vezes mais gás de cozinha e 50% a mais
de gás natural para a China em 2022 do que No ano anterior. 
 Há ainda planos de longo prazo para um Novo gasoduto que ligue os dois territórios.  
 Mas essa ligação vai além. Segundo pesquisadores, China e Rússia compartilham uma percepção
parecida sobre o Ocidente e sobre o futuro Da ordem mundial. 
 É uma discussão bastante complexa, influenciada Pela cultura, pelo lugar de onde se fala e
por interesses particulares.    E para evitar ao máximo uma interpretação
maniqueísta ou estereotipada, eu conversei Com especialistas de diferentes partes do
globo e que veem o momento atual sob perspectivas Distintas.  
 Eis o que eles dizem.    O primeiro ponto é que existe uma vaga
similaridade nos valores enaltecidos por ambos Os governos e – em parte – pelas sociedades. 
 O americano Joseph Torigian estuda a trajetória Política de China e Rússia e as estratégias
de seus governos. Ele me disse que vigora em Ambos… 
 “… uma forma diferente de olhar para O mundo: uma forma que coloca mais ênfase
no poder do Estado e em valores sociais conservadores”   
Os dois governos também têm tendências Autoritárias, são acusados de perseguir
opositores e de censurar a liberdade de expressão,

Em oposição ao modelo de democracia ocidental.  
  A ideia defendida pelos dois países é que
os valores de democracia e direitos humanos Seriam, entre aspas, “imposições do Ocidente”. 
  O cientista político e pesquisador da USP
Vicente Ferraro Jr, definiu assim:    
“O liberalismo político e, indiretamente, A democracia representativa são apresentados
por ambas as nações não como valores universais, Mas como construções do Ocidente instrumentalizadas
para fins geopolíticos”   
Mas, historicamente e agora, os modelos chinês E russo têm diferenças. 
  O professor e pesquisador chinês Yingjie
Guo explica que o governo chinês diz se guiar Pelas ideologias do comunismo e marxismo,
mas que na prática essas ideias o desenvolvimento Econômico muitas vezes vem em primeiro lugar. Entre
aspas:   
“O Partido Comunista (…) não tem pressa Em avançar rumo ao comunismo ou mesmo para
estágios mais avançados do socialismo. Pelo Contrário, o socialismo chinês voltou a
um estágio inicial, em que as relações De produção não socialistas, incluindo
a propriedade privada, são permitidas.”   
Já no caso da Rússia, apesar do passado Soviético comunista, as influências ideológicas
atuais são outras. Veja como define o pesquisador E jornalista russo Andrei Kolesnikov: 
“A filosofia do governo Putin atualmente Está diretamente ligada ao nacionalismo,
mas mais ainda ao imperialismo e a um sentimento De superioridade (combinado com um sentimento
de ressentimento) da nação russa. (…) É Basicamente um conjunto completo de ideologias
clássicas da extrema direita”   
O pesquisador Victor Apryshchenko afirma que Esse discurso nacionalista vai além das declarações
oficiais e permeia a educação nas escolas, A produção cultural controlada pelo Estado
e as redes sociais. E por trás disso estão Traumas da história recente, diz ele:  
  “Acho que a principal explicação para
esse renascimento do nacionalismo atualmente é o trauma que a Rússia e a população
russa enfrentaram após o colapso da União Soviética. Me parece que desde 1991 há um
esforço interno e externo para tentar retomar A posição anterior”  Isso se relaciona diretamente a um terceiro
ponto: o que Rússia e China enxergam como A ameaça americana e da Otan. 
  Segundo os especialistas, isso fica claro
quando Putin acusa a Otan de expandir seus Interesses para além do próprio território,
e quando Xi Jinping critica a busca dos Estados

Unidos por aliados na região da Ásia- Pacífico.  
  Para o russo Mikhail Alexseev, essa percepção
comum sobre Ocidente é um pilar fundamental Da parceria Rússia e China.  O quarto elemento é a cooperação em segurança.  
  Lembrando que a China não só compartilha
uma fronteira de mais de 4 mil quilômetros Com a Rússia, como faz divisa com outras
ex-repúblicas soviéticas na órbita de Moscou.   
E estrategicamente, Pequim não quer instabilidade Em suas fronteiras. 
  Mas a grande questão neste momento é se
a China, o quarto maior exportador de armas Do mundo, vai enviar ajuda bélica para a
Rússia usar na guerra da Ucrânia.   
Siemon Wezeman, do Instituto Internacional De Estocolmo para Estudos da Paz, disse à
BBC que a China está fabricando material Bélico cada vez mais sofisticado, como drones,
que podem interessar à Rússia.    
Até agora, os chineses têm demonstrado apoio Cauteloso à Rússia na Ucrânia, sem fornecer
equipamentos militares letais, mas os Estados Unidos acreditam que essa é uma possibilidade
no futuro.   Mas será que essa aliança entre Rússia
e China é mesmo “sem limites”, como seus Governos já definiram? 
  Para alguns dos especialistas com quem eu
conversei, não exatamente.   
Na visão deles, a China pode abandonar a Parceria caso a Rússia vá longe demais em
sua empreitada na Ucrânia, por exemplo usando Armas nucleares. Ou então caso uma cooperação
mais vantajosa economicamente se apresente No futuro.  
 
A professora Alexandra
Vacroux, da Universidade de Harvard, definiu Da seguinte maneira:  
  “É uma espécie de casamento por conveniência,
mas não existe amor de verdade”  Com isso eu fico por aqui, siga acompanhando
a nossa cobertura no YouTube, nas redes sociais E em bbcbrasil.com.   
 Até a próxima.    

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