7 razões da disparada no preço dos carros no Brasil
SESSENTA E NOVE MIL REAIS Esse é o preço do carro zero quilômetro
mais barato no Brasil hoje em dia Ou seja, um brasileiro que ganhe um salário-mínimo
tem que trabalhar cerca de 50 meses, ou mais De quatro anos seguidos, sem gastar nada,
para comprar esse automóvel Mas isso é quanto custa o zero quilômetro
mais barato O valor médio de um carro novo no Brasil,
pasmem, está hoje em torno de R$ 130 mil, Quase o dobro do cobrado em 2017, segundo
dados da consultoria Jato Dynamics Eu sou Luís Barrucho, repórter da BBC News Brasil aqui em Londres E eu conversei com especialistas para entender
por que os carros ficaram tão caros no Brasil – e vou contar sete razões para vocês
nesse vídeo Já adianto que tem uma combinação de fatores
por trás disso, entre eles o chamado Custo Brasil, O conjunto de dificuldades estruturais,
burocráticas, fiscais e econômicas do país Não é exatamente de uma realidade nova — alguns
desses fatores têm sido constantes no mercado Automotivo brasileiro Mas existem questões circunstanciais, como
a inflação e a escassez de semicondutores No mercado internacional, resultado da pandemia de covid-19 Dito isso, bora lá Um, impostos altos O complexo sistema tributário do Brasil é
considerado um dos principais culpados Diversos impostos incidem sobre a venda de
carros, como ICMS, IPI e PIS/Cofins Para se ter uma ideia, o peso dos tributos
varia de 30% a 50% do valor final dos carros nacionais E sobe se o veículo for importado, oscilando
entre 60% e 80% Um carro que custa 20 mil dólares nos Estados
Unidos pode, assim, custar até 35 mil dólares No Brasil E isso nos leva ao fator número dois, protecionismo
e concorrência Com mais impostos, os carros importados acabam
custando mais que os nacionais É uma política protecionista, que visa a
promover a produção local e o emprego Se os carros importados chegassem ao Brasil
com valores mais competitivos em relação Aos nacionais, a concorrência aumentaria
– fazendo os preços caírem Apesar disso, o número de montadoras hoje
presentes no Brasil não se compara ao de Décadas atrás, quando o mercado era praticamente
dominado por quatro grandes fabricantes de veículos: Volkswagen, Fiat, Ford e Chevrolet Outras marcas, como Toyota, Honda e Hyundai,
tiveram que produzir no Brasil para baratear os custos Número três, os custos trabalhistas
Isso porque os encargos trabalhistas do Brasil
estão entre os mais altos do mundo É algo que protege os trabalhadores formais,
mas aumenta o custo de produção de carros E dificulta a competição dos fabricantes
com outros países com custos de mão-de-obra Mais baixos, como o México Estima-se que as empresas gastem no Brasil
duas vezes e meia o que pagam ao trabalhador Outros países com maior índice de custo
de mão-de-obra são: Argentina, Ucrânia, Uruguai, Turquia, Rússia,
África do Sul, Romênia, Egito e Vietnã, Segundo a empresa de análise e consultoria
de dados GlobalData Quatro, infraestrutura precária O Brasil é um país de dimensões continentais,
que depende bastante de sua malha de estradas E rodovias
E muitas estão em más condições Isso acaba representando um desafio para o
transporte de peças e mesmo de carros prontos, Encarecendo o custo, que é repassado ao consumidor Cinco, incorporação tecnológica e requisitos
regulatórios Foi-se o tempo do carro "pelado" da década de 1990 Na época, o então presidente Fernando Collor
de Mello chegou a dizer que os carros produzidos No Brasil eram "verdadeiras carroças", em
alusão à má qualidade do produto final Se comparado a um veículo importado Além dos sistemas de segurança exigidos
por lei, o consumidor também está mais exigente Quanto ao pacote de equipamentos do veículo Desde 2013, todos os carros novos têm que
ser equipados com airbag e freios ABS, antitravamento A incorporação de novas tecnologias, sejam
