5 descobertas fascinantes sobre a origem e a história dos povos indígenas da América do Sul

5 descobertas fascinantes sobre a origem e a história dos povos indígenas da América do Sul

Como os primeiros seres humanos chegaram 
ao continente americano? Como se expandiram   Por regiões tão diferentes, desde 
as geleiras canadenses ao litoral   Brasileiro? E qual era a relação entre os 
povos que dividiram territórios próximos,   Mas completamente diferentes, 
como os Andes e a Amazônia? Muitas dessas perguntas começaram a ser 
respondidas com mais precisão na última   Década, graças ao avanço da genética 
e das técnicas que permitem avaliar   E comparar a ancestralidade 
de duas ou mais pessoas. Mais especificamente na América do 
Sul, essas ferramentas de análise   Do DNA estão causando uma verdadeira 
revolução no conhecimento — e permitem   Entender melhor as origens e as 
histórias dos povos originários. Sou André Biernath, da BBC News Brasil em Londres,   E neste vídeo vou te contar cinco descobertas 
fascinantes sobre a origem e a história   Dos povos indígenas da América do Sul 
que foram reveladas pela genética. Antes de mais nada, vale explicar que 
esse trabalho é liderado por um grupo de   Cientistas do Departamento de Genética e Biologia   Evolutiva do Instituto de Biociências 
da Universidade de São Paulo, a USP. Nos últimos anos, a equipe coordenada 
pela geneticista Tábita Hünemeier publicou   Diversos trabalhos que modificaram 
o que se sabia sobre as populações   Que já habitavam o continente bem antes da 
chegada dos europeus nos séculos 15 e 16. Numa entrevista que fiz com a professora Tábita, 
ela destacou como esse passado da América do Sul,   Antes da chegada dos europeus, sofreu durante 
muitos anos uma espécie de apagão. Ela destaca que nas escolas, o estudo da 
época pré-colombiana não é obrigatório e,   Mesmo quando existem aulas sobre o tema,   Elas focam de forma superficial apenas 
nos incas, nos maias e nos astecas. Segundo a pesquisadora, o estudo do DNA, junto 
com as técnicas de arqueologia, antropologia e   Outras áreas, é uma ferramenta para reconstruir 
a história de muitas dessas populações. Vamos então à primeira descoberta,   Que envolve como os primeiros seres 
humanos chegaram às Américas. Nas aulas de História na escola, aprendemos que 
a chegada dos primeiros indivíduos às Américas   Se deu pelo Estreito de Bering, um canal de 
gelo e terra firme que conectou a Sibéria,   Na Rússia, ao Alasca, nos Estados Unidos. E esse trajeto continua a ser encarado como a 
principal — e talvez a única — porta de entrada   Para o continente. A partir dali, os grupos 
"desceram" até chegar à Patagônia, ao sul. Mas os trabalhos mostram que 
o povoamento das Américas foi  

Muito mais complexo do que se imaginava. Um dos conceitos que caiu por terra a partir 
das pesquisas da USP é a ideia de uma entrada   única — ou seja, a teoria de que houve 
apenas uma incursão de seres humanos   Pelo novo território, que deu origem a todas 
as populações ameríndias dali em diante. A professora Tábita me contou que hoje em dia, 
sabe-se graças à genética que foram vários   Fluxos migratórios. As populações vieram da Ásia 
e chegaram nessa região conhecida como Beríngia,   Que se conectava com as Américas. Mas elas 
permaneceram ali por cerca de 10 mil anos. Depois, com a mudança nas condições 
climáticas locais — como a inundação   Desses territórios —, essas populações 
tiveram que sair da Beríngia e foram   Em direção ao que conhecemos 
hoje como Alasca e Canadá. Uma vantagem dessa mudança de território pode 
ter sido a maior quantidade de recursos em   Terras americanas. Embora a porção norte do 
continente seja tão fria quanto a Sibéria,   Ela apresenta uma umidade maior, o que 
facilita o desenvolvimento da fauna,   Com mais possibilidade de caça e alimentos. Ah, e essas ondas migratórias da Beríngia 
não aconteceram todas ao mesmo tempo. Elas   Ocorreram em levas, e grupos foram 
chegando aos poucos às Américas. Outro detalhe revelado nas pesquisas foi o de 
que algumas populações nativas da América do Sul,   Como os suruí, os karitiana, os xavante e os 
guarani-kaiowá, no Brasil, e os chotuna, no Peru,   Ainda trazem no genoma uma pequena, mas estável 
semelhança com povos da Austrália e da Oceania. Segundo o trabalho, eles 
compartilham 3% do genoma. Isso indica, segundo a Dra. Tábita, que 
esses indivíduos seriam descendentes de   Uma daquelas primeiras levas que cruzaram 
a Beríngia há cerca de 15 mil anos. Esse grupo antepassado é conhecido entre 
os cientistas como população Y — a letra   Inicial de ypykuéra, ou "ancestral" em tupi. Ah, e que fique claro: não há nenhuma evidência 
de que povos da Oceania cruzaram o Oceano   Pacífico e chegaram diretamente à América 
do Sul. O que muito provavelmente aconteceu,   Segundo os dados mais recentes, foi a migração 
deles para a Ásia e depois para a Beríngia. Ali, eles se relacionaram com as populações que já   Habitavam o local — e uma fração do DNA 
desses indivíduos se preservou até hoje. Descoberta número dois: havia uma intensa 
troca entre povos andinos e amazônicos. O biólogo Marcos Araújo Castro e Silva,   Que faz parte da equipe da Dra. Tábita, 
me explicou que, durante muito tempo,   Acreditava-se que as dinâmicas populacionais 
eram muito diferentes na América do Sul. Por um lado, teríamos grandes 
populações conectadas nos Andes,  

