4 pontos para entender protestos inéditos na China
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4 pontos para entender protestos inéditos na China

Por que folhas de papel em branco estão sendo 
vistas como uma ameaça ao governo chinês? Viraram símbolo de protestos que 
estão acontecendo em grandes cidades,   Como Xangai e Pequim. Em um país que 
prende quem critica o governo abertamente. Eu sou Adriano Brito, da BBC News Brasil, e 
te explico o que está acontecendo em 4 pontos. Os protestos são a reação da população 
a um incêndio na cidade de Urumqi.   Segundo as autoridades, dez pessoas 
morreram num prédio residencial. Só que os 4 milhões de habitantes de Urumqi 
estavam desde agosto impedidos de circular   Livremente por causa das restrições 
oficiais para conter o avanço da covid. Um morador disse à BBC que as 
pessoas do prédio incendiado   Não podiam sair de casa na maior parte do dia. A imprensa estatal chinesa 
contestou essa informação,   Mas mais tarde as autoridades de 
Urumqi pediram desculpas pelo ocorrido. Bom, tudo isso serviu de gatilho para   Que manifestações eclodissem 
em várias cidades chinesas. Vale lembrar que a insatisfação de parcela 
da população com a política de zero covid   Já dura meses. Em setembro, as autoridades não 
permitiram que habitantes de Chengdu saíssem   De suas casas durante um 
terremoto que deixou 65 mortos. E talvez você se lembre das cenas da rígida 
quarentena imposta em setembro em Xangai,   Quando 10 milhões de pessoas foram confinadas   E algumas disseram que passaram dias 
sem conseguir comida ou medicamentos. Houve relatos também de pessoas doentes   Que não conseguiram atendimento 
médico durante essa quarentena. E o que explica a rigidez 
da política de zero covid? Essa medida implementada pelo governo de Xi 
Jinping tem colocado milhões de pessoas em   Quarentenas intermitentes nos últimos três anos. O objetivo é conter surtos de covid que possam 
ser fatais para a população mais vulnerável. Mas, apesar de todas as restrições, a 
China registrou no final de novembro   O maior número de casos diários de 
covid desde o início da pandemia. Segundo analistas ouvidos pela BBC, há 
dois fatores por trás disso: primeiro,   O governo chinês decidiu não importar 
vacinas, então tem contado apenas com as   Produzidas no país. Só que elas não são 
tão efetivas contra a variante Ômicron. Segundo, a taxa de vacinação entre 
os idosos continua sendo muito baixa. Bom, na prática, o governo chinês tem 
lidado com surtos de covid impondo   Quarentenas em locais que detectem casos 
positivos de covid, mesmo que sejam poucos.

Nas áreas de lockdown, escolas, comércios e 
locais de trabalho são fechados – com exceção   Dos supermercados. Essas restrições 
vigoram até que não haja novos casos. Quando estão sob essas restrições, as 
pessoas têm de fazer teste de covid antes   De sair à rua ou ir a um restaurante, 
por exemplo. Se o teste der positivo,   A pessoa tem que se isolar ou é levada para 
um alojamento de quarentena do governo. Cada pessoa tem um QR code que funciona num 
sistema de cores: a cor verde indica que ela   Pode seguir com a vida normal. Se ela não 
conseguir obter o código verde, com testes   Negativos de covid, não vai poder usar transporte 
público ou frequentar lojas, por exemplo. É uma realidade tão diferente do que vive o resto 
do mundo que há relatos de que a emissora estatal   Chinesa tem editado cenas da Copa do Mundo que 
mostrem aglomerações de pessoas sem máscara. A política de zero covid foi elogiada no início   Da pandemia porque impediu que a 
China, com sua enorme população,   Registrasse altos índices de covid quando a 
vacinação ainda era inexistente ou escassa. Mas três   Anos depois, as restrições causam exaustão 
e impactos negativos sociais e econômicos. Fábricas de marcas como Apple 
e Tesla foram afetadas pelas   Quarentenas e pela necessidade de testes em massa. E o mundo também sente os efeitos de 
uma economia chinesa desacelerando. As manifestações atuais têm usado 
folhas em branco como símbolo porque,   Embora protestar seja permitido na China, as 
críticas diretas ao governo são censuradas. E mesmo que a polícia tenha, de modo 
geral, liberado as manifestações,   A BBC presenciou ao menos três pessoas 
presas durante os atos em Xangai. O cinegrafista da BBC Edward Lawrence foi detido   E agredido durante a cobertura dos 
protestos. Mais tarde, foi liberado. No momento, o governo tem respondido aos protestos   Dizendo que vai relaxar as 
restrições em algumas áreas. Fora isso, muitos tinham a expectativa de 
que Xi Jinping fosse anunciar mudanças na   Política durante o Congresso do 
Partido Comunista, em outubro,   Mas a sinalização foi no sentido contrário. Isso porque Xi nomeou como seu número 2 
Li Qiang, justamente o responsável pelo   Rígido confinamento feito 
em Xangai no mês anterior. Sobre a tragédia em Urumqi que 
desencadeia os protestos atuais,   O porta-voz do Ministério de Relações 
Exteriores disse, entre aspas,   Que “forças com motivos ocultos tentam ligar 
o incêndio com a resposta local à covid"

Pra concluir, por que esses protestos 
são um desafio inédito pro governo atual? O correspondente da BBC na China Stephen McDonnell 
diz que, para uma organização política cuja   Prioridade é permanecer no poder, não há desafio 
maior do que escutar gritos de ‘fora Xi Jinping”. O jornalista acha que o governo subestimou   Drasticamente o descontentamento 
popular com a política de zero covid. E essa política está intrinsicamente ligada ao 
governo Xi – afinal, esse é uma das principais   Marcas políticas do presidente nos últimos anos, 
e ele não dá sinais de que pretende abandoná-la. Como explica o correspondente da BBC, outro 
problema é que, nos últimos anos, em vez de   A China se preparar para reabrir como o resto do 
mundo, construir mais unidades de UTI ou investir   Na conscientização sobre a vacinação, o país focou 
seus esforços e recursos em testagens em massa,   Unidades de quarentena e em zerar um vírus 
que, por enquanto, não tem planos de ir embora. Por hoje é só, mas tem mais vídeo da 
nossa cobertura internacional no YouTube,   Nas redes sociais e em bbcbrasil.com. Obrigado!

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