O que está em jogo no projeto 2630, o PL das fake news
Um projeto de lei que prevê mais controle
sobre o que circula em redes sociais está Dominando as discussões na Câmara
dos Deputados e abriu uma guerra Com as empresas de tecnologia. Gerou tanta
discórdia que o próprio relator do projeto Pediu para que a votação fosse adiada,
até haver mais chance de aprovação. De um lado, quem defende o PL2630 acha que
ele vai melhorar o combate à desinformação e Ao discurso de ódio na internet. Do outro,
críticos dizem que ele não será eficiente Contra conteúdo enganoso e pode acabar
incentivando a censura de informações. Eu sou Mariana Schreiber, da
BBC News Brasil em Brasília, E neste vídeo te explico seis pontos polêmicos
envolvendo o chamado PL das Fake News. Começo por um ponto-chave: a moderação de conteúdo
nas redes sociais. Atualmente, segundo o Marco Civil da Internet, as big techs não têm
responsabilidade pelo conteúdo compartilhado Pelos usuários das plataformas sociais. Elas podem
excluir conteúdos que firam suas regras internas, Mas só são obrigadas a apagar postagens
se receberem uma ordem da Justiça. Isso mudaria com a aprovação do PL das fake news.
As redes sociais passariam a ser responsabilizadas Por eventuais conteúdos que se enquadrem em
alguns tipos de crime previstos na lei brasileira, Como atos de terrorismo, instigação a suicídio ou
automutilação, crime contra o Estado Democrático De Direito, crimes contra crianças e adolescentes,
racismo, violência contra a mulher, entre outras. As big techs poderiam ser punidas com multas
de até 10% de seu faturamento no Brasil, Em duas possíveis circunstâncias:
um, se tiverem recebido dinheiro Para a impulsionar conteúdo considerado
criminoso ou dois, se for concluído que Houve uma falha generalizada da plataforma em
evitar a circulação desse tipo de conteúdo. Aqui, começa um dos pontos em disputa.
As big techs argumentam que uma lei desse Teor estimularia a remoção de qualquer tipo
de polêmica, inclusive conteúdo legítimo. O Google, que é dono do YouTube, diz
também, entre aspas: “O PL das fake News pode aumentar a confusão sobre o
que é verdade ou mentira no Brasil”. Já quem defende essa rigidez
lembra que esse trecho da proposta Brasileira é inspirado em uma legislação
que já vigora na União Europeia. Isso nos leva ao segundo ponto em discussão
no projeto: quem vai fiscalizar o que deve Ser retirado ou não das redes sociais?
De um lado, críticos dizem que se essa Fiscalização ficar a cargo do governo, pode
virar uma ferramenta de censura estatal. Por enquanto, o relator da proposta, o deputado
Orlando Silva, diz que negocia com seus colegas Que a fiscalização fique à cargo da Anatel,
a Agência Nacional de Telecomunicações. Mas isso encontra resistência entre muitos
especialistas, que acham que a Anatel não Tem capacidade técnica para essa atribuição.