Que teriam dado origem a impérios,   Como os incas. Do outro, acreditava-se que os 
povos da Amazônia eram pequenos e isolados. Em tese, essa teoria poderia ser explicada 
pelo DNA. Se isso fosse de fato verdade,   A tendência era que a diversidade genética dos 
andinos fosse vasta — já que eles estariam em   Maior número e com comunidades conectadas 
—, enquanto os amazônicos teriam uma menor   Variabilidade genômica — porque seriam poucos 
e sem muita relação entre os grupos. Só que não foi isso o que os cientistas 
viram na prática. Com base na diversidade   Genética que eles encontraram 
entre os habitantes da Amazônia,   Puderam inferir que existiam grandes 
populações ali, com milhões de indivíduos. Esse achado, aliás, vai ao encontro do que 
é observado em outras áreas do conhecimento.   Em trabalhos publicados recentemente 
pelo arqueólogo Eduardo Góes Neves,   Também da USP, há estimativas de que 
a Amazônia teria abrigado entre 8 e   10 milhões de pessoas no passado, 
antes da chegada dos europeus. Outro mito que cai por terra a partir das 
últimas pesquisas é a chamada "divisão   Andes-Amazônia". Segundo essa proposta, 
existiria uma separação entre os povos   Que habitavam essas duas regiões, de 
modo que eles não se relacionavam. As análises genéticas recentes 
revelam que isso não acontecia,   E essas populações tiveram 
muitas trocas e contatos. A descoberta número três 
está entre as mais curiosas,   Pois envolve um fenômeno chamado 
“A grande expansão Tupi”. A Dra. Tábita classifica essa expansão como uma   Das maiores migrações da 
história da Humanidade. Em resumo, os tupi saíram do noroeste da Amazônia 
e andaram mais de 4 mil quilômetros para vários   Cantos da América do Sul. E isso tudo 
aconteceu em cerca de mil anos. De acordo com as pesquisas, essas populações 
estavam em franco crescimento e foram margeando   Os rios ou a costa litorânea, em busca 
de terras férteis para a agricultura. Esse fenômeno começou mais ou menos a 2 mil 
e 100 anos atrás e teria atingido o seu pico   No ano 1000 da era comum, quando a população 
tupi teria de 4 a 5 milhões de indivíduos. Antes, acreditava-se que essa onda 
migratória tinha acontecido por uma   Rota só. Os trabalhos da USP mostram que a 
expansão se iniciou no noroeste amazônico e,   Já na origem, se desmembrou 
em três ramos principais. A primeira parte seguiu até a Ilha de 
Marajó, no Pará, e desceu pela costa do   Atlântico até o litoral sul de São Paulo 
— no caminho, deu origem aos tupinambá,   Aos tupiniquim e aos tamoios, grupos 
que se tornaram os senhores da costa  