de sistema de segurança, de conforto ou conectividade, Fez com que os preços subissem Seis, real desvalorizado, pandemia e crise
de semicondutores Os últimos anos foram de flutuações cambiais
significativas, e o real brasileiro perdeu Valor em relação ao dólar São diversos fatores que explicam a alta
tão absurda dos preços dos veículos nesses últimos anos A principal eu atribuo no momento, ao Real
desvalorizado, essa flutuação cambial, agora Que desvalorizou muito o Real e a gente têm
grande parte das peças dos automóveis sendo importadas Então, se o Real abaixa, a gente compra em
dólar, então a gente paga muito mais caro Esse custo ele incide sobre o consumidor que
está na ponta Então a montadora passa esse custo para os
consumidores de veículos E a pandemia de covid encareceu matérias-primas,
como aço, minério de ferro e borracha, e Desestabilizou as cadeias de suprimento das
indústrias, gerando desafios logísticos
Que encareceram o valor dos carros não só
no Brasil, mas ao redor do mundo E muitos componentes usados na fabricação
dos veículos não têm produção no Brasil Exemplo importante disso é a escassez global
de semicondutores, que estão presentes por Todo o carro, desde o câmbio, passando por
painel, sistema multimídia, retrovisores, Sistema de freio e até motor E o último ponto do vídeo: paixão por carro
e margem de lucro Existe um fator cultural em jogo A questão de o brasileiro colocar o carro
como status Se você coloca um Kwid a R$ 70 mil e tem
gente que compra Então você vai deixar usufruir o seu Kwid
a R$ 70 mil porque ainda tem gente comprando Por que eu vou abaixar meu preço? Simplesmente uma questão de demanda E é claro, não dá pra esquecer que o transporte
público continua deficiente em muitos lugares, E isso também acaba incentivando as pessoas
a comprar carros, mesmo que tenham que pagá-lo Em diversas prestações Por uma questão estratégica, as montadoras
não divulgam suas margens de lucro Mas, segundo o Milad Kalume Neto, "as margens
de lucro no Brasil são, em média, maiores Do que vemos nos mercados americano e europeu" Com exceção de 2020, ano da pandemia, o
faturamento da indústria automotiva no Brasil Vem crescendo Enquanto isso, o valor médio de um carro
novo passou de 71 mil reais em 2017 para 131 Mil reais no ano passado, um aumento de 85%
— no mesmo período, a inflação acumulada Oficial, medida pelo IPCA, foi de 36% Vale lembrar que o mercado também mudou nos
últimos anos Em 2022, pela primeira vez a maior parte das
vendas, quase 53%, foi para pessoas jurídicas, O que inclui empresas, locadoras e frotistas,
por exemplo Ou seja, menos consumidores comuns estão
comprando carro novo Em 2018, as vendas para Pessoa Física representavam
64,4% do total vendido No ano passado, essa proporção caiu para
47,1%, segundo a consultoria Jato Dynamics Nesse contexto, o governo lançou recentemente
um pacote de medidas para reduzir o preço Dos carros novos por meio do corte de impostos O objetivo é turbinar as vendas do setor
automotivo, que é um importante gerador de Emprego e renda e responde por uma parcela
significativa do PIB, o Produto Interno Bruto, A soma de bens e serviços produzidos por
um país em seu território nacional
Só para ter uma ideia, 22% do que vem da
indústria é gerado pelo setor automotivo Ele, sozinho, corresponde a 4% do PIB do país todo Até o presidente Lula entrou nessa briga Em discurso recente em Brasília, ele criticou
o preço dos automóveis no Brasil Perguntou “qual pobre pode comprar carro
popular por R$ 90 mil?” E disse que seu governo vai “fazer carros
a preços mais compatíveis e aumentar as prestações A gente vai seguir acompanhando o que sai desse debate Acompanhe nossa cobertura no nosso site, o bbcbrasil.com, no YouTube e nas nossas redes Sociais: Facebook, Twitter, Instagram e Tik Tok Obrigado pela audiência e até a próxima