Eles defendem a criação de um órgão novo,
Autônomo em relação ao governo, a exemplo do
que já ocorre em alguns países europeus. O terceiro ponto polêmico é que o projeto de
lei oferece uma proteção extra às postagens Em redes sociais feitas por deputados,
senadores e outros parlamentares eleitos. Isso porque estende a proteção legal
dada pela imunidade parlamentar aos Conteúdos escritos pelos
políticos no meio digital. Defensores da medida dizem que ela não expande a
imunidade já prevista nos termos da Constituição, Apenas reitera que as proteções existentes
valem também para as manifestações digitais. Opositores, porém, dizem que isso
vai dificultar a remoção de conteúdos Indevidos ou desinformativos que forem
publicados por parlamentares, por exemplo. O temos desses críticos é que tuítes e
lives feitas por deputados, por exemplo, Só poderiam ser retirados em caso
de conteúdo claramente criminosos, Não podendo ser derrubado caso firam
regras específicas das plataformas. O quarto ponto controverso do projeto é
que ele prevê que as big techs paguem às Empresas jornalísticas pelo conteúdo noticioso
que circular nas suas plataformas. E o PL também Oferece uma blindagem extra a esse conteúdo, que
só poderia ser removido em caso de teor criminoso. Como isso vai se dar na prática? Bom, Isso dependeria de uma regulação
específica depois da aprovação do projeto. Por enquanto, a medida é defendida
pela Associação Nacional de Jornais, A ANJ, que argumenta, entre aspas: “Como já ocorre em outros países, a remuneração
da atividade jornalística por plataformas de Tecnologia pode ser um elemento decisivo para a
formação de um ecossistema jornalístico amplo, Diverso e saudável, capaz de se opor à
difusão da desinformação e dos discursos De ódio. Tal ecossistema é essencial
para a manutenção da própria democracia”. Já a Meta, dona do Facebook, Diz que falta uma definição clara sobre
o que é conteúdo jornalístico e agrega: “Isso pode levar a um aumento da desinformação,
e não o contrário. Imagine, por exemplo, Um mundo em que pessoas mal intencionadas
se passam por jornalistas para publicar Informações falsas em nossas plataformas
e sermos forçados a pagar por isso”. Como alternativa ao proposto no PL, O Google defendeu “a possibilidade de
um fundo de inovação para o jornalismo, Administrado de forma independente, que inclua
contribuições de empresas de tecnologia”. Outro ponto é que o projeto prevê novas regras
para remuneração de conteúdo protegido por Direitos autorais, como músicas e obras de
ficção. Isso tem sido defendido por artistas, Que se queixam de que sua produção artística fica
Eternamente disponível em plataformas
digitais sem que eles recebam por isso. Esse ponto também dependeria de uma
regulamentação à parte, que promete ser Bastante complexa. As plataformas reclamam que
a forma como o PL estabelece essas remunerações Obrigatórias pode inviabilizar a oferta de
serviços gratuitos, como ocorre hoje. O último ponto que eu destaco aqui é o duro
embate entre governo e as plataformas. Sob Ameaça de multas pesadas e de mais despesas
e obrigações quanto à moderação de conteúdo, As gigantes de tecnologia têm
feito forte oposição ao projeto. A oposição feita pela Google,
especificamente, ganhou grandes proporções. O motivo é que, na véspera do dia previsto
pra votação do projeto na Câmara, a Google Fixou na página inicial do seu buscador
um link para um texto com críticas ao PL. A Secretaria Nacional do Consumidor, órgão
do Ministério da Justiça, acusou a empresa De praticar propaganda enganosa e fixou uma
multa de 1 milhão de reais por hora caso o Link continuasse no ar sem um alerta de seria
conteúdo publicitário da própria plataforma. Após a decisão, a Google negou irregularidades, Mas a página inicial do buscador
deixou de exibir o link. A Secretaria Nacional do Consumidor avaliou
que Google e outras empresas têm o direito De se manifestar sobre leis e regulamentações,
mas considerou que, nesse caso, a empresa não Foi clara com seus usuários que o conteúdo
fixado era patrocinado por ela própria. Bom, para concluir, vale lembrar que esse projeto
de lei das fake news está na Câmara há três anos, Mas ganhou novo fôlego depois dos atos
antidemocráticos de 8 de janeiro. O Motivo é a percepção de que notícias
falsas sobre a eleição presidencial De 2022 serviram de combustível
para a invasão dos três Poderes. Outra preocupação são os
recentes ataques em escolas, Já que mensagens de ódio que circulam em redes
sociais estariam estimulando essas ações. O governo Lula defende o projeto – e a
eventual votação dele na Câmara, aliás, é vista como um teste importante para a capacidade
do presidente em formar uma base no Congresso. O projeto estava previsto pra ser
votado em 2 de maio pelos deputados, Mas o próprio relator Orlando Silva pediu que ele Fosse retirado da pauta do dia para
incorporar novas propostas ao texto. É um tema que eu vou seguir acompanhando
por aqui. Então não deixe de seguir a Gente no YouTube, nas redes sociais
e em bbcbrasil.com. Obrigada.