Litorânea e fizeram os primeiros 
contatos com os portugueses. Um segundo grupo foi em direção ao sul, na 
borda da Bolívia e Paraguai, e deu origem   Aos Guarani. O terceiro seguiu para o oeste, 
na região da fronteira entre Brasil e Peru. A professora Tábita classifica esse 
feito como notável, já que falamos   De uma sociedade que não tinha acesso a 
metalurgia ou exércitos organizados. As evidências apontam que os tupi 
se locomoveram em grupos grandes e,   Conforme encontravam outros indivíduos, 
lutavam ou desviavam o caminho. Uma evidência dessa "grande expansão 
Tupi" vem da Amazônia peruana: lá,   é possível encontrar o povo kokama, 
que há gerações fala tupi. Mas a análise do DNA de integrantes dessa 
população mostra que eles são muito mais   Semelhantes geneticamente aos chamicuro, que 
são seus vizinhos e falam a língua arawak. Ou seja, eles adotaram a língua tupi, 
mas, geneticamente, são mais próximos   De outro povo. Essa pode ter sido uma assimilação 
cultural que ocorreu a partir da expansão tupi,   E corrobora algo que já foi sugerido 
por estudos de outras áreas. A ascensão tupi foi seguida por uma 
queda vertiginosa. Um pouco antes   Da chegada dos portugueses, essa 
população entrou em declínio. Ainda não se sabe muito bem os motivos 
disso — as principais suspeitas são mudanças   Climáticas ou uma tensão populacional 
por recursos cada vez mais escassos. E a professora Tábita lembra que, quando os 
europeus chegaram no Brasil, então, acontece   Um desastre. A partir dali, os pesquisadores 
estimam uma redução de 98% na população tupi,   Números semelhantes ao que foi observado entre os 
povos que habitavam o México e a América Central. Vamos à quarta descoberta: os 
tupiniquim estão entre nós; O grupo da USP conseguiu restaurar por meio da 
genética a história e a origem dos tupiniquim. A Dra. Tábita me contou que essa população era 
considerada completamente desaparecida. Eles não   Faziam parte dos censos do IBGE e se considerava 
que eles tinham sumido desde o século 19. Mesmo assim, alguns moradores 
de Aracruz, no Espírito Santo,   Sempre declararam pertencer à etnia tupiniquim. A análise genética feita pelo grupo da USP mostrou 
que, de fato, os tupiniquim nunca foram extintos,   E os genes deles estão presentes 
nesses indivíduos até hoje. Com isso, os indígenas tupiniquim de 
Aracruz se juntam aos tupinambá da   Bahia e aos potiguara da Paraíba como os 
últimos remanescentes dos povos tupi que   Ocupavam o litoral na época das 
grandes navegações europeias. E pra fechar a nossa lista, a quinta 
descoberta tem a ver com saúde. O grupo da USP descobriu um gene que protege 
povos amazônicos da doença de Chagas.

Já se sabia há muitos anos que algumas 
populações originárias da Amazônia sofrem   Menos com a doença de Chagas, uma infecção causada 
pelo protozoário Trypanosoma cruzi, transmitido   Pela picada e pelo contato com as fezes do 
inseto conhecido popularmente como barbeiro. Agora, os cientistas descobriram que 
a genética está entre as possíveis   Explicações para esse fenômeno: as 
populações que habitam a região há   Milênios passaram por adaptações 
no DNA que permitem "barrar" com   Mais eficiência a entrada do patógeno nas 
células onde o problema se desenvolve. Essa pesquisa descreve o primeiro exemplo nas   Américas de seleção natural influenciada 
por um patógeno entre seres humanos. No mundo, o fenômeno só havia sido observado 
em outras quatro circunstâncias. A mais famosa delas envolve a resistência à 
malária entre algumas populações africanas — que,   Por causa dessa mesma adaptação genética, 
são mais propensas a desenvolver a anemia   Falciforme, uma doença que afeta 
as células vermelhas do sangue. Segundo a geneticista, a adaptação genética à 
doença de Chagas começou há cerca de 7 mil e 500   Anos, ao longo das ondas migratórias que vieram 
da América Central e povoaram a América do Sul. A descoberta de todos esses mecanismos 
biológicos renova as perspectivas de   Tratamentos modernos contra a 
doença de Chagas no futuro. É claro que as pesquisas sobre a genética e a 
origem dos povos indígenas brasileiros estão   Apenas começando — e devem trazer muitas 
outras novidades nos próximos anos. Eu continuo acompanhando esses trabalhos e 
te conto as novidades conforme elas forem   Publicadas. Não esqueça de curtir esse vídeo e 
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a gente publica. Um abraço e até a próxima.

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